sábado, 6 de junho de 2020

Desconchavo

Gosto de encontrar legumes e frutos desconchavados porque me identifico com esse estar e ser. Desarmoniosos. Aberrantes. Porém, servem o mesmíssimo propósito.
Há peles levantadas no polegar. Levantaram-se porque supus que o já dito polegar estava mais longe do raspador do que a casca do limão.


Quimera




Ulha! O cesta da gávea! Pois, pois, era a quimera, era. E eu na utopia e na utopia, era só o que me ocorria. Nada disso. Dantes tinha uma série de lugares lisboetas, lugares de poleiro e, ou, de poderio, com os quais sonhava abundantemente, visitá-los-ia num futuro, longe ou perto, pouco me importava, e mais não sei o quê. Descobri o post, datado de 30 de Maio de há quatro anos, do qual transcrevo parte:


O setenta e dois e o trinta e nove da avenida são oponentes. Um deles é quimera para mim, o outro não. No que deixou de ser quimera, deixou de o ser quando estive lá em cima mirando a cidade (de longe) e as copas das árvores da avenida (pertinho, pertinho).
Posso tirar fotografias, perguntei eu à cliente.
Pode. Tire as fotografias que quiser!
(...)
Isto das quimeras são também desejos antigos, ai eu quero ir lá acima, ai eu quero ver como é de cima para baixo porque de baixo para cima já conheço, ai eu quero atirar-me dali e esborrachar-me no chão. Pumba, acabava-se-me a tristeza. É a esperança apoiada na tragédia. Pois.


nota:
nem o setenta e dois nem o trinta e nove são os números da torre com o cesto da gávea

Claras em castelo

Tenho a registar uma receita espectacular, que o é tanto pelo sabor como pelo facto de ser mesmo boa naquilo de aproveitar claras sobrantes. Como sabem, e se não sabem não faz mal, eu gosto de vocês na mesma, as claras transportam consigo a culpa de sobrarem. É um problema, pá, mas que grande problema que elas para ali têm, oh. Há porém almas boas e, essas, intentam na demanda de lhes arranjar sentido à vida. Ou à sobra, esse jugo. Ah, e é um bolo, tinha masquecido de dizer. Eis a receita, que copiei parcialmente daqui:


Bolo de Claras

- 6 claras
- 250 ml leite
- 1 c. sopa baunilha
- 1 c. sopa fermento
- 450 gr farinha
- 200 gr manteiga
- 350 gr açúcar

Bata as claras em castelo
Aqueça o leite com a baunilha e misture o fermento com a farinha
Bata a manteiga com o açúcar
Junte a farinha com o fermento e o leite com a baunilha alternadamente
Envolva as claras encasteladas
Deite em forma untada e enfarinhada
Coza em forno pré aquecido a 180ºC durante uns 40 minutos

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Graminhas para o lanchinho

Oitocentos e noventa gramas de tomate
Oitocentos e dez gramas de cebola
Duzentos e quarenta gramas de alho
Duzentos e quarenta e cinco gramas de pepino
Trezentos e sessenta gramas de morango

Resolvi colocar o singular nos itens. Acerca dos morangos – resolvi colocar o plural em morango – partilhei-os com o meu colega. Ele não gosta lá muito de sabores ácidos e os morangos têm-no, de maneiras que fiz assim: aqueles aos quais, extraindo o pedúnculo, aquele conezinho interior lhe viesse agarrado, eram, obviamente, os mais doces. Esses, ofereci-lhos todos. Não foram tantos quanto isso, nem sequer chegou a metade, mas pronto, penso que a generosidade desta que escreve não deve, neste preciso caso, ser medida por aí.

Musicalidade

Contrariando o costume das últimas semanas, liguei o rádio. Entretanto, por a aparelhagem ter sido recentemente introduzida no estaminé , não tinha ainda percebido que para alterar o volume de som basta rodar um botão. Sério. Fiquei até contente com a descoberta. Rodar um botão, vejam lá. Só. Pá esquerda tira o volume de som, pá direita põe-lho. Ilação: a música produz em mim uma certa melancolia. Ainda. Põe-me triste, pronto, em bruto é assim que assimilo. Atrás, o que quis foi eufemizar a questão. A foto abaixo é um filtro bonito e feio e poético e queixoso, como este post.


Rabiscos

Pensar que eram treze e tal e afinal serem catorze e picos fez-me pensar que errei por pouco. Em casos destes há errar em quantidade – pouco, muito, assim-assim e afora. Estive sentada no muro de pedra, à ponta, o mais perto possível do mais grosso plátano que conheço em Lisboa.

Antes que me esqueça,
deixo já escrito que,
pois claro,
Fico contente, sei lá eu o que aconteceu realmente mas fico na mesma, e, como tal, posso pensar que aconteceu alguém ver o livro, levá-lo e, se não lê-lo para já, ai a porra das vírgulas, que seja para depois. Posso imaginar assim.

