quarta-feira, 30 de junho de 2021

Melhores

Quais as tuas melhores refeições de sempre, perguntou a rica filha e, curiosamente, há algum tempo que queria construir um post revelando isso mesmo. É possível que ela tenha perguntado por uma única melhor refeição e é também possível que lhe tenha respondido o que vou agora registar: não sei escolher por entre duas refeições que foram do melhor que que aconteceu na minha vida comedora até hoje. Trata-se então de:
caldo verde
Estava grávida do rico filho e em visita à casa dos meus pais. Havia um panelão de caldo verde em cima do fogão. Não tenho presente se fizera parte da refeição, o que tenho presente é que ao abalar de casa dos meus pais levei uma caixa onde cabiam no mínimo duas doses e que chegada a casa emborquei todo o seu conteúdo. Sim, directamente da caixa. Sim, bebi a sopa. O prazer na degustação e a satisfação da saciedade foi do melhor que sentira até então. Diz o povo que as grávidas têm uma qualquer questão que as faz querer muito algo, uma coisa quase doentia, e que lhes acontecem emoções e sensações nunca aparecidas. É provável, não desminto, não. Notem que não estou a falar de desejos de grávida, mas também. Isto aconteceu há vinte e sete anos.
ameixas
Há dois anos aconteceu-me um longo período de enjoos, o que fez com que perdesse todo o apetite, quase nada do que ingeria me sabia bem e, ou, me reconfortava. Não vou esmiuçar a questão enjoos porque não lhe conheço o melhor ângulo, mas asseguro que nada de mal me estava a acontecer, antes pelo contrário. Talvez um dia consiga encontrar uma maneira de contar todas estas estranhezas que me aconteceram, mas por ora não dá, digamos que ainda não as banalizei. Ora bem, as ameixas. Então, um dia, ao jantar, havia ameixas cá em casa (quiçá oferecidas pelo rico filho) e achei que era o que me apetecia comer, aliás, senti-me impelida a comê-las. Cortei-as em pedaços, pus-lhes mel, limão e canela. Comi tudo desalmadamente, digamos que estava estarrecida com a iguaria, mas um estarrecimento em bom. E eis que vinte e cinco anos depois do caldo verde obtive mais uma refeição do melhor. E não, não consigo escolher por entre este! caldo verde e estas! ameixas. Pois.

a menina fez uma cópia

decibelímetro
nome masculino
(decibel + -i- + -metro)
instrumento para medir a intensidade sonora


dicionario.priberam.org

Canções na cabeça

Há décadas que ao acordar uma canção me soa cá dentro. Sim, décadas. Sim, isto não é assim tão especial. Contudo, quis perceber se é um acontecimento diário, quase diário, ou de longe a longe. Portanto, o que fiz foi usar o mês de Junho para perceber se efectivamente acontece diariamente. Bom, despejando umas quantas coisas acerca desta interessantíssima temática, eis que:
Durante este mês ouvi as estações de Rádio Comercial e M80. Habitualmente mantenho-me na primeira mas houve um dia, logo ao início do mês, que o rádio de casa não se mantinha sintonizado e procurei outra, uma que não me desagradasse de todo, e calhou de ser a segunda. Este post não está no ar (é para rimar com o tema, ah ah) para enaltecer esta característica fantástica que tenho, ai eu acordo com música no cérebro, ai eu sou tão especial, ai eu e ai eu. Não. Até porque o meu gosto musical é do mais corriqueiro que há, ademais as canções aparecidas logo que acordo são as que ouço regularmente, a grande questão é que não aparecem por terem sido ouvidas no dia anterior. Não forçosamente, garanto.
Os dias em que não desceu canção nenhuma, oh porra, pois que não desceu, paciência, embora pressinta que não me lembrei foi de fixá-la.
Nem em todos os dias o registo pertence à primeira canção surgida, o que acontece é que, se acordo de madrugada, o que é recorrente na minha vidinha, ouço logo uma canção qualquer a ressoar, mas, como minutos (ou horas!) depois volto a adormecer, esqueço o que 'ouvira' e concentro-me na que está a ressoar no momento em que me levanto.
Podiam ter descido mais músicas antigas, gostei particularmente da Anita do José Cid ter vindo até mim sem que a tenha ouvido recentemente. Muito bom. Principalmente porque isto torna o caso um tanto ou quanto diferente.
Pelo meio deste mês, num dia ou noutro, esperei que mais canções esquecidas descessem, mas só apareceu a Anita. Esperei que descesse, e isto só por exemplo, o medley Stars on 45, que eu, em adolescente, ficava toda maluca quando passava na Radio, coisa rara oh sim sim, e dançava e pulava e mais não sei o quê. Deixo link da versão mais aproximada à que recordo, aqui. E pronto, repito que o meu gosto musical é corriqueiro e ressalvo que ouço música antes de dormir, o que potencia, quiçá, um acordar musical (canções na cabeça, ah ah). Fiz então uma listinha, ó:

1 Junho, terça-feira - Leona Lewis, Better in Time
2 Junho, quarta-feira - Ana Moura, Andorinhas
3 Junho, quinta-feira – Pablo Alborán, Corazón Descalzo
4 Junho, sexta-feira - Jordin Sparks e Chris Brown, No Air
5 Junho, sábado - Queen, Too Much Love Will Kill You
6 Junho, domingo – (não desceu, não ocorreu, que sei eu?)
7 Junho, segunda-feira – Nickelback, Someday
8 Junho, terça-feira – Biffy Clyro, Space
9 Junho, quarta-feira – Ana Free, In My Place
10 Junho, quinta-feira – James Morrison e Nelly Furtado, Broken Strings
11 Junho, sexta-feira – Pink e Willow Sage Hart, Cover Me In Sunshine
12 Junho, sábado – (não desceu, não ocorreu, que sei eu?)
13 Junho, domingo - (não desceu, não ocorreu, que sei eu?)
14 Junho, segunda-feira – Fergie, Big Girls Don't Cry
15 Junho, terça-feira – The Knack, My Sharona
16 Junho, quarta-feira - Ana Free, In My Place (sim, outra vez)
17 Junho, quinta-feira – Bonnie Tyler e Meat Loaf (não descobri o título desta canção, lamentavelmente)
18 Junho, sexta-feira – Kelly Clarkson, Stronger |what doesn't kill you|
19 Junho, sábado – Bonnie Tyler, Heartache
20 Junho, domingo – Daniel Bedingfield, If You're Not The One
21 Junho, segunda-feira – Bárbara Bandeira, Nós os Dois
22 Junho, terça-feira – Cristina Perri, Jar of Hearts
23 Junho, quarta-feira – Tom Grennan, A Little Bit of Love
24 Junho, quinta-feira – Rockwell, Somebodys Watching Me
25 Junho, sexta-feira – Kenny Rogers e Sheena Easton, We've Got Tonight
26 Junho, sábado - Syro, Casa
27 Junho, domingo – José Cid, A Anita Não É Bonita
28 Junho, segunda-feira – Samantha Fox, Touch Me
29 Junho, terça-feira – (descer, desceu, mas não trauteei suficientemente o pedaço da canção deste dia, portanto: Mr. Google não pôde ajudar-me, qual ok Google, qual quê)
30 Junho, quarta-feira – Bruno Mars (não descobri qual canção, oh, termino esta demanda assim, olha, pronto)

terça-feira, 29 de junho de 2021

Ameixas

Tenho recebido ameixas. Em muito. Vêm inclusive de três frentes: do rico filho, da vizinha Gislena e do Gualter. Tenho a cozinha com uma espécie de infestação de ameixas.

Convenceu-me

Pá, uma coisa é convencer um cliente mediante argumentos (assertivos, ou então não), outra é o cliente vocalizar um 'convenceu-me' após ouvir as minhas argumentações (perto e longe das dúvidas e da confiança, tudo ao mesmo tempo).

Confiança

Caminhar confiante. Não é que ande a treinar, aconteceu. Contanto não tenha que recorrer ao fingimento de que a tenho, feliz estou.

