segunda-feira, 3 de abril de 2017

Gina, a grafómana que não escreve

Ó Gina, escreve!, ca porra pá!, escreve! (era eu a falar com eu) Bom, se por ora não digito milhares de caracteres diariamente, isso deve-se ao seguinte concreto: há cerca de um mês que estou medicada com uma substância que me tira o choro e me dá sono. Eu não sou eu. Os primeiros dias foram algo difíceis (estou a ser fofinha no 'algo'), de repente vi-me sem os implusos, os espasmos, o entusiasmo para escrever tudotudotudo no blogue. Não foi bom, eu não fiquei uma pessoa espectacular por não escrever, ademais fui perdendo coisas tão boas como a impulsividade a que me habituei e que tanto me apraz e da qual sinto uma  falta do caraças, ó pá, nem queiram saber, é como e estivesse morta mas sabendo que estou viva porque me apalpo, só por dizer que não reajo às coisas que vejo e/ou sinto e não venho logo a seguir escrevê-las, sim: exageradamente, e nem o apalpar-me me vale. É uma merda!, esta dormência é uma merda, fugi da medicação durante anos, mas como no fundo, mesmo no fundinho, quero viver, busquei ajuda. E agora não escrevo. E se não escrevo não me distraio e não me pareço viva porque não escrevo as coisas do costume e sendo assim estou mas é morta. Está bem, já não choro (estou a ser fofinha no 'não'), está bem, já não estou tão triste, está bem, a coisa parva já não cresce a cada meia hora, está bem, o bico da varanda já não me parece tão apetecível, mas eu quero escrever tão parvamente como antes porque, a bem dizer, esta não sou eu e assim é como se tivesse morrido na mesma, e isso está mal e não é pouco.
Era isto.
Era-me necessário desabafar, bem sei que ninguém tem nada a ver com a minha vida, mas um blogue não é um diário manuscrito que a gente guarda na gaveta, afinal há pessoas que leem o que escrevo, há até quem note a minha ausência, são pessoas que querem saber de mim, não só do blogue mas de mim, o que me devolve uma certa responsabilidade, e se é este o assunto que não se me abalda da cabeça, então eu que venha escrevê-lo para acabar com a conversa.
(não acabei nada, que me joguei a outras conversas, ó:)
Até hoje, quantos poemas fiz?
Um sem-número, sim, e nenhum sei de cor. É que nem o primeiro.
São todos do tempo em que me considerava apta a fazer poemas. Hoje não faço poemas, construo um tema diferentemente, encavalito as frases, isto quando não me apetece estendê-las a toda a largura do papel ou do monitor. Prosa, vá. Ou o delinear e o apurar de um assunto na horizontalidade. Ou assentar tijolo. Construir. É construir, acho o verbo muito de acordo com a minha essência. E aquilo da horizontalidade aí acima não me está a descansar, mas fica assim porque não estou lá muito grafómana.

|a pessoa não deve dizer que sabe escrever|
|a pessoa não deve dizer que não sabe escrever|

(o que também é uma merda, mas afinal sei ou não sei escrever?!)

|casaquinho clarinho, compridinho|
|com malhinha de baguinhos, sem botõezinhos|

Não sei escrever o que estão à espera, isso não é para mim, sei lá eu ir de encontro aos que me esperam, ofertando exatamente o que estão esperando e assim conquistar toda a gente por com toda a gente me corresponder. Sei lá eu. Sei é escrever do modo que sei, que nunca foi/é o que espera quem me está esperando. Ena, a Gina escreveu de acordo. Não, a Gina não sabe escrever assim, 'migos.

_|hoje não li, que novidade...
_|hoje escrevi, como se vê
_|hoje a árvore amarela não me apresentou, ainda, folhinhas
_|hoje não fui ver o latim, há que variar
_|hoje, no lugar (que também pode ser) da musa, estavam: a septuagenária da camisola; a senhora que se entretém com o tablet

Foi muito bom percorrer ruas e avenidas debaixo do sol quente
Foi tão bom o sol aquecer-me pedaços de pele que esteve por seis meses sem mos aquecer

Último registo d' hoje:
Sinto-me aliviada por ter escrito um post comprido, e agora vou dormir o sono da injusta.

8 comentários:

  1. e o que eu gostei deste post que vem das entranhas, esse sítio recôndito que só de quando em vez vê a luz do dia. uma espécie de bluebird do bukowski.

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  2. Olá, bem vindo Nuno. ;)

    Fui pesquisar o poema, que desconhecia totalmente. Sempre a aprender. Tem um certo quê, tem. Obrigada.

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  3. Opá, ó Gina, o que é lá isso?...

    Agora fiquei.... hum.

    Mas o post, assim comprido, consola a gente. A gente que gosta de ti, como eu.

    (Era um abraço de se ouvir os ossos, agora, ai era era)


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  4. Naoo fiques:) e chega ca o abraco.

    (ai este teclado sem acentos nem cedilhas... mas assim respondo rapidamente)

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  5. Tu sabes escrever, sim
    (e preocupei-me com o que escreveste e ao mesmo tempo enquanto lia achei que estava super bem escrito)


    um beijinho

    Gábi

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  6. Que querida, Gabi. Beijinhos.

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