Na outra ponta do muro estava um homem sentado. Quando me cruzei com ele havia-o notado estranhamente quieto. No momento de rabiscar estas circunstâncias no meu caderno, acordei comigo mesma que às tantas ele estava a observar a área ou a meditar. Mas, estando nesta última, o pobre estaria com dificuldade nisso, ao momento havia um buzinão pelas imediações.

Guardei o caderno e a caneta e levantei-me. Olhei para o homem e vi que escrevia num caderno de capa preta. Hum, afinal, ó:
«no mais comum dos meus dias de grafomania está uma espécie de desespero pela falta de gente parecida comigo»
Era canhoto.

Quando era criança queria ser canhota porque achava o máximo obterem-se os mesmos resultados com a mão contrária. E era precisamente por eu não conseguir obtê-los que achava o máximo os canhotos conseguirem.

a minoria vai entender que gosto de ler

quinta-feira, 4 de junho de 2020

São três

Joguei no lixo três papéis:

1. o círculo com o mapa-mundi desenhado
2. a flor em papel branco sem desenho nenhum
3. o peixinho em forma de mini-bloco

O círculo e a flor não me lembro de onde vieram, o mini-bloco veio das mãos da Carminho, há anos. É certo que ainda restavam três ou quatro folhinhas no lboco... - ulha! atã nã é que tamãe troco as letrinha ao bloco?! - ... ai perdão, bloco mas pronto, cansei-me de o ver para ali exposto, desconhecedor de o estar.

By airplane

Descobri que os envelopes de enviar por avião, aqueles do antigamente, têm um desenho que junta wheels a wings. Oh, so so cute.


OWZ, online With Zoom

Uma das praticantes de Body Balance está grávida. Como há posições, digamos que, menos fáceis para ela, a professora orienta:
'Vitória, tu fazes aqui, ó, só assim';
'Vitória, este, a tua barriga já não permite, fazes assim, ó'
Em outro dia, outra aula, óbvio, à despedida a professora disse que se notava que me tinha esforçado bastante, até o penteado mudara. Depois, já livre de Zoom's e de lentes que não abonam a beleza, fui ver-me ao espelho. E sim, estava com um ar deveras amalucado.

Em Mobilidade, no fim da aula, o professor convenceu-me(nos?) que aqueles exercícios são muito bons para a vida quotidiana. Percebi a subtileza. A aula foi chata em termos de repetições, cada nova entrada parecia mais do mesmo.

Na última aula de Pilates eu era a única praticante. Portanto todas as correções foram para mim. E também os elogios. 
Acerca de ser eu a única:
Pronto, era segunda-feira, os horários versus as modalidades tinham saído umas trinta horas antes nas redes sociais, nem toda a gente as visita e blás e mais blás.

Solidariedade

Muito solidária fiquei eu por ter ouvido a queixa de um cliente: «ah, isto (a mascaralha) é uma chatice para a gente se ouvir, ainda por cima embacia as lentes dos óculos». E eu: «pois é» porque bem sei desses sofrimentos atrozes.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

8200

Deixo trecho do livro ('Sem Medo', Rita Delgado) que hoje abandonei em cima do muro de pedra. Há dias notei que o livro me aguardava no estaminé, mantinha-o apoiado num depósito de papelada, para ali estava, esperando-me, e abri-o ao calhas. Calhou aqui:


O sol desaparece e entra uma brisa nocturna. Maria do Ó vai para casa, sempre em paz consigo mesma.


Mesmo tendo passado algumas semanas por sobre este 'ao calhas', agora tem tudo a ver com a hora do dia a que publico este post, é quase noite. Boa noite.

Banalidades

Pareço-me saudosa de escrever banalidades, mas não, estou saudosa de escrever banalidades sem pensar que o são, desse desprendimento é que ando arredada há dias.

escrever é a palavra mais bonita, nela tudo posso

nO mOmEntO EstAvA pArcA Em pAlAvrAs




Como anteriormente estipulei, deixei o livro (foto de cima) à mercê do destino que o acaso lhe oferecer. Ena, que frase fantástica. E eu que no anúncio fiz o que fiz. Escrevi o que escrevi, quero eu dizer (foto de baixo).
O local de espera foi o muro de pedra, bem junto ao mais grosso plátano que conheço em Lisboa e defronte da planta à janela. Antes de lá chegar avistei um carro de recolha de lixo urbano. Pensei:
Olha, se tenho vindo mais cedo estes senhores levavam o livro como sendo lixo.
Mas e depois, né? Há quem recolha lixo do lixo por não considerá-lo. Que linda frase. Outra vez. E outra. Enfim, hoje estou esta maravilha. Encontro-me até amiguinha dos parágrafos.
Os senhores acabaram por retirar o entulho antes de eu chegar ao lugar que decidira que seria o do poiso do livro.
Enquanto preparava o cenário (ambas as fotos) aproximou-se um casal com dois filhos, uma a pé e um bebé no carrinho. A menina perguntou à mãe se podiam jogar futebol ali. O 'ali' é o pedaço de relva onde estão assentes alguns plátanos. A mãe anuiu, então jogaram os dois, pai e filha. Pensei:
Olha, agora deixo ficar o aparato – leia-se livro – e ainda algum deles me faz um psst! psst! a julgar que esqueci o livro.
Mas não.