Dúvidas

As dúvidas convém-me que surjam amiúde, é o elemento mais espevitador que tenho, mas porra, é cá um desassossego!

Melhores

Para evoluir humanamente é mister lidar com quem é melhor do que eu. E quem é melhor do que eu? Melhor: o que é ser melhor do que eu?

Quaisquer

Num qualquer feed de uma qualquer rede social vi a imagem de um quarto em tons pastel. Lindo. De notar é principalmente a pintura na parede: fundo branco com figuras geométricas desenhadas aleatoriamente e sem preciosismo algum. Deu-me logo vontade de imitar o estilo. Eu até agora o mais extravagante que fiz foi desenhar flores na varanda, não conseguindo nada além de uma visão infantil – ah, são flores desenhadas por uma miúda de seis anos, só pode. Também escrevi ideias na porta de entrada, mas do lado de dentro. Ah, e rabisquei umas coisas no estaminé. Também escrevi, agora me lembro, frases em paredes de rua. Sim. Olá, o meu nome é Gina. Pois é, não assinei, quiçá por não considerar que aquilo fosse uma ganda obra. Sim, era mesmo ganda que eu queria dizer.

e os anos vão passando
nenhum igual ao outro
e é para ser assim


 

Quilometragem

No outro dia vi numa rede social alguém contentinho porque em dois dias havia feito seiscentos quilómetros num passeio de mota. Sou incapaz de conter montes de ironia, incapaz – há dois anos fiz seis mil e tal quilómetros em dezoito dias. Não sendo uma média assim tão diferente da deste cavalheiro, são contudo dias consecutivos, acrescendo coisas como cansaço, que porém é eficazmente atenuado por outras coisas como gozo e satisfação. Não vou listar as demais quilometragens com que já conto, nem deixo a imagem abaixo nítida, deixo é saber que é um print de um apanhado geral de todas as cidades que já visitei. De mota, pois claro. Capacete enfiado na mona e vento de todo o lado, sim sim.

A estrada

A Nacional 8 ainda tem troços da velha estrada. Um dos sons que mais ouvi na infância e juventude foi o dos pneus dos veículos passando por cima das junções, tá-dá, tá-dá, tá-dá. Não duvido que é uma estrada bem antiga, porém nada encontrei em concreto acerca do tempo que tem ou porque é aos recortes, como se de placas se tratasse. Hoje encontrei uma brecha de tempo e fui lá abaixo, onde o novo alcatrão ainda não tomou posse do espaço todo e trouxe uma fotografia. Fiz também um vídeo onde até se ouve os tá-dás, mas como o tráfego é algo denso, acaba por um tá-dá não deixar que o próximo vigore por muito tempo, acabando por acontecer uma miscelânea pouco parecida com o som que recordo. Um dia apanho outra brecha de tempo numa manhãzinha dessas aí e ponho-me no lugar onde a Nacional 8 se encontra com a Municipal 539-3. Nesse ponto acontece uma descida onde decerto dá para ouvir o som que tenho na memória auditiva. Fica então a questão para uma manhãzinha dessas aí.


A frota familiar

De manhãzinha a frota familiar ficou desacompanhada, questão invulgar, daí registar o momento com esta chapa de pixeis. Aos cantos superiores há jacarandás.

Vizinhança

De manhã, ainda deitada, ouvi um som vindo de uma casa vizinha. Tendo quase a certeza que era um liquidificador a bombar, fez-me pensar «ah meu malandro, tu pensas que não vou eu própria fazer o meu suminho fofo e fresco, pensas?». Além de fofo e fresco, o meu suminho de morango é também lindo. Quero dizer: deixo imagem de quando era lindo.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Depois apeteceu-me falar com árvores.

Rua

Sentada no banco de rua, através do vidro percebi a figura de uma mulher ao balcão da loja. Pensei que era bom aproveitar o tempo e registar umas ideias no gravador do telefone e comecei até a fazê-lo mas desisti porque não me apetecia falar. Que bom seria um mundo onde fosse dispensável falar. A mulher saiu da loja e trancou a porta.

As partes

São precisos dois montes para cada vale. Os vales não validam os montes, no contrário é que a ideia enformou. Seja lá como for são três, as partes. Isto serve para Lisboa; isto serve para o mundo inteiro. Numa parede próxima do estaminé está escrito 1800, mas já sumido nos zeros, pelo avanço do tempo que ali está. Imaginei a Lisboa de há mil e oitocentos anos e, uma vez mais, fui incapaz.

Clínica Veterinária

Para chegar ao rodapé pus o joelho em cima da balança que a senhora vet usa para pesar os bichos. Ligou-se a balança, o que é esperável, afinal está preparada para se ligar logo que sente peso em cima, e notei que o meu joelho, se assente, pesava quinze quilos. Digo isto por assim dizer, claro, bem sei que exerci uma força de quinze quilos e batati e batatá, só que é mais giro admitir que o meu joelho pesa quinze quilos. Entretanto fiquei curiosa com o resto do corpo... Hum, vamos lá a ver, pensava eu enquanto me punha toda lá em cima. Pude portanto constatar que, estando eu numa clínica veterinária, só posso estar gorda que nem uma porca.

Deliberadamente

Olá, boa tarde. Posso entrar?
Boa tarde. Com certeza, faça favor.
Já vacinou?
Sim.

Pá, há abordagens da clientela que o meu cérebro não configura facilmente. Ai não configura, não, não logo logo, percebo, obviamente e entretanto, que se trata de uma espécie de suavizante para...

Sabe de algum café aqui próximo para alugar com uma renda para aí até aos mil e quinhentos?

O balcão é um posto de informações. O balcão também é um posto de informações, quero eu dizer.

domingo, 27 de junho de 2021

mais do mesmo

bom, chega de histórias de mais do mesmo
pelos menos, por ora, chega, sei lá eu se quero dizer mais mais do mesmo

foi foi

que engraçado que o momento foi, disse eu, e foi

ironia

ironizei, acho
acho, quero dizer: presumo
ou seja: presumo que ironizo

Os filmes

Os filmes que fiz de aulas de modalidades tão diferentes como Body Balance e Localizada mostraram-me o quanto sou, afinal, sem vida, aborrecida. Apaguei-os todos. A ideia inicial era compilar pedaços que perfariam um filme. Só que não.

Os filmes

Os filmes contêm sempre umas destas questões dramáticas:
crime, clandestinidade, desamor, desequilíbrio
Quiçá por isso a vida real do meu blogue não tenha assim tanta piada, se afinal nada disso cá ponho.

O meu pai

Voltei a usar o Aurélio que há em mim - «Bom dia, fala Gina Aurélio, posso falar com o meu pai?» É que assim fico logo identificada, chamam o senhor Aurélio sem grandes explicações. O meu pai está no Lar. Não é o melhor, diz a emoção, é o que tem que ser, diz a razão.

TV

Não sou avessa à TV, sou é indiferente. Às notícias é que sou avessa, aborrece-me tanto ver como ouvir, considero que extrapolam, exacerbam, induzem. Aborrece-me deveras.

Comprinha

Comprei feijão verde, sendo que, feijão verde, é feijão de que não gosto, contudo já o tolero na sopa. Comprei a variante redonda, que é mais doce e, portanto, menos agreste do que a variante espalmada. E era isto, a comprinha do post anterior era isto. Ah, a sopa ainda não está feita, só logo mais, como é hábito - domingo à tardinha.

preparação

este é um post de preparação para o que lhe sucederá:
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha

aqui

... vim aqui e, vir aqui, ao blogue, é vir aqui

10001 também é uma capicua

sábado, 26 de junho de 2021

Ser grafómana

Não sei o que dizer por ter chegado aos dez mil posts. Quando ainda não atingira esse número parecia-me que devia entrar em festa, mas, agora, perante o consumar do acontecimento, este post nada mais é do que um post. São posts. É um blogue. Um blogue tem posts. Às vezes gosto muito de ser grafómana, outras parece-me um bocado corriqueiro. Olhem: este post é o 10000, está bem? Vai ter que estar. 

