sábado, 6 de novembro de 2021

Por falar em

Por falar em transportes lisboetas, no outro dia passei na estrada ao pé da casa onde moraram as minhas tias e a minha avó. Quando era miúda e ia lá de visita, para passar o tempo instalava-me na comprida varanda a ver se arranjava o que fazer. Só que não arranjava. Então, um dia percebi que o que avistava da varanda era muito porque, não só via a paragem como percebia que vinha lá o autocarro bem antes de os passageiros sequer o ouvirem. O que se avistava da dita varanda era todo um conjunto de curvas e contracurvas, bem como, claro está, a paragem, e, presumo, o som era abafado precisamente por esse conjunto, contudo, se eu gritasse algo, tudo o que era gente à espera do autocarro ouviria, uma vez que não havia espécie alguma de barreiras. Pá, e ouvia, tanto ouvia que eu gritava o aviso «Ó! Vem aí o autocarro!»
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As pessoas, umas levantavam-se do banquinho, outras espreitavam, e todas, mas todas, se punham em sentido, aguardando quase em pose militar que o autocarro se deixasse ver.
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Só que não deixava, por mor de, na realidade, não vir lá porra de autocarro nenhum. Sim sim, achavam que isto é só mesuras e bom comportamento por parte desta que escreve, não? Pois não. Havia pessoas que desistiam logo e voltavam à expectativa anterior e, uma ou outra, levantava os braços em sinal de protesto. Nunca ninguém me mandou ir mas é dar uma volta, talvez por eu ser uma criança, ou coisa assim... Ou então simplesmente porque não me conseguiam ver. Ah, e não, isto não foi vez única, repeti a graçola umas poucas de vezes.

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