|em colheone, é ler cólhéóné, obrigadinha|
Aquele meu fornecedor de ovos, sabem?, voltou em força. Se já dantes vendia outras coisinhas, continua na mesma faina. Coelho. É. Diz que tinha lá um, criado à solta, grande e gordo de dar enlevo, que, chegando a hora de recolher, ele chamava: colheone, vai dormir!, ele ia, na boa, tipo cãozinho obediente. Um mimo de bicho, 'é cá um matulão! deve ser bem bom!', acrescentou. Encomendou-se então dom colheone, vindo dez dias depois, que foi sábado passado. À chicha já lá vou. Bom. Não se pode dizer que os meus olhos tenham brilhado de contentamento ao imaginar-me a mastigar um pedaço de carne que já tinha corrido livre e desimpedido quintal afora, fez-me um bocado de impressão, sim senhores, mas eu cresci com coelhos e galinhas e pombos, que eram mortos e comidos. Matá-los, não era feito na minha frente, mas era um processo, uma consequência entendida como natural, sem culpas. Lá em casa, a gente comer animais que o meu pai ou a minha mãe tivessem matado não era tido como violência ou abuso, era assim e pronto. Mas fez-me impressão mastigar e engolir um bicho acerca do qual ouvira uma história (para mim) invulgar – colheone, vai dormir! E a chicha era muitomuitomuito boa, saborosa, porém rija, precisando portanto de mais tempo na panela, questão que já o César (vou chamar-lhe assim) me alertara: 'olhe que a carne deste bicho é diferente daqueles do talho, tem que o deixar cozinhar... E deixei (deixámos) ferver um ror de tempo. Mas estava bom, o bicho, e era tão grande que uma metade deu para seis porções e a outra lá está, aguardando mais ou menos a mesma gente, faminta novamente.
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