8197

Um homem saiu do escritório e estendeu o braço na horizontal. Quanto mais horizontal, melhor, presumo, que é para captar bem bem bem se está a chover, ou então não.

Duas manas. Que não são as manas picoas, que é lá isso, quase podem ser suas filhas, pois se de entre os setentas e os noventas vão vintes, está claro que podem.
Uma destas manas veste-se de forma espalhafatosa e conduz um carro de alta cilindrada, robusto e velho. E verde seco, na cor. A outra é a outra. Sabe-se o que é ser a outra, se de duas manas se fala, não se sabe? Então pronto, é isso.

O vizinho do restaurante veio pendurar a placa onde escreveu o menu do dia. E eu 'olá vizinho' e ele 'olá Gina'.
Que retiramos daqui?
Retiramos que ele sabe como me chamo, porém, não se retira que sei o nome dele, mas sei.

Camisola verde-alface com mala a tiracolo. Como é escura, a mala, percebe-se bem. Podia ser uma mochila ou uma mala de apoiar no ombro ou então uma de levar na mão. Não se leva mala em mais nenhum lado do corpo, hum-hum, mas esta mulher está a fazer parte dos meus registos por conta do contraste.

A cliente queria um interruptor. Temos, sim senhora. E vai de candeeiro, e vai de pé, e vai de lustre, e vai de escada, e vai de máquina. Tinha uma t-shirt preta com um puma desenhado em contornos cor-de-laranja. Foi também aparição com contrastes vivos, como a anterior referência.

O cliente pagou em moedas de dez cêntimos. Não muitas. No fim da transação perguntou 'tá mania?' Quereis saber o que isto significa, bem sei que quereis – era a perguntar se o meu colega estará cá amanhã. Era, era. E estará ou não, sei lá eu, acaso se manda no futuro?

As sabrinas são uma demoníaca forma de ser calçado. Ninguém anda bem com aquilo, só sendo muito jovem, como a mulher que passou agorinha. Mesmo assim já leva os tornozelos a quererem roçar o solo, tal o nada de apoio que as sabrinas lhe dão.

Ao passar pela entrada do Banco do meu costume vi a longa fila, por ora as pessoas esperam cá fora. Uma dessa pessoas, uma mulher idosa, apanhava algo do chão. Dobrada que estava, notei que tinha o fecho da saia descido, o que deixava ver a sua roupa interior. Quando me deparo com situações destas não sou afoita o suficiente para ir ter com a pessoa e dizer-lhe o que se passa. Sinto aquela vergonha alheia, que é a vergonha mais estúpida que há, por que raio me hei-de envergonhar com uma situação que não provoquei ou tampouco estou a protagonizar? Continuei a minha passada, não sem ter percebido que um homem ainda jovem sofria, também ele, desse tipo de vergonha – ai q' horror, o cu d'uma velha! - dizia, também, o olhar dele.
À vinda passei pela mesma fila. Quis o destino que eu presenciasse uma cena - um encaixe da vida, um puzzle a compor-se. Quiçá o destino saiba que tenho um blogue, por isso me colocou ali e naquele momento. É que, notem bem, raríssimas são as vezes em que, neste género de voltinhas Lisboa afora, faça a ida e a vinda pelas mesmas ruas. Mas a cena. Uma mulher, não padecendo de vergonha alheia, avisava a mulher idosa do fecho descido. Ainda vi o 'oh!' na cara desta mas não vi nada na cara daquela porque se encontrava de costas para mim.

No primeiro banco que encontra quem desce a rua mais bonita de Lisboa estava uma mulher sentada de lado e a cabeça apoiada numa mão. Tinha o cabelo apanhado em modo 'banana'. Estava luzidio. Era bonito, o tom, castanho não escuro e mesclado com outra cor qualquer.

Passam muitas pessoas de máscara assente na cara e muitas pessoas a falar ao telemóvel. Mas uma coisa de cada vez, porque o roufenho que as ligações telefónicas proporcionam e o que as máscaras abafam o som das vozes, é coisas do camandro. Portanto: ambos, piora consideravelmente a comunicação, fá-la lenta. Conselho: é escolherem uma, ou outro. Notazinha: não me apeteceu escrever mascaralha.

domingo, 31 de maio de 2020

Laura Ingalls

Aquando de passeio, bicho-cão desce ravina qual Laura Ingalls em sete anos de vida (autora de este blogue hesita se não serão menos dois ou três... com menina assaz pequena, hum), em genérico primeiro de todos de Little House on the Prairie. Altas ervas cobrem todo bicho-cão, autora de este blogue mal vê-o, não era contraste em cores de pêlo e de ditas ervas e não perceberia-se.

Vai

Quando sentires que não sabes o que hás-de fazer vai buscar o pragmatismo. Está sempre certo, esse bicho, até aborrece.