sexta-feira, 6 de abril de 2018

Era uma vez uma mulher, que sou eu, que gostava muito de escrever e que achava os seus escritos algo do tipo coisum, portanto, ao ver-se habilitada a publicar contos em coletâneas, publicou...

O primeiro conto que publiquei numa coletânea satisfez-me o ego pra caraças. Pronto, ó pá, afinal sirvo para escrever para os outros, afinal percebe-se isto meu, afinal há quem queira ler, ai que alegria tão boa de sentir. Dos seguintes já não tive nem uma pequena amostra dessa satisfação, percebi que a editora aceitava tudo, quando digo tudo, não digo bom ou mau, que isso vai de cada um, mas não havia esmero em corrigir gralhas, publicavam tal e qual como lhes era enviado, sujeitando os autores a troça e desdém. Desgostei das lides. Entretanto, durante essa fase, fui ficando com rascunhos, tópicos e assuntos. Aos montes, claro, sempre fui grafómana. Com o passar do tempo fui publicando uns e outros. Neste dia e nesta hora tenho apenas um conto inacabado. Às vezes olho para ele e percebo que não sei escrever. Vai daí, para me esquecer desse castrador pensamento (o quê, eu não sei escrever? homessa! então escrevo mas é do que não sei e acabou a conversa), publico esse rascunho tal e qual como o deixei às 17:43 do dia 19 de setembro de 2014. Não sei se alguém reverá a Gina no que vai ler de seguida:



Adoce-se a vida

Era sexta-feira e a minha cabeça fervilhava com ideias para adoçar o fim-de-semana. Vejamos: no congelador havia um resto de framboesas, podia fazer aquele bolo maravilhoso que experimentei há meses, e havia umas quantas claras de ovo, podia fazer uma pavlova e usar as framboesas para o molho que escorre por cima. Hum, não sei, se bem que a ideia da pavlova, aquele círculo doce, ligeiramente caramelizado e coberto de um líquido vermelho e brilhante me tentasse, talvez me ficasse pelo bolo de framboesas. Confecionar sobremesas é tão entusiasmante que falei alto:
– Amanhã vou fazer um bolo de framboesas tão bom...
Disse eu, sonhadoramente. Ninguém me ouviu, nada disso, a solidão em que vivo azeda-me mas eu faço bolos para adoçar a vida.
Da parte da tarde fui à mercearia aviar-me de frutas e legumes frescos. Dependuradas nos varões estavam pencas de bananas, escuras de tão maduras. Estas são as melhores bananas para fazer bolos, pensei. Tirei o bolo de framboesas da cabeça e decidi naquele momento que faria lindos queques de banana e caramelo, a que juntaria umas avelãs. As bananas assim tão madurinhas são muito doces e dão um sabor imenso à massa, o praliné de avelãs é um tudo-nada trabalhoso mas faz-se. Estes queques são divinais, vale a pena cada passo, mesmo que longe da simplicidade.
Primeiro o praliné.
Larguei as avelãs dentro da frigideira e deixei-as aquecer tanto que a pele se lhes estalou. Passaram uns cinco minutos. No ar cheirava a avelãs torradas. Tudo bem, era isso que eu queria. Apaguei o lume e coloquei as quentes avelãs num pano limpo, que dobrei por sobre as ditas, esfregando-as vigorosamente. De vez em quando abria o pano e espiava, partículas de pele iam saindo, manchando o pano. Esfreguei até me cansar, ou até não sair mais pele. Agarrei nas avelãs, uma a uma, cuidadosamente, e depositei-as numa tigelinha bonita que só uso para esse fim.
Fui buscar o pote do açúcar branco e pesei cem gramas. Pus um tacho ao lume e mandei lá para dentro metade do açúcar. Esperei. O açúcar ficou dourado, mandei o resto do açúcar. Quando todo o açúcar derreteu desliguei o lume e juntei as avelãs inteiras ao caramelo. Logo de seguida despejei a mistura num canto da velha bancada de mármore e durante horas não lhe dei atenção.
Queques. Queques de banana. Queques podem ser do que eu quiser, mas estes iam ser de banana. Arranquei três bananas à penca que havia comprado, descasquei-as e esmigalhei-as num prato raso. Entretanto já estavam a bater os ovos com o açúcar, ia batê-los tanto que triplicariam de volume. Quando isso aconteceu juntei o óleo e mexi, juntei as bananas esmigalhadas e mexi novamente. Penerei a farinha, uma colher de chá de canela, uma pitada de noz moscada e uma colher de chá de fermento em pó e juntei à massa.
Papelinhos confettis, são como casquinhas de avelã pelo ar, depois de relatar a receita demonstrar a festividade que há numas cascas de avelãs, fui buscar o pano e abri a janela e atirei as casquinhas e coiso e tal……

No fim: eu estava em festa, sozinha.

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