quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Coisas

As pessoas são sujeitas a várias pressões, umas assim, outras daquilo, posteriormente dá-se um furo e, seja lá qual for o tipo de pressão, saem coisas. A umas pessoas dá-se umas coisas de uma maneira, a outras acontecem umas coisas de um modo. A mim calhou a fobia social. Escolhi o termo bonito, afinal de contas tudo leva a crer que uma fobia social, principalmente no meu caso, é uma grande pancada nos cornos. Quando fico verdadeiramente triste e/ou aborrecida, esse estado fica comigo, não é meu costume transpor as minhas fobias e tristezas para os outros, ou seja: encontro outra pressão. O que pode acontecer é, por exemplo, escrever no blogue, como agora. Para não se dar conta das minhas pancadas, escondo-me, não suporto - quando digo não suporto, é mesmo não suporto o que quero dizer - a ideia de estar em casa de alguém ou num recinto qualquer no meio de pessoas, principalmente quando as pessoas já assistiram a um dos meus amoques ou sabem que os tenho. Portanto tenho a minha vida social debilitada, aliás: anulada. Não existo, se afinal o mundo são as pessoas, o que me faz pensar que estou a perder a vida, o que me entristece porque me entristece não aproveitar de certo modo a vida e entristece-me que me entristeça com isso. Tenho fases em que julgo que isto tudo aconteceu – também - porque escrevo, se afinal, para escrever, é mister o isolamento e, mesmo sem querer, fui indo, fui indo, direito às profundezas da minha personalidade. Mas não, nada disso, fui sempre solitária, incapaz de grandes conversas ou convivência duradoura, nem quando criança fui muito diferente disto, o meu maior amigo era o cão, com o qual eu dava passeios ao redor da minha casa, na escola era com duas ou três meninas que convivia, um menino ou outro, poucos. Bom, na verdade recordo apenas um. E agora pergunta o atento - e paciente – leitor:
Ó Gina, mas tu tens uma profissão de contacto humano, como é que te safas?
Que eu respondo:
Não sei. Viram como a resposta saiu fácil e rápida? Na verdade não sei, sei porém que me distraio a escrever, mesmo que a muralha aqui também exista, é mais fácil transpô-la e ver o outro lado, ou, em dias menos bons, pôr-me em bicos de pés e espreitar. É através da minha profissão que conheço muitas pessoas, muitas, muitas pessoas mas somente um número pequerrucho sabe das minhas pancadas, o que me torna a vida bem mais leve. De resto não sei.

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