domingo, 8 de dezembro de 2019

Gina, numa relação com o supermercado.

Ai ó pá sei lá eu se o carro vai pegar... Pegou. Às vezes, aquando do frio e de vários dias sem o motor trabalhar, lá se lembra o dito de me dizer 'hoje não'. Mas hoje sim. Lindo menino. Mas o melhor é ficar um poucochinho a aquecer.

A grande novidade, à entrada do supermercado, é que as luzinhas das escadas rolantes estão apagadas, mas os fins – ou princípios – ostentam fitas e bolas. De Natal. É do Natal que estou a falar agora. Há também lojas decoradas com a bonecada de Natal. Do Natal. Ai.

Não sei como é com a outra gente mas a mim acontece já ter uma catrefada de coisas no carrinho e nada do que lá está constar na lista de faltas. Aliás, até me lembrar desta questiúncula ainda nem sequer tinha olhado para a lista que tão aprimoradamente construí. Aprimoradamente... Não, não está bem, se há coisa que não há no fazer desta lista é primor.

Comprei frango, para comer carne. Carne de frango ainda desce, agora de porco: nem cheirá-la, de vaca: nem pensar nela, pronto, como frango, vá.

Toda a gente sabe que o segredo para conseguirmos as embalagens mais jovens é retirar as mais à mão e trazer as menos ao pé. Isto confiando no esmero de quem arruma as prateleiras, claro. Trouxe a embalagem de cogumelos parisienses que estavam o mais longe do longe.

De repente vi-me defronte de uma senhora debruçada sobre algo e notei-lhe a costura de trás das calças a esgaçar. De nada, ora essa.
De repente uma senhora comentou comigo que andava à procura do 'homem', que o tinha perdido, que ele é baixinho mas gordinho e que, portanto, há razões para se ver bem. De nada, ora essa.

Na caixa calhou-me a senhora mais simpática de todas – Julia Roberts nem vê-la, há-de estar de folga ou assim – passa as compras por géneros e, ou, temperaturas e, ou, humidades. Trata-me até por amor. Desvendou-me as ideias que tem para a Consoada. Alvitro que se terá lembrado disso por ter visto as asinhas de frango no tapete. Afirmo, agora afirmo, que nessa noite especial esta senhora idealiza apresentar aos seus familiares um lombo de porco feito à moda de Wellington, com massa folhada. Afirmo também que ela me perguntou se eu sabia se era bom e eu que sim! muito bom! fiz o ano passado! e só lhe digo! que maravilha! Quero dizer, foi mais ou menos assim, à parte o entusiasmo que coloquei exageradamente no que estou a escrever, não me pus para ali aos berros e a saltar, acresce que não fui que eu fiz a chicha à Wellington, foi o Luís. Mas essa chicha é montes de boa. Façam. E nem dá assim tanto trabalho, principalmente se optarem por comprar a massa folhada.

Sabem o que é que faço sempre - mas sempre – ao chegar ao carro? É abrir a porta do condutor e voltar a fechá-la, dar-lhe a volta, abrir-lhe então a porta do pendura e depositar aí as compras. Sim, as compras viajam até casa bem junto desta que escreve. Sim, abro primeiro a porta do condutor porque, em passando trinta segundos, ou lá que é, o burro volta a fechar-se, e eu levo um ror de tempo a dar-lhe a volta, jamais daria tempo, né? Já a porta da mala, de perra que está, diz-me sempre: Ó Gina não m' abras, não m' abras! Mas eu abro. Pus lá o frascão de amaciador para roupa.

No silêncio do interior do burro, ao depois de estacioná-lo, que mais vos queria dizer?
Que não me apetece subir aquela escadaria com um sacalhão em cada mão, cheios, pesados.
Que não me apetece arrumar as compras.

No silêncio da rua em descanso, já carregada com os sacalhões, uma vizinha avistou-me antes de eu a avistar a ela e ouvi-a dizer:
'Ah muito bem muito bem, assim cedinho é que é. Eu já vou apanhar muita gente!'
Quem sabe esta vizinha durma, não melhor do que eu, mas, o que não dorme, isto se não dormir, durma já sobre a manhã. Sim, está confuso, eu sei, eu sou confusa, 'migos, como não escrever confusamente coisas confusas?

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