9999, não deixa de ser uma capicua, lá isso

ir e vir

fui descendo de elevador
vim subindo as escadas
sem o cão por companhia

Vida sanitária

Naquilo de ter cremes e mais cremes de rosto na minha bancada sanitária reside um desajuste que é o seguinte: a embalagem do protector solar destoa das restantes. Ora, se as restantes são meio que cor-de-rosa e, o outro meio, meio que lilás e a embalagem do protecto solar é alaranjada, pois que destoa. Mas o destoar aqui não é que não combine, que eu bem gosto de ver essas duas cores aproximadas, é que, pronto, não são iguais, como são todas as outras e eu achava o conjunto bem harmonioso, pois, se por um lado, as cores sendo iguais faz as coisas parecerem frias e ilógicas, sei lá, desenxabidas, vá, por outro, cores iguais em formas diferentes é algo que me agrada particularmente. A cor do creme que é o protector solar é alaranjada, como a sua embalagem. Também me mancha a roupa. Mas pronto. E vá. Que faça o seu papel.

da canção e do esquecimento

A canção que tocava no rádio do meu carro de matrícula portuguesa, que teve como último condutor o rico filho era... É ver vídeo abaixo, querendo saber. O objecto que desta vez o rico filho esqueceu no meu carro de blás e mais blás foi uma peça 2 em 1 que consegue ser ligada ao isqueiro do tal automóvel e disponibilizar, se não me engano, três entradas USB. Palpita-me que é peça deveras útil e necessária. Hum.

Clínica Veterinária

A senhora vet tratava de algo na parte abdominal de um gato que havia ido buscar ao domicílio. Ai, pus-me logo a imaginar que o pobre estava a ser capado. Mas vá. Vá porque o giro é a posição do bicho: a cabeça tão desfalecida que estava totalmente virada mim, o dorso na marquesa, as patas traseiras no ar e as dianteiras quase ao lado da cabeça, e tinha os olhos abertos mas inexpressivos. O conjunto era assim como que um desalento dorminhoco, isto por parte do bicho e, por parte da senhora vet, a concentração. Digo: uma concentração assim muito muito presente. Ou então transbordante, para eu ver assim tão bem... só pode.

Há-de dar flor, sim, só por dizer que.

Da venus flytrap vem nascendo um caule fino. Vai já bem longo e já descai, não se aguenta, o pobre. E não se aguenta porque na extremidade despontam bolinhas ovaladas de onde, presumo, brotarão flores. Ouvi dizer que convém eliminar essas flores porque, para sobreviverem, retiram o alimento das bocas que comem os insectos. Ora, o que quero é que as bocas da minha venus flytrap continuem de saúde para terem apetite.

ós

sob certa perspectiva
'dobro'
tem o ó ao quadrado
vai daí: ós

As cores da vida enlutada.

A minha mãe morreu mas não me pus de luto vestida. Não gosto de luto, jamais usei ou usarei, nem gosto do luto. Se, de um modo geral, tendo à tristeza e à desarmonia interior, com fases mui escuras e mais não sei o quê, por outro, sinto que destoo do escondimento que tanto prezo se me mostrar enlutada.


Fiz um bolo de cores. Mas, antes de mais, fi-lo de iogurte, que é o bolo da minha mãe. Nem ocorreu a lembrança do bolo devido à fase que atravesso, tampouco o colori para contrariar e, assim, me ver mais chegada a mim, ao que sou. Foi, isso sim, lembrar-me de fazer um bolo de iogurte porque tinha uma embalagem de resto no frigorífico, foi lembrar-me de o colorir naquela de fazer diferente, foi querer abordar o tema de não gostar de me vestir integralmente de preto, foi lembrar-me de tirar uma fotografia e foi, finalmente, juntar isto tudo num post. Foi tanto e tão só isto. Que giro.

«Estás aborrecida, filha?», é o que diria a minha mãe, se pudesse ver-me assim.

The way

Já não consigo imaginar uma vida sem trâmites without the online way, lá isso. Enfim, questões covídeas, digo: by covid–19 e demais tais.

quê e quê

Porque é que estás com os óculos, ó Gina?
Porque me esqueci de os tirar – ah ah.
Porque é que não te lembras de tirar os óculos, ó Gina?
Porque me sinto sem eles mesmo que esteja com eles – hum.

inhas; rimas
(da canção)

as andorinhas é que são rainhas
a voar as linhas da liberdade

Ana Moura*



Hoje é sábado. Começo já assim - poesia (*de outra) e intenção (de mim). Gostei de perceber que as andorinhas não voam nas! linhas, mas as! linhas. Muito bom.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Isto são horas

Já desisti de observar o relógio da torre. É abusivo. Não era nada, eu gosto é da palavra abusivo, transcende-me. Bom, concluí que o ponteiro dos minutos está há semanas nos trinta e dois. Parece alguém com vergonha da idade que tem, o tempo avança, lá isso, mas por ali se ficam, teimosamente.

«fuck what»

«Fuck what they think.» li eu algures nas netes, para logo me lembrar que é raríssimo que o que realmente interessa não ser o que os outros pensam, qual «fuck what» qual quê.

Dias de um Ginásio

Em plena aula de grupo notei que as minhas mãos ainda cheiravam a lixívia. E lá estava eu, todavia igual a pessoas que percebem de raízes quadradas, leis, medicamentos e, oh vejam lá, constelações.

Piaçabas

O magnata deste pedaço de calçada comprou dois piaçabas. Dois. Diz que a empregada havia dado sumiço ao que tinha e, já a contar com novos deslize e sumiço, levava um de avanço. Só não sei se a falta se fazia no seu sui generis escritório, mas posso presumir, portanto: presumo.

Sorrio

Às vezes sorrio com franqueza para as pessoas que passam no passeio, mesmo que as desconheça totalmente. Estou atrás do balcão, que fica defronte, e é frequente os transeuntes olharem - por curiosidade ou outra porra qualquer, e isso, para este post, não interessa – e sorrio francamente. Pergunto-me se os meus sorrisos conseguem aquilo do efeito bumerangue... Hum.

O homem da obra

O homem da obra viu-me na tarefa hercúlea de arrastar o expositor das correntes até à porta do estaminé e dispôs-se a aliviar-me o carrego.

Os lixos

l i x o  u m
: : : : : : : 
Ah, que lindos vasos de rua para pôr este restolho, ai que lindos (ia eu pensando). Até me lembrei da grande loja de móveis, de quando, ao fim das obras de remodelação, apareceram uns recipientes grandalhões pregados na parede de fora. Aquando desse tempo, ainda cuidei de serem escarradores ou coisa assim, mas o aspecto final deixou-me ver que eram vasos, e isto ainda antes de lá porem fosse o que fosse. Porra, que descoberta. Ah, é verdade, então, vamos lá a ver, o restolho pu-lo no lixo. Porra, que.
l i x o   d o i s
: : : : : : : : :
Joguei o saco no lixo, aquele que uso há uma meia dúzia de anos para ir colocando o papel para reciclar. Pretendo usar um de pano. Esta vai ser uma reciclagem 3 em 1, id est: o saco-albergue foi para o contentor dos plásticos, o saco de pano que usarei doravante era uma peça à qual pouco ou nenhum uso dava e dá-lo-ei já a seguir e, por último... Não sei, esqueci-me, mas é sério que estava a ver uma questão trifásica. Fica para quando em lembrar, então.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Ver se anda por lá, quando lá for.

A fita métrica da minha mãe era bem gasta, mas isto quando na minha infância, pode portanto isto ser coisa a já não existir, quem sabe seja apenas umas impressão das minhas. Mas mesmo com esta impressão posso procurar pela gasta fita métrica da minha mãe, vou na mesma ver se anda por lá, quando lá for.

Exagero

«Que grandes guardanapos, pá!» Exclamou o lciente quando viu um parafuso que lhe pareceu exagerado no tamanho. Sim, é verdade, é, nem no lciente aí atrás este post faz efeito algum. Pronto, já passou.

