terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Segunda-feira à Terça-feira

Intromissão admissível:
Este post devia ter sido escrito e publicado ontem, que é de ontem, segunda-feira, mas jogo-me hoje, terça-feira, a isso.

Fui fazer recados em modo estaminé e esqueci-me do bloquinho rudimentar. Então vai que me lembrei de falar para o telefone, gravando num áudio o que apontaria em papelinhos. Ora bem, ter áudios como se de rascunhos se tratasse (digo isto porque esta não é vez primeira, já por aí existem alguns posts que foram, antes de mais, um áudio) faz com que tenha (ainda!) mais coisinhazinhas para inchar o blogue. Ele é o bloquinho rudimentar, ele é o meu caderno de linhas, ele é o ficheiro no computador, ele é o bloco de notas do telefone e ele é, pois com certeza, o blogue. Acrescentei, portanto, os áudios. E agora perguntam vocês:
Ó Gina, ias fazendo aquela figura estranha, o telefone na horizontal, apontando o microfone para a boca?
Que eu respondo:
Ia. Não é uma das corriqueirices de agora? É. Não passou já a normalidade? Passou. Pode até fazer de conta que estou a falar com alguém, e na verdade estou – comigo.

Indo em missão de depositária, chegada ao Banco vi o fato de senhor que estava a atender e pareceu-me ser de cotim, e cotim, segundo o que recordo dos comentários que ouvia da minha mãe, é um tecido de uma cor azul, que não é azul escuro nem turqueza, é um azul forte, encorpado, aquele azul que usualmente se designa por azulão, e o tecido é de qualidade reduzida, como sendo a sopa dos pobres, ou tipo um sucedâneo, vá. Portanto, longe de mim estar a desfazer na escolha de vestuário do dito senhor, a verdade é que, fazendo-me lembrar o que faz, não abona o seu gosto, não.
Entretanto, para desanuviar a má imagem que possa estar a criar deste senhor, que ressalvo: é simpatiquíssimo, fui pesquisar o cotim, e percebi que é um tipo de tecido muito usado em fardas. Portanto não será de má qualidade, presumo, e assim continuo em suposições, mas antes algo do género 'forte e feio'. Ah, e pode existir noutras cores, qual azulão, qual quê.

A praça mai linda de Lisboa está em obras que, presumo e continuo portanto a presumir, seja para deitar vias cicláveis. Isto quer dizer, também, que as faixas de rodagem passaram de duas para uma e o alcatrão foi removido de alguns pontos e, assim, ai tão bom, vírgulas, vírgulas, o que é que se passa comigo? hoje estou a gostar das vírgulas!, posso calcar a grossa areia que ainda está húmida das chuvas últimas, e gosto muito. Tive, também, um prazer muito grande em descobrir onde é o provisório caminho para os peões. Sei lá, às vezes gosto de desafios. Estes levantamentos vão ser benéficos para acabar com uns certos buracos que o alcatrão tinha e que, aquando das chuvas, certos pneus caíam lá dentro e salpicavam pessoas que, assim, passavam a desgraçadamente molhadas. Claro que com a carrada de anos de prática que tenho em me desviar da rota dos salpicos, poucas vezes fui uma dessas desgraçadas e molhadas pessoas.

Parei junto da árvore amarela e seu cotovelo peculiar, que na verdade são dois, bonitos, mas um é mais convencido e realmente convence-me que é mais. Sendo este mais o que for, sei lá eu, é mais, pronto.
Aquelas folhas castanhas que no outro dia publiquei no blogue, indagando se seriam do ano passado ou, quiçá, de outra mais atrás, desarreigaram-se dos ramos, sumiram, não estão lá. Mesmo.

Já quando ia para cima tinha visto um órgão deitado na relva de um dos canteiros da avenida. É um aparelho pequeno, com ar de obsoleto, tanto que para ali está, né? Mas, ainda assim, as pessoas passam e miram, como eu. Duas senhoras que conheço bem, são porteiras, cada uma de sua porta, estavam deveras interessadas no objecto para ali jogado. Uma apoiava o pé nas teclas, a ver se saía som, mas não saía, e a outra apurava o ouvido, meio que encurvada, a ver se saía som, mas não saía. E não saíu.

Cheguei ao descampado, que é um lugar onde há muita gente. Muitas pessoas. Muita gente. Pessoas. Folhas. Bocados de plástico (vulgo lixo). Há também autocarros. Muitos. Por um terminal rodoviário ser.

«Com licença, ai desculpe lá 'migo, eu pôr-me à sua frente»
Um rapaz estava a tirar uma sefie, actividade ultra exposta, contudo ultra devota - digo: do ego - e eu a passar à frente da sua lente. Ai. Ainda lhe aparece esta carufa nos arquivos.

Perguntei-me se jogaria o áudio no lixo. Um áudio, no meu caso, é assim: começo a falar meio que titubeante mas, se o discurso se me estende, ganho à-vontade e a coisa fica espontânea e até feliz.

Quando a tarefa barra passeio estava no fim, passei ao lado da porta do velho estaminé (que por ora não se abre muitas vezes e mantém ainda jornais nos vidros) e lembrei-me que dantes eu chamava a esta rua 'a rua mais feia de Lisboa'. Mas notem bem: esta rua já não é feia, é bonita.

Este é o último item e não constava no áudio já tão visado ao longo do post. Ontem ventou muito em Lisboa e eu notei as lojas da avenida cheias de folhas, precisamente à conta do vento desgovernado que estava. Mas isso foi coisa que não aconteceu só na avenida, o estaminé desta que escreve também se encheu. E encherá o resto do mês, não duvido. O vento era tanto que à saída o meu colega aconselhou-me a levar dentro de um dos bolsos aquele bloco de ferro que a gente usa como batente para as chaves, não vá eu levantar voo, de levezinha que estou e mais não sei o quê. Vou pesar o bloco. Já pesei, pesa dois mil e quinhentos gramas. Sempre era uma ajuda. Digo era porque não fui atrás do conselho dele.

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