segunda-feira, 10 de abril de 2017

Primeiro
- e, afinal, também -
Último

Bom dia. São nove e cinquenta e nove.
Hoje não tirei nenhuma fotografia ao estojo metálico, lá no lugar escondido, a última foi a cinco do mês corrente.

Ao lanchinho, tive de escolher dentre duas maçãs especiais. E lindas.





Arrumei a soda cáustica e o ocre e comi a maçã com as mãos cheias dessas substâncias. Ainda não morri. Lavar as mãos antes de comer pra quê? Dizem até que nada há mais limpo que as mãos, que se auto purificam, a Natureza encarrega-se disso. Há nesta ideia uma verdade, a gente passa a vida a mexer em porcarias que nem sabe ou julga existir, e não anda a morrer por aí, para aí quê, cinquenta vezes por dia? Para aí.
A maçã que escolhi era sensaborona. Como será a outra?

Ontem andei no Barreiro, ao largo do Tejo, zanzando. Não tirei fotos. Estranhamente, não me apeteceu, e este tipo de apetite é para respeitar. Zanzei. Bom, não estando ávida, sinto-me estranha, eu não sou eu e isso assim, por outro lado acho saudável e concreto aborrecer-me do que geralmente me encanta, porque aí eu estou a ser eu, já que sou uma inconstante do caraças. Concreto. Concreto, percebem?, é concreto, é preciso e precioso, devido à inconstância.
Lá, junto ao Tejo, há umas casas de pescadores com umas vigas que as afastam da linha da água, isto em ela crescendo – marés e tempestades e isso, essas vigas estavam, quantas delas, comidas pela água, não duvido que cederão em breve em alguns pontos. Não tirei fotos. Conchas e pegadas, minhas, estas últimas. Rio calmíssimo. Burburinho da água que chegava à beirinha. Não se diz marulhar do rio. Diz. Marulhar da água que chegava à beirinha. É uma linha que não existe, afinal, a água jamais parará por modo a delineá-la por mais do que escassos nanossegundos da vida.

Não consigo pôr o bloquinho rudimentar no contentor do papel para recilcar. Também não o consigo pôr num lixo qualquer. Indiferenciados. Porque não me é indiferente. Olha o que isto me fez lembrar! Se não me é indiferente, então nem no contentor dos indiferenciados o porei. Bom, não consigo, não, sou ainda grafómana, dentro da cabeça. Passo o dia a escrever. Sério. Afinal aconteceu o quê? Tu sabes? Eu sei. O despertar da mente para a escrita rápida com os dedos abandonou-me, o esforço é grande, contudo, o escrever está cá dentro. É isso. É difícil explicar estas coisas, pá.
Geralmente safo-me melhor a escrever do que a falar, mas por ora não me é fácil esse transporte. Ou sinto que me safo melhor, é mais isso, que por vezes não se percebe porra nenhuma do que escrevo. (posta-restante: tipo assim todo este post)

Uma vez descrevi um ataque de pânico. Foi para responder a um desafio, cujo tema era o medo, então decidi-me por aí. Atualmente a sociedade está mais inteirada e consciente do flagelo depressão/ansiedade/astenia. Eu estou consciente desse ciclo, não me sendo, ainda, possível eliminar todas as partes.
Uma vez descrevi um ataque de pânico. Não se percebe nada, 'migos, mal roça o que verdadeiramente se sente. Hoje em dia já nem me lembro de frase alguma desse texto, só sei que me foquei no foco que tenho que ativar.

Boa tarde. São quinze e trinta e dois.
baxio de quianxa
ajul
roja
banco

Hoje não pus a vista em cima da árvore amarela, já lhe tenho saudades, decerto que com todo este sol estará bem diferente da última vez que a vi.
Hoje não deu para ir ver a árvore amarela. Amanhã não sei se dará. Mesmo eu tendo a certeza que dava, sei lá eu se dava na mesma. Nunca se sabe nada. O mundo não tem respostas para a gente, nem há no mundo respostas, é escusado procurar, era escusado procurá-las, mas, a bem dizer, não se faz mais nada nesta vida do que procurar coisas e preencher buracos. Já perceberam que a gente passa a vida a preencher vazios? E nem estou a falar dos amplos espaços da mente ou da alma, é mesmo buracos, coisas físicas, um cantinho lá em casa, uma prateleira que ficava tão bem ali, o jogo tetris, o passatempo palavras cruzadas, o sudoku, a construção dos prédios, os monumentos, o registo fotográfico a preencher memórias, o registo escrito, o meu, que passo a vida nisto de escrever coisas que significam altos valores para mim, antes de mais, depois, se para os outros, ou então não, é secundário, ó pá, logo se vê. Preencho, também com grande vontade e sem nenhum saber, o coração, a cabeça e o estômago. É preencher. É encher. É betumar. É calafetar. É cobrir. É forrar. É chapar. É trancar. É.

Pra si(ponto de exclamação), retorquiu ele
Está bem(ponto final), decidiu ela

Lisboa, 11 de abril de 2017; a vida é bela
Lisboa, 12 de abril de 2017; a vida é bela
Lisboa, 13 de abril de 2017; a vida é bela
Há sempre esperança. Se hoje não veio ou não a vi ou não a senti, então apoio-me no futuro, que o futuro a dará. Em 14 de abril, em 15 de abril, em 16 de abril. Para aí. Mais coisa, menos coisa; mais dia, menos dia, tudo para além d' hoje, 10.

Fui ver o latim. P' la segunda vez. Quis sabê-lo noutra hora diferente desta que agora refiro. Foi igual à vez segunda, afinal, só mais sol e menos gente, e asim sendo já não foi igual. No caminho, um homem carregava um saco de detergente com vista à roupa suja. É, os detergentes veem o sujo. Os de roupa, na roupa, os outros, nas outras matérias. O pacote do homem era xixizéle, xxl, chichiséle. Sim, chichiséle. O xixizéle é abrasileirado, o xxl é americanizado, o chichiséle é aportuguesado, que inventei eu, a portuguesa.
A terminar, deixo imagem – giríssima, pois claro – de línguas europeias, portanto nada de brasileirices ou americanices, daí lhe ter chamado 'europa sem américa'. À malta que se lembre de clicar na imagem abaixo, vai o seguinte aviso: o nome que lhe dei é 'europa sem américa'. Sem maiúsculas. Pois. Cada um com as suas liberdades, à malta dos blogues é-lhes dado escrever como quiserem.


Sem comentários:

Enviar um comentário