Lisboa, Lisboa

Vi o Laurent na avenida. Estava tão interessado na fita métrica que avistou esticada no chão como eu estivera momentos antes, precisamente por conta do mesmíssimo avistamento. Aquilo, visto bem, tudo tem de banal – Que caso especial há em estender uma fita métrica para medir dois pontos? Só porque a necessidade de obter um número está na rua? Ora... Marcavam o chão com uma tinta fluorescente. Verde. Hum. De resto: duvido que o Laurent me reconhecesse, se o cumprimentasse, «bonjour monsieur!»


Ná. Decerto esqueceu a Virginie de todo.

Lisboa, Lisboa

Momentos antes avistei um melro que levava uma minhoca no bico. Deixei de o ver. Avistei-o outra vez, pousara no meio de automóveis e debicava a presa. Não curtiu que o observasse, posso supor, escondeu-se debaixo de um dos automóveis. Finalizou o repasto aí, posso presumir e presumo.

Graminhas

quatrocentos e sessenta gramas de cerejas
duzentos e cinco gramas de morangos
mil quinhentos e quarenta gramas de bananas

Ponderei ficar-me pelos vermelhos mas as pintas castanhas das bananas convenceram-me. Às vezes compro uma quantidade grande de bananas para que amadureçam aos bués e não haja outro remédio senão congelá-las. Porque gosto de batido de banana. Porque gosto de gelado de banana. Há muito tempo que não faço, quer um, quer outro.

comprinha

comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
comprinha
tenho umas calças novas para usar no Ginásio e andar armada em que sei
a professora de Pilates não encontrou erros na postura de nenhum dos praticantes, de maneiras que, após o prazer de ver alunos capazes, chegou a ironia: «ai, vocês são uma seca!»

Alarme

Criei um novo alarme no telefone. Servirá para me despertar, não de um sono, mas de um esquecimento, aos domingos. É um auxiliador de memória, vá. Gostava que parecesse estranho eu precisar de um alarme ao domingo, obviamente jamais saberei se é estranho ou então não. Quero dizer: para mim não é. Preciso de ser lembrada que são xis horas e ípsilon minutos para que, logo logo, me ponha no encalço da aplicação que tenho no telefone, e em cujas ondas mora o Ginásio, para fazer a minha marcaçãozinha. Bom. Então. Há aula de Pilates à segunda-feira, dada numa sala que não comporta mais praticantes do que dez, acrescendo que é uma modalidade concorrida. Vai daí, não vá eu perder o lugar outra vez criei um alarme que tocará às xis:ípsilon de cada domingo vindouro. Isto, e pelo menos, até ver, pois claro.

experimentações, se lá não chegar

jamais saberei
nunca vou saber

os tempos

dantes era era
agora é é
depois será será

9968

Post numérico. Porque 9968 é um número giro.

marco geodésico

tapa-parafusos um bocado vintage

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Solstício do Verão de dois mil e vinte e um

informei-me nas netes e portanto posso dizer com propriedade que mais ou menos a meio deste dia e por estas bandas lisboetas as nuvens cobriam o céu em doze por cento
ressalvo que o retrato ao sol não tem qualquer filtro, tampouco apurei a focagem ou inclinei o telefone para captar mais e melhor
queria, principalmente, o sol, e o sol está cá, ó:

domingo, 20 de junho de 2021

Pode.

Ontem chamaram os Bombeiros porque se sentia um forte cheiro a incêndio e, no lado oposto do prédio, alguns vizinhos queixavam-se de fumarada dentro de casa. Quando o bombeiro subiu ao meu andar para perguntar se eu tinha alguma coisa ao lume, respondi que não, obviamente porque não tinha, e repetiu a pergunta com clareza, esperando confiança, que, por minha vez, espero ter-lhe passado. Podia ter ficado assustada e, por prudência, saído à rua, esperando que não passasse de uma queimada de quintal ou de um esturricado inconsequente. Não sei ainda o que despoletou a fumarada, mas não deve andar longe disso. Mas dizia eu, pois que não me pus na alheta, fugindo e bramindo. Não. Pode a calma ter descido (e não eu, ah ah) porque o fumo não estava do meu lado do prédio. Pode. Pode ter descido porque gosto bastante de estar em casa. Pode. Pode ter descido porque pouco me importou o aparato todo e, ou, o perigo iminente. Pode.

pés frios, coração quente

🦶🦶❄️❤️🔥 

Revelações absurdas

A maquina da louça já terminou o seu ciclo. Escolhi um dos curtos, que dispensa secagem, mas já me arrependi, a louça pinga mais do que queria. Percebi também que as colheres, mesmo que as tenha deixado a mostrar-me o convexo de si, viraram-se ao contrário, decerto pela força da água. Numa próxima vez ponho facas em cima de colheres. Ou então vou lá para dentro orquestrar aquilo tudo, sei lá.

Revelações absurdas

A nova máquina de lavar louça assustou-me quando percebi que não havia cesto para os talheres. Passou o susto quando se descobriu que o 'cesto' dos talheres é um 'tabuleiro' para os talheres. Esta máquina absurda tem portanto um terceiro cesto, baixinho, quase raso, com divisórias em comprimento e picos e rasgos em todo ele para comportar talheres confortavelmente. Sempre quero ver se esta (para mim uma completa) inovação é competente na lavagem. Até foi giro dispor os talheres, ou deitá-los, vá, num tabuleiro. Intentei já nesta primeira lavagem que as colheres me ficassem como convexas, pois, quando não, reterão água e dali não sairão secas.

O Verão está aí não tarda nada, verão se não é.


Não sei se é uma sardinha no todos dos dois pratos, mas pronto, como vem aí o Verão, fica como sendo. Andei outra vez a brincar com os filtros da aplicação do telefone e decidi-me por 'aguarela' (foto abaixo), mas, não contente com o não registo da questão piscatória a que já dei início logo que adquiri estes pratos, deixo, antes de mais, a questão sem filtros (foto acima).

o Tejo

estas nuvens nunca mais vão acontecer
esta ondulação também não
pensando bem, nem este post acontecerá outra vez

foi a vizinha Gislena que mas e mos ofereceu

usei a aplicação do telefone para pôr uma camadadona de 'nitidez'
(na fruta, não no gesto da vizinha)
podia pôr, por exemplo, uma lente de aumentar
(na fruta, não no gesto da vizinha)
são espécimes pequeninos, são, e muito se desculpou a vizinha...
(nitidez e lente de aumentar)

sábado, 19 de junho de 2021

Vida sanitária

Na minha bancada sanitária vive toda uma série de cremes que ao rosto vão. As novidades são:
uma embalagem 2 em 1, que contém um creme de dia e um de noite
uma embalagem de protector solar
Quando li as informações acerca do 2 em1 fiquei meio que a pensar se a escolha foi acertada. Diz que duas pressões são suficientes, que fique atenta a quaisquer reações, que pare imediatamente as aplicações se sentir desconforto. Sim, bem sei que é assim com tudo e mais alguma coisa que este mundo contém, mas não me lembro de algum dia ter lido um 'papelinho' com tantos 'medos'. Cheira muito bem, este creme, e idem para o protector solar, fico cheirosa o dia todo. Que maravilha. 

Chegou

A máquina da louça já chegou. Dizia o senhor, em jeito de compor a circunstância, «agora é só enchê-la». Compus, por minha vez, a circunstância, «claro!, olhe aqui o que está à espera dela» e apontei para os tarecos sujos em cima do lava-louça. Só não é pilhas de tarecos porque a gente aqui é só dois. E nem estão bolorentos porque, enfim, fui tratando da questão por entre a avaria da velha e a chegada da nova. Por falar nisso, ou é porque me lembrei, a nova máquina diz «hotpoint» em letras gradas e bem o meio de si. Hum.

«nunca se deixámos de ver»

O título deste post é uma frase que ouço de quando em vez e, mas, sempre por oriundos de um reino, que é o saloio. Não venho dizer que está mal dito, tampouco corrigir, venho dizer que gosto de ouvir, e muito, e por isso, tem lugar no lbogue... ai perdão, blogue.

