sábado, 22 de dezembro de 2018

Telemóvel

A rica filha mandou vir das netes uma capa toda maricas para eu pôr no telemóvel. É para pôr na parte de trás do dito, quando não, como é que eu via e lia as coisas? Nesse caso era que não. Mas a capa. É transparente mas depois tem uns arabescos a imitar renda que por sua vez imita floreados. É todo um trabalho de conjunto, malta. A malta foca-se na cena e. Mas então a capa. Eu disse que era para eu! pôr no telemóvel, né? Pois que não fui que eu pus, foi a rica filha. Sinceramente, o que me é dado a ver é que ela tem saudades do seu antigo telemóvel, o qual, como presumo que saibam, é este que agora me pertence. É que ela encarregou-se de encomendar, mediante as minhas preferências, claro, e, quando a encomenda chegou, tratou logo de lhe colocar a dita capa, não sem antes limpar muito bem toda a superfície do aparelho. Com álcool. E com um carinho enorme. É apegada a coisas, como eu, a rica filha. Ai, sabem o que é, é que ser mãe de filhos que se estão a tornar Ginas é duro, principalmente se aquilo em que se estão a tornar é algo que faz sofrer. Já o rico filho tem cada característica minha mais vincada, pá… Ai.

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