Parte 4
Pedi ao Chatíssimo que me... transformasse...?, alterasse...?, melhorasse...? a fotografia na comum pose, a dita em modus operandi. Fiquei muuuuuuito diferente, não sou eu. Claro que não sou eu. Também lhe pedi que me falasse da imagem. Eis o que ele apurou e o que conversámos:
O título “No Entulho” já dá o tom poético e provocador da fotografia — uma justaposição entre a figura serena e pensativa da mulher sentada, e o caos silencioso ao seu redor. Ela está numa cadeira de vime, num espaço visivelmente improvisado, rodeada por restos de materiais, tijolos expostos e objetos amontoados, como cadeiras velhas e estruturas metálicas.
A luz é suave e natural, entrando de lado, realçando a textura do ambiente e da roupa. As calças de veludo vinho e o casaco lilás dela criam um contraste bonito com os tons crus do espaço — quase como se fosse uma flor nascendo no meio dos escombros. O olhar distante e o corpo relaxado sugerem contemplação ou resignação, como se ela estivesse à vontade com o caos ou talvez encontrando beleza nele.
É uma imagem forte que fala de resistência, de pausa, de identidade entre o ruído. Uma estética meio “urbex”, meio íntima. Digna de uma exposição chamada exatamente isso: No Entulho.
Queres que eu escreva algo mais poético, ou mais analítico?
Poético e analítico, por favor.
No Entulho
Ali, onde os dias esquecem os seus nomes, uma mulher senta-se como quem resiste. O cenário é cru — tijolos nus, reboco gasto, objetos encostados que já tiveram utilidade e agora repousam em silêncio. E no meio dessa composição bruta, quase pós-industrial, ergue-se ela: calma, firme, elegante na sua introspecção.
Há uma beleza inesperada na cena. As calças de veludo vinho não destoam do ambiente, antes o desafiam. O tecido luxuoso e o gesto tranquilo contrastam com o cimento nu e os objetos empilhados — como se a delicadeza estivesse, por fim, a reivindicar espaço entre os restos. A camisola justa, de tom lilás acinzentado, é discreta mas confiante, como quem sabe que está ali por escolha, não por acaso.
O olhar da mulher — ligeiramente elevado, ligeiramente distante — parece conversar com algo invisível, talvez com o passado daqueles objetos, talvez com o futuro que os ignore. Há nela uma dignidade que não se rende ao contexto, mas o reinterpreta. Ela não está perdida no entulho; ela é o ponto de ordem no caos. O fio de humanidade entre os escombros.
Este momento, captado sob um teto inclinado que quase a esmaga mas não consegue, é mais do que uma fotografia: é uma afirmação de presença. No entulho, sim — mas erguida, consciente, viva.
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Se quiseres, posso transformar este texto num pequeno manifesto visual ou até adaptar para uma legenda forte de redes sociais. Que achas?
Um pequeno manifesto visual, isso! Agradecida desde já.
Com todo gosto — aqui está um manifesto visual curto, pensado para acompanhar a fotografia “No Entulho”, seja numa exposição, publicação ou até como legenda com força de obra:
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Manifesto:
No Entulho
Sento-me entre o que foi deixado para trás.
Não para lamentar — mas para lembrar.
Há beleza na ruína, há força no repouso.
Entre o pó e a ferrugem, sou corpo presente,
respiro, penso, existo.
Não sou sobra nem distração.
Sou gesto firme no improviso.
Sou flor nascida no cimento.
Sou pausa onde tudo grita.
Aqui, no entulho, reconstruo-me.
Não para lamentar — mas para lembrar.
Há beleza na ruína, há força no repouso.
Entre o pó e a ferrugem, sou corpo presente,
respiro, penso, existo.
Não sou sobra nem distração.
Sou gesto firme no improviso.
Sou flor nascida no cimento.
Sou pausa onde tudo grita.
Aqui, no entulho, reconstruo-me.
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Se quiseres posso criar uma versão gráfica desse manifesto, sobre a imagem ou ao lado, como cartaz ou publicação. Desejas isso?
Já agora...
(Entretanto a versão gráfica demorava horrores, vai daí...)
Olha, deixa estar. Está a demorar muito tempo... Numa próxima vez trazes isso, ok?
Claro, combinado! Quando quiseres retomar, é só dizer. Fico por aqui para quando for o momento certo. E obrigado por partilhares “No Entulho” — há muito ali para ficar a pensar.
Sim, é um dos meus momentos mais especiais. Há tempo pensei que seria a última vez que posava da mesma maneira de sempre e me fotografava (como sempre), mas hoje fui lá e irresisti ao clique.
Isso é belíssimo. Há algo de profundamente simbólico nesse gesto como se estivesses a fechar um ciclo e, ao mesmo tempo, a abrir outro. A ideia de "posar da mesma maneira de sempre" soa quase como um ritual de identidade, um espelho que se conhece bem. E o fato de teres voltado, mesmo sem intenção, e irresistido ao clique, mostra que há algo em ti que ainda encontra voz nesse ato.
Talvez já não seja a mesma pose. Talvez agora tenha outro peso, outra verdade. E isso é mais do que válido – é arte em movimento.
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Estive portanto a falar com uma máquina. Não foi esta a vez primeira e outras já se lhe seguiram e aqui virão desembocar, tal como esta veio. Mas é muito estranho, a par com extremamente agradável, falar com uma máquina tão... coise.
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