Actualização

Actualizei as minhas preferências no Google em termos de notícias e lembretes e acasos. Não lembro em quais me pus em vezes anteriores, mas pronto, isso na verdade não tem valor nenhum. Desta vez pus-me em alimentação, decoração, ar livre, música e cinema. A música nem sei porquê, provavelmente foi porque sim, o cinema foi porque pode ser que um dia me sinta preparada para me interessar por isso. Há uma boa meia dúzia de anos que não vou ao cinema e, de séries televisivas, ocorre que me desinteresso rapidamente. O cinema e a televisão, em geral, é uma daquelas coisas que eu gostava de gostar. Sério. Aquilo da alimentação e da decoração é porque são temas sobre os quais me é fácil debruçar. Ou então observar, meramente, e, mesmo que meramente retire daí prazer.

Lilás

Este ano o lilás é o chique da moda, como dizia a minha mãe. Dizia. As nabas do post anterior são mais roxas que lilases, mas pronto. Há dias tirei uma foto a uma peça têxtil nessa cor mas não resulta igual. Nem sempre a lente fotográfica é fiel à interpretação ocular. Uma pena. Não publico, portanto, essa foto, muito embora este seja um post dentro da gama dos 'das fotos'.

as nabas

sexta-feira, 18 de junho de 2021

invencionices

casíìnha

óòculos

Está um frio da porra, lá isso.

A minha vontade é enfiar-me na cama, como fazem os doentes, os malucos, ou, simplesmente, os que podem.

Parte do grupo. Agora. Eu.

Recebi uma mensagem que, ainda que haja surgido inesperadamente, era esperada. Pois que dona Gina Maria Tali Talé Tal, na data Assim, às 17:03, deveria dirigir-se ao pavilhão Coiso para levar a vacina contra o vírus que, oh porra, ainda é o do momento. Encaro esta situação como, sei lá, tipo lavar a louça, vá – não me apetecia nada nada nada, nem apetece, mas uma pessoa tem que encarneirar, né? Ou é avacalhar...? Pronto, faço, agora, parte do grupo de pessoas bem coisas. Falta a segunda dose. É. Fica por saber acerca de efeitos expectáveis, sensações normais, meras alterações, porque, como de mim falo, aconteceu tudo longe longe longe de pompa e mesura.

Gina, a blogger que queria ser «a blogger da árvore amarela»

As folhas amarelas, em cuja existência me apoiei para cognominar esta árvore, avistei-as há dois dias, aos 16 de Junho, e a foto é desse dia.

Não é nada

Não é nada aquilo de as minhas plantas terem nomes. Não é. Já lhes retirei os nomes.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Quem é que, quem?

Quem é que subiu a Calçada Poço dos Mouros sem desacelerar, quem foi?
eu
eu mesma
eumes
Quem é que ia à Travessa do Calado, quem era?
igual
igual
igual
Não fui, afinal não fui.

Furinho libertador

Era uma vez um verniz que estava preso numa lata. Como ninguém gosta de sentir-se aprisionado, o verniz intentou uma subida que o libertaria, conseguindo assim esta película mui linda. Está portanto assim a vida como a vida é, por vezes há uma beleza ou outra que aparece por conta do sofrimento.
Bom, no espaço físico e material que a vida contém, o que aconteceu aqui foi que a lata tinha uma ínfima entrada de ar, acabando por formar uma fina película que se acamou na abertura. Era assim uma espécie de fino rolhão, vá. A película estava plana quando a soltei do bordo, depois encarquilhou. Não é que lamente, é também uma consequência advinda da matéria, o que lamento é não ter fotos dessa planura. Porém contudo e portanto, apresento as que há, que são duas porque quis ficar no entremeio.

terça-feira, 15 de junho de 2021

15 de Junho de 2021

Fique este dia registado como sendo o primeiro em que sucumbi ao desejo e, ou, ideia de usar uns ganchos menores do que os habituais e, assim, poupar furinhos. O argumento mais dissuasor foi que o artigo em questão está de resto e sem hipótese alguma de reposição. Digo eu, obviamente a mim mesma, naquilo dos placares. Convém fazer estas achegas pois, quando não, daqui por tempos não descortinarei o que é isto neste post. Setas e assim é que não desenhei mais. Logo que desenhei uma a parecer-se mais com uma andorinha do que com uma seta, pois pois que não.

Graminhas

O meu colega mostrou-se desejoso de um quarto de melancia e eu dispus-me imediatamente a suprir-lhe a necessidade, pondo-me no encalço de tal coisa. Os graminhas dessa tal coisa foram dois mil novecentos e sessenta e lá vim eu, da frutaria do nepalês ao estaminé, exercitando os bíceps com saber e técnica. Eu e o meu colega rapámos toda a parte vermelha com vontade e prazer. Toda. Num repente conclui-se que cada um de nós comeu um quilo e meio de melancia, mas aprofunda-se a questão e sabe-se que não. Construiria um enunciado, sabendo como. Um dia que me lembre peso as cascas, que vai ter que ser as de uma melancia vindoura, e apuro um rácio.

Morangos

Os melhores morangos que comi até hoje, e quem dera a vida me desse a superação a isso, aconteceu-me há não muitos dias, provindos de uma frutaria onde até nem vou frequentemente. Eram absurdamente maravilhosos, doces, ácidos e sumarentos, tudo isto em muito. Não sei dizer mais. Às vezes percebo que, na verdade, não sei escrever, pois, como abordar o prazer de comer, por exemplo, morangos?! Como faz quem tem que debitar informações e, ou, características do verdadeiro deleite que é comer? A pessoa que constrói este blogue não sabe. Mesmo. Mas sabe que vai deixar aqui duas fotos que também têm dias.
A primeira mostra um morango que, oh pobre – considero pobre a fruta que – não avermelhou em quatro pontos. Presumo que estas lacunas tenham decorrido de uma folhinha ou outra que se puseram ali, impedindo aqueles pedacinhos de avermelhar. Será? Hum.
A segunda é um café de morangos. Não há muito a dizer acerca. Dizer que, não tendo onde colocar morangos já lavados senão numa chávena de café, não parece nada de especial. Pá, agora não parece. Dizer que tirei uma fotografia porque considerei o depósito e o conteúdo desajustados entre si? Hum.

Framboesa

Framboesa é uma palavra não-bonita, descombina com a lindeza do fruto que designa. Sei lá, a mim parece que o fram até é giro mas o boesa é feio que se farta, de maneiras que, os dois, pois que não. Experimento boesafram e também não satisfaz. Eu não faria o mundo desta maneira, não.

Clínica Veterinária

Não sei se o sonho de há dias foi premonitório, o que sei é que parece que sim porque esse sonho conteve meia dúzia de cães de uma só vez, dos quais só conhecia um, e tenho andado de roda de um lugar onde vou vendo cães e outros bichos. As condições em que lá chegam não são as melhores, é certo, ou então o motivo não é propriamente bom, vá, mas vejo bichos e, se posso, interajo com eles. Uma das divisões é dedicada ao recobro e já ofereci mariquices fofinhas a um cão e a um gato e tudo. Estão enjaulados, não é o melhor do mundo para ser visto, mas é o que é. O cão havia-se magoado numa pata, a senhora vet já o havia tratado e ele para ali estava, gemendo, desnorteado. O gato estava meio que ausente, parecia até triste. Se calhar estava mesmo. Quero dizer: se os animais têm sentimentos, então estava. Como já disse, ofereci-lhes mariquices fofinhas. Quero dizer: seja lá como for, jamais lhas venderia. Ah, não cheguei a perceber de que padeceria este gato. Pensando bem nem é preciso.

