sábado, 19 de setembro de 2020

Conversa de cemitério

A vegetação amarela está em primeiro plano. O plano de fundo são ciprestes que pertencem ao cemitério. Achei o conjunto harmonioso, embora não saiba traduzir esta harmonia. Um cemitério é sobretudo um lugar misterioso, talvez venha daí este não-saber traduzir a beleza que vi na junção de distâncias, na sobreposição de cores. Quiçá tema estragar a dita harmonia se me puser para aqui com macacadas tolas (as macacadas são todas tolas, continuo a gostar muito de redundâncias). Não tenho muitas partes com aquele cemitério. Quem lá está, que eu saiba, é o Paulinho, o bebé, o Ti Menezes, o escritor, talvez a Ti Leonarda, talvez o Calisto. Ou o Malhão. Nesse lugar onde tive a visão cheirava a fim de tarde de fim de Verão. Incrivelmente, ali é uma das margens de um riacho, que, por alturas do calor, vai seco. Mas a margem é alta, se quiser aceder ao leito seco tenho um percurso demasiado íngreme para fazer, e não quero. Do outro lado, mais à esquerda, há uma figueira, à direita uma nora. Ou o que resta dela. Não longe há uma casa enorme, bonita, bem tratada. Há também um prado onde um rebanho se alimenta todos os dias. Esse posso eu ver da minha varanda. Ficamos então com este retrato: rebanho à solta num prado verdejante, balir de ovelhas e tilintar de chocalhos. Sempre é mais bonito do que uma tola conversa de cemitério.

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