Sonhei que estava no velho estaminé e o meu sogro me dizia com a branda voz do costume: - Ó Gina, está aqui a cair água, vê lá se na casa-de-banho está alguma torneira a pingar. Olhei para o sítio para onde ele apontava e vi uma goteira onde a parede faz um canto convexo. Apareceu uma cliente. Na vida real de quem trabalha ao balcão é plausível deixar para depois tarefas que numa primeira instância pareçam extremamente urgentes. Nos sonhos não sei, ou sei, nos sonhos é o que se quiser sonhar, e neste sonho sei que já não fui ver da torneira, talvez porque deixei para depois para dar a primazia à cliente, talvez porque me esqueci, talvez porque marimbei para o que me estava a ser pedido, ou então talvez porque quis sonhar assim. A cliente queria a cópia de uma chave, que reconheci como sendo uma A-4, código que, agora que estou acordada, não conheço.
Vi uma fileira de clientes à janela, janela essa que afinal era uma parede envidraçada. Os clientes ficavam ali enquanto esperavam ser atendidos. Havia uma ribanceira e era giro quedar-se, admirando as vistas deslumbrantes. É de notar que as pessoas ficavam de costas para o balcão, portanto: para mim (o meu sogro desaparecera do sonho).
Depois vi-me completamente sozinha no mundo e sem vontade de pedir ajuda. O sentimento do sonho era esse, o de ir buscar ajuda, mexer-me, fazer coisas e em simultâneo não queria nada disso, queria era continuar assim, sozinha. Muito embora agora, que estou acordada, este sentir seja um bocado parvo, procurar ajuda para quê e por quê, pois se não havia ninguém no mundo, quem me socorreria? E se eu queria era continuar sozinha para quê e por quê procurar pessoas?
O sítio desta parte do sonho é o troço da Rua da República, em Loures, aquele pedaço que vai da estátua à antiga mercearia do Adrião, e que é uma descida pouco acentuada. Sim, de repente já não estamos em Lisboa, no ponto exacto onde o velho estaminé se situava, estamos em Loures, onde moro actualmente e que é também a cidade 'grande' da minha infância e juventude, uma vez que morava a uns quatro ou cinco quilómetros daí.
Recebi um telefonema da minha cunhada e em som de fundo ouvia-se 'alê-alê', como se ela estive num estádio de futebol, cheio de gente, durante um jogo importante. O motivo do telefonema era a minha sogra ter sido atropelada. Estranhei a notícia, como assim atropelada se há semanas que ela não sai de casa? Enquanto a conversa decorria, com ela a explicar-me as circunstâncias do acidente, ia-se ouvindo o 'alê-alê' lá longe no telefone.
Não sei em que parte do sonho há um aluimento de terras, sei que é quando as pessoas estão em frente à grande parede envidraçada, mas estou em crer que essa imagem me aparece neste ponto, ainda que essa cena esteja lá atrás, tanto neste texto como no próprio sonho. Vai tudo por ali abaixo, por conta da tal água que pingava. Sério, as pessoas ficam soterradas, inclusive o meu sogro, há gritos e horror, eu faço o que posso para me agarrar, e quando me esforço por salvar pessoas e artigos e um sem-fim de coisas do velho estaminé, uma aflição enorme, a única coisa que consigo salvar é a minha máquina fotográfica montes de espetacular.
É claro que este sonho tem uma série de incongruências, a maior das tais é a que apresento no parágrafo acima, o certo seria o aluimento ter-se dado quando conto das pessoas a ver as vistas frente a uma enorme parede envidraçada e tal. Mas pronto, é um sonho. Que culmina no resgate da minha máquina fotográfica. Que gravou centenas de vídeos e fotografou centenas de fotografias dentro do velho estaminé. Pois. E não, não estou a exagerar no número. Sabem o que é? É que o velho estaminé já não existe mas está nos meus vídeos. Querem ver? Ó:
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