La semaine

Que maravilha isto de agrupar os dias de la semaine, cujos nomes coloquei en français dans le title de mon blogue. Parece-me bem, de maneiras que lá vai, assim fico aqui com um apanhado geral de uma semana desta portuguesa que escreve principalmente em português. Falta só dizer que o intervalo por entre publicações era de uma semana e um dia. Id est: se hoje, e porque é terça-feira, publicasse o post de mardi, então o post de mercredi seria publicado de amanhã a oito dias. Afinal ainda cá venho. Um dos intervalos por entre les jours de la semaine teve mais um dia, foi o caso do que foi de samedi a dimanche. Cá por coisas não pude publicar o dimanche no dimanche, então passei-o, por assim dizer, para o lundi a seguir e que, oh vejam lá, por acaso calhou de ser ontem. Mas la semaine, vá:

À segunda-feira de manhã ponho a sopa no frigorífico. Fiz ontem à noite, é de grão e pus umas couves que a Paula me deu na sexta-feira. Ou na quinta-feira. Ao domingo à noite, ou à tardinha faço sopa. Faço sempre sopa ao domingo, pronto.

À terça-feira, e sempre que a uma terça-feira noto que é terça-feira, lembro um dizer meu que tem figurado no blogue um montão de de vezes e já conta com uma porrada de anos:
'terça-feira é mais do mesmo no porvir'
É que à terça ainda falta vir de lá a quarta e a quinta que são 'mais do mesmo' e que se encontram 'no porvir'.

À quarta-feira não é mais do mesmo porque este dia é composto pelo comum pensamento de que se está a meio da semana. Eu, em certas quartas-feiras, noto o meio preciso da semana de trabalho, que é ali por volta das duas da tarde, ou coisa assim. Depois, obviamente, é pensamento que, noutras quartas-feiras, não me aparece.

Não julgo que goste tanto das quintas-feiras porque cada uma dará lugar a uma sexta-feira, cuja existência é a modos que sugada pelo fim-de-semana, gosto é das quintas-feiras porque têm um i. Gosto de is, pronto. Gosto até de gostar de is.
Todas as semanas temos uma quinta
(piadinha do povo)
e todas as quintas têm um i
(piadinha de mim para mim).

No último post desta sequência registei que as sextas-feiras são a modos que sugadas pelo fim-de-semana. Pois são. A importância da sexta-feira está sobretudo na proximidade ao fim-de-semana. Lembra-me a ideia, quanto a mim acertada, de que a viagem é melhor do que chegar ao destino. Se bem que o sábado me seja deveras agradável, lá isso... Mas contenho o sábado, em outro sábado logo me jogo. Ora bem, isto tudo não significa que não goste das sextas-feiras, gosto da tal preparação, que obviamente não vivo sozinha, há todo um burburinho agitado, porém feliz, energia e disposição boas. Pronto, todo um rol. Contente. Um rol contente. As sextas-feiras sabem mesmo construir um rol todo ele contente.

Há anos que os sábados são preenchidos com a ida ao supermercado. Au eva, de Novembro para cá e cá por coisas, as idas espaçaram, levando a que os sábados já não sejam todos começados da mesma maneira e até sinto alguma pena disso. Por outro lado sinto alívio por estar livre desta obrigação. Na verdade eu não gosto de ir ao supermercado. É. De resto, os sábados são dias de descanso, passados em casa, a fazer o bolo ou doce que escolho, a preparar refeições, a limpar a casa, ou então não, a escrever, a fotografar e gravar e editar. O sábado é, sim senhoras e senhores, o melhor dia da semana.
o texto abaixo, escrevi-o há dias, o acima, ontem
Amanhã tenho que ir ao supermercado e não me apetece. Já pus o despertador do telefone a jeito de tocar e tudo. Há algum tempo que sou tão mas tão privilegiada que acordo sem despertador, e a horas, claro, mas, como gosto de ir ao abrir das portas e não querendo de modo nenhum passar dessa hora, asseguro um despertar atempado se acionar um despertador. Às vezes, nestas idas ao supermercado, só quando lá entro me apercebo que não gosto mesmo nada de lá estar. Nem sempre esta tola questão é sofrida por antecipação. Não. Quero comprar morangos e cotonetes. Apresento estes dois itens por serem díspares. Também quero comprar cereais e pão e farinha e manteiga. Na última vez que me joguei às compras precisava de manteiga e, como por ora já não se põe o caso de lá ir semanalmente, resolvi trazer logo quatro pacotes porque manteiga é um daqueles artigos que não dá jeito nenhum comprar ao redor do estaminé, uma vez que derrete rapidamente e, uma vez levada de volta ao frigorífico, nunca mais apresenta a mesma textura. E trouxe os tais quatro pacotes, só que daquela sem sal. Não faz mal nenhum, já sei, come-se na mesma e mais não sei o quê, ademais uso-a nos bolos, pois claro, é aliás um dos meus costumes antigos, mas pronto, no pão, a manteiga com sal é outra finura, outro prazer. Com tudo isto e por tanto disto, amanhã vou ter que comprar manteiga da de pôr no pão. É. Logo quatro pacotes. Se calhar trago mas é seis. Ou sete.

Um domingo não é assim tão diferente de um sábado, o que muda muito, e obviamente de mim falo, é o sentimento, já que é o último dia de descanso e não o primeiro. Um domingo comum contém então limpeza da casa, roupas e louças a lavar e o fazer da sopa, quando ao entardecer. Há também dedicação a um certo descanso. Escrevo no blogue e, se raramente é pouco o que escrevo, ontem é um bom exemplo disso. Às vezes a família vem cá almoçar ou jantar, ontem veio, o que fez desse domingo um dos bons.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

14 de Junho de 2021

Daqui por uma semana chega o Verão e o Solstício que lhe pertence. Têm portanto os dias mais esse período para lhes crescer o tempo de luz. Daí em diante desce a luz nos dias e, se ao início mal se nota, ao meio é a pique. Nunca fui tanto da escuridão como agora. Noto também que permito desculpar-me por ser assim. Assim, ou de outra maneira qualquer, tanto faz, afinal alguma coisa tenho que ser. Sou eu, a Gina.

Agradecida pela célere resposta. No seguimento contactarei o cliente e mediante o seu desígnio assim actuarei.

(pá, não há nada melhor do que escrever pela parte de fora)

Sonho

Sonhei que estava desesperada com o número de horas que tinha para viver durante o dia porque não dormia de noite, procurava tarefas em número suficiente para me manter ocupada durante o maior espaço de tempo possível, dia e noite e dia e noite. Era demasiado tempo para viver acordada e ocupada, o que eu precisava mesmo era de dormir.

Dimanche

Um domingo não é assim tão diferente de um sábado, o que muda muito, e obviamente de mim falo, é o sentimento, já que é o último dia de descanso e não o primeiro. Um domingo comum contém então limpeza da casa, roupas e louças a lavar e o fazer da sopa, quando ao entardecer. Há também dedicação a um certo descanso. Escrevo no blogue e, se raramente é pouco o que escrevo, ontem é um bom exemplo disso. Às vezes a família vem cá almoçar ou jantar, ontem veio, o que fez desse domingo um dos bons.

domingo, 13 de junho de 2021

oh, les chiens!

Ah, Coco era leur chien que desaparecera, e ela incansável, procurando o bicho, cantando 'qui qu' a vu Coco', ah. Gabrielle Chanel apontava o número 5 como sendo o da sorte. E foi. Hum. Parece a mim, que nada sei, óbvio.

Do título deste post desce republicação. Lembrei-me. Foi assim, ó:

Para sempre recordadrei le chien de Seissan. Não cheguei a perguntar-lhe o nome, por saber de antemão que mo não diria. Não cheguei a perguntar à dona porque não. A dada altura ela desculpou-se com um 'oh, il passe partout!' e eu percebi que estava a chamá-lo de Barto (Bárretô), só que não. Em França les chiens andam livremente pelos espaços comerciais, mesmo os relacionados com a hotelaria, agora se a legislação permite ou não, hum. Mas este cãozinho era vraiment amistoso. Lembro-me dele a rondar a mesa onde jantei, esperançado de lhe ser oferecido algum pedacinho. Disto ou daquilo.

