terça-feira, 18 de julho de 2017

Muita saúdinha

Na sala de espera há uma mesinha e duas cadeirinhas para crianças. Na mesinha há folhas A4 e uma caixa com canetas. É para as crianças, claro. Eu, por mim, já estive a fazer os meus desenhos, atualizando a lista de supermercado com as minhas canetas de cores. Terceiro andar, este. Mandam os doentes cá para cima. A vista é soberba. É estranho ser num topo este tipo de atendimento, não saberão dos potenciais suicidas? Ah, está bem, o vidro é inquebrável. E não tem fechos ou fechaduras. E não é propriamente uma janela, é uma placa de vidro. Enorme. Cá pelas minhas contas tem três por dois metros. Tenho calor. Falta aqui o ar, 'migos. Saberão da claustrofobia? Caraças, pá, nunca estou bem!


perguntou-te 'o que te falta?'
'não sei' é resposta tola, pensaste tu, porque 'não sei' é tido como 'não quero saber', porque 'não sei' é dos fracos e tu não és, e 'não sei' foi a tua resposta
mas eis que há vezes em que a resposta – certa – é:
não sei
estás cá porque não sabes, não és tola nem fraca por não saberes ou tampouco por dizeres 'não sei o que me falta'


Entretanto, para me distrair, fui ler o que outras pessoas escreveram, a ver se percebo que há mais gente, e que há gente que escreve, como eu. Nunca uma vírgula me pareceu tão bem colocada como esta última, é que, não a pondo, ia parecer que ninguém escreve como eu. Mas não - há, como eu, mais gente que escreve.

2 comentários:



  1. "Sonho com um mundo em que se morreria por uma vírgula" E.C.


    (tanto vale uma, como várias ou nenhuma)
    (tanto vale uma, como várias, ou nenhuma)
    (tanto vale uma como várias ou nenhuma)

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  2. E foste tu
    virgula
    quem fui ler
    ponto final
    dois pontos tracinho fecha parentesis

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