terça-feira, 16 de julho de 2019

Baú


Sonhei que subia uma ladeira forrada a plástico preto, sujo e enlameado, daí o esforço grande que tive de fazer para atingir o cimo. Lá chegada, vi uma casa com um quintal onde se movimentavam livremente cães e galinhas e uma mulher de cara fechada, que estendia a roupa. Perguntei-lhe se podia cortar caminho pelo seu quintal e ela insistiu que o cortasse antes pelo interior da sua casa. E sorriu. E aceitei. E íamos falando.
E agora punha uma chávena de café quentinho e saborosas bolachinhas de manteiga neste sonho, um sofá coçado e um televisor antigo (desligado) em cima do móvel da máquina da costura (recolhida), jarras de porcelana de refugo e poeirentas flores de plástico, mas depois do 'e íamos falando' não me lembro de mais nada. E, a bem dizer, este parágrafo sonhei-o acordada.
|17 Março 2017|


Sonhei que ela encontrou uma placa com um texto escrito em cores garridas. O texto era meu, a mão escrevedora foi a minha. Eu morri... não, eu havia morrido... não, eu morrera e ela encontrara aquilo de mim, do nada, e como sendo um pedaço de arte admirável. Era vê-la (nos sonhos, mesmo que mortos, a gente pode ver reações) a elogiar-me a semântica e a poesia.
Como sabem, e se não sabem não faz mal, eu gosto de vocês na mesma, abomino a ideia do póstumo como sobrevalorização daquilo que se foi. O póstumo é menino para remeter tanto para o esquecimento quanto para a glória, ok, tudo bem, mas é uma completa nulidade para os mortos, que aí chegados a gente já não vê nem sente senão em sonhos. É chato.
|11 Dezembro 2017|

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