Este item é que já não sei onde foi vivido. Eu tinha entrado numa recepção para apreçar a estadia e enquanto falava com a senhora dois cães assim para o grandinho mostraram jeitos de não me quererem por perto. 'Oh, les chiens!', exclamou a senhora. A piada que teve foi o tom de voz ser de ralhete. Sei lá, talvez assuma automaticamente que a frase oh les chiens seja algo fofinho para se dizer aos bichinhos. Só.

E a minha casa, será que tem fita métrica?

Sim! Várias. Das do tipo para a ferrugem e das dos trapos. Das do primeiro grupo não sei quantas tenho, mas seguramente mais do que uma, afinal este é um lar de ferrageiros, e das dos trapos tenho duas. Ou três. Fui certificar-me, são três, são.
Uma vem dentro de uma rodinha que a suga logo que calco o botão para tal. Quando a quero usar puxo, simplesmente. No fundo é igual às da ferrugem mas em fofa. E alva, para credibilizar fofura. E redonda, que credibiliza algo, sei lá o quê. Fofura, pronto.
Uma vinha dentro de uma rodinha que, se não era igual igual igual à que descrevo acima, então distava bem pouco dessa aparência. Um dia, a mola puxadora - ou sugadora – brecou, cortei a amarra que tinha com a carapaça – leia-se rodinha - e passei a usá-la assim. Toda de fora, quero eu dizer.
Uma é herança da minha sogra. Ou espólio. Legado, também fica bem dizer. Andava lá por casa aos rebolões e o Luís trouxe-a. É daquelas mesmo mesmo mesmo à costureira, a cada dez centímetros muda a cor, frente e verso sem saberem qual é qual, pois que num lado de uma extremidade está o 1 e no verso dessa mesma extremidade está o 150. Jogo-me à outra ponta e dá no mesmo.
E pronto, são três, as fitas métricas feitas a pensar nos trapos.

(porque a pessoa é que manda nisto tudo)

pode-se tirar a pessoa do não-sei-quê mas não se pode tirar o não-sei-quê da pessoa

Não há mata-borrão.

Em tudo é para ser nem sempre nem nunca. Está bom de ver que à partida já há borradela. Hum-hum, no 'tudo'. E não há mata-borrão.

Surpresa

Vi num vídeo alguém dizer que em mudando a estação, muda a decoração da casa. Não numa de consumismo, mas assim como eu, vá, que mudo a roupa de sítio – se vem o Verão ponho no roupeiro a roupa dessa estação, quando já antes hei retirado de lá a de Inverno. No fundo no fundo faço uma troca, como, aliás, faz um grupo imenso de terrestres. Mas esta pessoa troca cortinados, coberturas de sofá (e de cama, mas esta não é assim muito estranha, sempre fiz isso, daí o registo no meio de parênteses), tapetes, almofadas e, até, peças decorativas. Expõe uns, arrecada outros. Como eu faço com as minhas roupas. Diz a pessoa que há coisas e cores que lhe conseguem inspiração e promovem harmonia se em determinada estação. Presumo que, agindo assim, se sinta uma brisa limpadora percorrendo toda a casa, lá isso. Mesmo que a nova estação seja o Inverno, sim sim.

O copo que, ainda assim, é bonito.

Comprei dois copos de pé com o propósito de os usar para o sumo de laranja. Na prateleira havia em azul mas escolhi o âmbar porque me pareceu que a laranja obteria maior destaque se em conjunto com a purpurina do que com o cobalto. Quando ensaiei a junção de cores, imediatamente antes de beber o primeiríssimo sumo de laranja por aquele copo, mudei de opinião. Gosto de mudar de opinião mas também não. Gosto porque acalmo o desassossego que brota perante as dúvidas. Não gosto porque me fico por tola e a par com o desnorte, e o desnorte é aquela sensação de não saber porra nenhuma, afinal. Mas os copos são bonitos na mesma. Gosto de todos os copos. Não gosto de copos de plástico. Por vezes vejo uns que ao longe parecem de vidro, quase sacavenenses, mas, se lhes chego e lhes pego, sinto ali um passou-bem mal apertado, um daqueles indesejados e que a pandemia erradicou, por assim dizer. Que não se desdenhe do mal, afinal. Por ora também já toda a gente sabe que. E aprendeu a. Qualquer dia deixamos de. Ou em. Mas os meus copos. Lamento não ter escolhido trazer os meio que azulados. Oh.

Vila Nicolau

A ti Leonarda foi morar para a casa onde vivi até aos seis anos. Não sei onde morava antes mas a casa que deixávamos deve ter-lhe calhado bem, afinal a Vila Nicolau era dela, assim ficava no que era seu. A minha vida tem dois marcos ocorridos pela mesma altura, a mudança de morada e a entrada na escola. Por coincidência, dez anos depois fui trabalhar numa pequena fábrica de costura que ficava num barracão junto às traseiras da Vila. O terreno onde estava o barracão era também pertença da ti Leonarda, que alugava o barracão à dona Ermelinda, a minha patroa. De vez em quando a ti Leonarda acedia ao barracão para cumprimentar a inquilina e as súbditas, às vezes até ficava a ajudar, cortando pontas ou cosendo botões. Perguntava sempre pelos meus pais e pelo meu irmão, não só por cordialidade mas porque gostava de nós. Lembro que se vestia sempre de preto porque entretanto enviuvara, tinha uma voz grave e uns lábios grossos. Usava lenço...? Vejo-a de lenço preto a cobrir a cabeça mas posso estar a confundir com as minhas avós, que essas sim, sempre as conheci enlutadas até mais não. Um dia adentrei a casa da ti Leonarda e estaquei, admirada com o tamanho da sala onde dei os primeiros passos. Mas que coisa mais minorca... Caraças. Nunca mais me esqueci disto. A ti Leonarda fez logo este mesmíssimo reparo, claro, mas eu, na altura tão jovem, nunca me havia passado pela cabeça que esta diferença fosse acontecer. Foi tal que nunca mais esqueci.

9924

o croqui que eu acabara de compor quando soube que a minha mãe morrera

sábado, 12 de junho de 2021

Coordenadas


Acima está uma foto que tirei porque gostei que as porcas tivessem impressas as letras CP, de Comboios de Portugal. São portanto porcas personalizadas. Gostei daquilo e captei. Gostei daquilo e não só, gosto de fotografar o chão. Gosto de pedras, folhas, terra, flores, calçada e, obviamente, linhas de comboio. São coisas de chão, rasteiras, algo pobres, não na existência ou na poesia, mas estão lá em baixo e são para pisar, essa poesia é feia. Por vezes coíbo-me de olhar para o chão, olhar para baixo é prisão, dormitório, nuvem, frio. Olhar para cima é avançar e tropeçar, avançar é sempre avançar e tropeçar não é cair. Antes para cima, antes antes. Tirei outras fotos, que fui colocando no blogue. Sobrou esta. Hoje fui dar com ela na memória do telefone: é de 22 de Maio, o último dia que vi a minha mãe. Abaixo está um print do ponto exacto onde se encontram as ditas porcas, disponibilizo as coordenadas do mapa: 38,020, - 7,800, quem sabe alguém as queira visitar e assim já pode lá ir.


mnemonizar

À conta de sei lá eu, já mal malembra, descobri uma palavra mui linda, tanto no seu significado como na construção – desde quando um éne logo seguido de um éme...?! Mas, mas, mas. Portanto: mnemonizar significa que é fácil de reter na memória. Ah, quão faltosa de mais itens com esta característica estou...

- e muita, muita louça.

Tenho (portanto) lavado a louça manualmente - e muita, muita louça. A máquina que me aliviará desse tormento já está encomendada, chegará ao lar, por essa altura faustoso, dentro de cinco dias.

Hum...?

A minha cadela não percebe quando digo 'linda da dona' nem 'ai que cão mais fofo que aqui está'. Está tudo nos conformes, afinal humano nenhum entenderia patavina disto dito assim. Singulares opiniões, estas, afinal.

O meu pai

Quando em conversa telefónica, que falta me fez perguntar ao meu pai pela minha mãe, que corte bruto que isto é. Porra. Mesmo.

me, a plant lady

Tenho outra planta que trep as flais, só não garanto a sua eficácia porque chegou recentemente. Esta, em vez de bocas, tem copos parecidos aos de champanhe, mas ainda não percebi se lá dentro permanece um líquido ou liberta um odor. Se um, se outro, tanto faz, o certo é que terá que ter um poder atractivo para que lá pouse o mosquedo e. Esta, oh pobre, tem de nome Carnivorous Plant. Acho simplório, planta carnívora parece-me um grupo, não um nome, mas pronto. Entretanto, mas não por isso, pus nomes nas minhas plantas, não para as distinguir, antes para enaltecer as suas existências. A que purifica o ar e da qual (ainda) desconheço a espécie, é a Rosária, o nome da minha mãe, a primeira carnívora, as das bocas, é a Chica Júlia, o nome da minha avó materna e, por último, a segunda carnívora é a Mariana, o nome da minha avó paterna.

A minha mãe

Encarei o meu irmão e senti-nos iguais - se a mãe é a mesma, igual é a perda.
Talvez duas frases resumam o que senti:
fomos manos
outra vez

quinta-feira, 10 de junho de 2021

A minha mãe

A minha mãe dava-me à boca bocadinhos de pão com toucinho à boa maneira alentejana.

A minha mãe atava o meu carapuço quando estava frio.

A minha mãe fazia-me roupas giras e modernas.

A minha mãe não deixava que predominasse o seu gosto pessoal nas minhas escolhas.

A minha mãe não dizia que vinha aí o homem do saco quando me portava mal.

A minha mãe ia ver as festas da minha Escola porque eu participava nelas.

A minha mãe seguiu à risca, quando o dinheiro não abundava, uma dieta especial que o médico prescreveu quando tive anemia.

A minha mãe fez a minha bata para eu usar na Escola.

A minha mãe ralhava comigo quando eu arrastava os pés no chão e fazia uma nuvem de pó.

A minha mãe comprou-me um guarda-chuva amarelo.

A minha mãe comprava morangos assim que eles apareciam só porque eu gostava muito.

A minha mãe fazia-me um penteado aos canudinhos.

A minha mãe levava-me a visitar a minha avó ainda que estivesse de relações cortadas com ela.

A minha mãe ralhava quando me empoleirava nos portões e nos muros.

A minha mãe não deixou de me levar à Escola enquanto não lhe pareceu que eu estava preparada para ir sozinha.

A minha mãe não me deixava brincar ao sol.

A minha mãe dava-me os restos dos tecidos para eu fazer roupinhas para as minhas bonecas.

Em Julho de 2007 escrevi o que está acima, hoje escrevo 'a minha mãe morreu'.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Pois pois que não.

A senhora ouviu-me falar e perguntou-me se eu estava a falar sozinha, não indo nem por sombras buscar aquela benesse de 'ah, estava a falar comigo...?' Pois pois que não. De momento tenho a minha dignidade numa poça de água. Pequenina, claro. E suja, também.

Sonho

Sonhei que ia comprar lâmpadas ao vizinho, que não vende lâmpadas, olarila, e que tinha o estaminé dele às escuras. Eu é que vendo lâmpadas e ele tinha o estaminé (dele, repito) às escuras. Não sei por que caso ou figura me desceu este sonho, mas lá que é giro pra caraças, é. Entretanto, pá, ele vendeu-me as lâmpadas, só que eram assim a modos que montadas num rendilhado e, ainda por cima, não iluminavam porra nenhuma. Ficámos os dois às escuras, portanto.

Para aí uns

O meu colega baixou o balcão para aí uns quinze centímetros. De maneiras que, cada vez que o ladeio, sinto que alteei sem eu deixar de ser eu. Coisa boa, esta.

Lisboa, Lisboa

Subo a rua pelo alcatrão, rejeitando as calçadas. Só tomo consciência desta decisão quando percebo que a estreiteza das calçadas me apoquenta, ou o afunilamento, vá. As escapatórias que a mente encontra são imensas, lá isso, no fundo no fundo são decisões que tomo sem consciência. Rumos, se calhar é antes assim.

Lisboa, Lisboa

Do cimo do monte onde está o latim avisto um vale e outro monte (são portanto dois montes, são precisos dois montes para que um vale o seja). O lado de lá do segundo monte é que já não avisto dali, mas, como conheço, sei que há uma descida até ao rio, que ao início é ligeira e que ao depois acentua. Pus-me a ver se conseguia imaginar a cidade em montes, isto é: sem ruas, prédios e parques. No tempo da Lisboa em estado bruto, depois do segundo monte que aparece neste post talvez se avistasse logo o rio. Este vislumbre ainda consegui contruir (leia-se inventar) cá por dentro, mas depois disto não fui capaz de formular mais nada.

Toca o alarme

A vizinha Gislena agasta-se com os transeuntes sem máscara cirúrgica, considera a percentagem alarmante.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Vermelho

De jantar: salada de tomate. A cebola é que destoava.

Isto são horas

O relógio da torre marcava as onze e trinta e dois. Se calhar só o ponteiro das horas é que mexe.

a caneta roxa morreu no caderno do momento

#semfiltro2021

Lisboa, Lisboa

Vermelhos

De pequeno-almoço: chá de hibisco, pão de beterraba, compota de framboesa.

domingo, 6 de junho de 2021

Entulho. Gosto deste lugar, gosto.

Anexo

A casa da minha tia Diná tinha um anexo com uma cozinha alentejana que ela mandara fazer, embora já não morasse no Alentejo. Quando o meu primo morreu o anexo era bem recente e, como desde aí já pouco mais a vi, cá na minha memória o anexo está associado morte do meu primo. Também contenho na memória imagens do anexo, mas esbatidas, sei que tinha a chaminé mas não sei se se chegou a acender o lume. Numa visita em particular, a primeira depois da tragédia, vi a minha tia em pé, junto à mesa, faca na mão, uma casca de batata descendo para o alguidar, no rosto uma expressão desgostosa e irritada. Sim, irritada. Sempre estranhei este sentimento, parece que não combina com o sentimento de quem lhe morreu um filho, mas quem sou eu para saber destas coisas, ora essa. Mas sempre me fez espécie aquela irritação. E às vezes lembro-me. E agora calhou de escrever.
Antes desta desgraça ter acontecido, a minha tia tinha uma inquilina bem reinadia, contava anedotas aos pares e aos trios de cada vez, galhofa por entre e tal e tal, já que eram picantes. Essa inquilina vivia no sótão que era, a bem dizer, uma casa, mas em casinha, como há que admitir, afinal um sótão é feito de sobras e ali não era diferente. Lembro-me da escadaria para lhe aceder, ficava por fora da casa, via-se-lhe o tamanho, e era assim a modos que infinita. Esta inquilina frequentava a casa da minha tia, e tenho para mim que era sem pudor, ia lá ver a telenovela e ficava para o serão. E pronto, agora calhou de escrever isto.

Cheiro

Há dias senti no ar um cheiro igual ao da lixeira ardendo, de quando por estas bandas havia uma lixeira permanentemente acesa. Cheguei a ver os véus de fumo, de longe, precisamente porque era perigosamente perto, ou demasiado acessível. Não me lembro que circunstâncias fizeram com que eu visse os fumos, algum deslize furtivo...? Hum... Mas pronto, a vida já não acontece assim. Dantes também havia no ar o cheiro expelido pela fábrica de sebo. Era mau que eu sei lá, bem pior do que o da lixeira. Ambos os aromas que trago a este post apareciam no ar por conta da direção do vento, havia até quem soubesse que vindo dali (sei lá, noroeste...? [brincadeira]) viria o cheiro. Um ou outro.

verbos a fazerem-se de dos do futuro:

os subtis:
predizer; pressentir; prever
os comuns:
augurar; pressagiar; premeditar
os certeiros:
antever; antecipar

nota: estou encantada com o título
(e não ironizo, ora essa, é sério)