sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Lisboa, 31 de Janeiro de 2020

Há para aí uma semana ou duas que notei a tal 'penúge' nas árvores da avenida, tenho é esquecido de vos pôr ao corrente dessa novidade. Eu bem dizia que é janeiro o mês de aparecer, ia lá agora o de 2020 desiludir, é que nunca na vida. Para o ano cá estarei com a mesmíssima novidade. E o que vale é que vocês gostam de mim na mesma. E acabei de me lembrar de uma impressão que tenho há muito tempo – a de que os leitores do meu blogue gostam mais de mim do que daquilo que escrevo.

De eleição

Há anos elegi como melhor cheiro a lima acabada de cortar. Agora que me lembrei disto, a ver se amanhã as compro.

Bom dia 😁

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Boa noite. E sim, são agora mais do que estas horas.

Em cor creme

Uma mulher envergava um casaco com naperons aplicados. Em cor creme, um e outros, sendo estes de vários tamanhos e a aplicação parecia ter sido feita ao acaso.

Cliente especial

Um menino veio com o pai para comprar algo com que pudesse brincar e que custasse o preço de uma moeda que recebera do avô. Não sei se foi oferta do avô mas assim a história fica como um vaivém, vai – avô do pai do filho; e vem – neto do filho do avô. Depois de muitas ideias eu lhe dar, por fim decidiu-se por um porta-chaves, ao qual fiz um desconto do caraças.

Indecisão, o título

É mesmo isso...
De a gente...
Pois...
De a gente...
De levar um sustinho…

(Indecisão, o desenvolvimento)
(E o 'sustinho', giro que é?)
(foi uma cliente, foi)

Ós

Ó kit, não me apetece nada fazer isto - Eu, a lamentosa na alma
Ó Kat, não me apetece nada fazer isto - Eu, a desarranjada da massa cinzenta
Ó Gina, vai beber um copo de água que isso passa - Eles, em afinado uníssono

E fui. Usei o copo com os morangos que escorrem copo abaixo e mais não sei o quê.

Graminhas

Mil duzentos e vinte e cinco gramas de bananas
Quinhentos e sessenta gramas de maçãs

E isto tudo sem histórias. E o nepalês da frutaria com um casaco de riscas grossas. A mim parece salvadorenho, o casaco do nepalês. Chegou-me a ideia de alguns feirantes com os quais me cruzei e que tenho na ideia que são salvadorenhos. Mas olhem, fica então uma história. Na mesma. É.

Prefiro - e obviamente espero - que não seja, mas parece um registo fúnebre.

Frente e verso. E a frente tem mais sombra. E até eu lhe fiz mais sombra.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Lisboa, Lisboa

Musgo

A árvore amarela tem musgo, e não é pouco. Tem-lo sobretudo nos cotovelos mas consta também no tronco-mãe. As partes contempladas são as que primeiro recebem tudo quanto é intempérie. Tem chovido um bom bocado em Lisboa, lá isso é verdade.

Sonho

Sonhei que queria escrever no canhenho e não encontrava a última linha que escrevera. Folheava, folheava e nada. Parecia até que se escondia de mim o que havia escrito e que tinha que escrever tudo de novo. Ou então não tinha que escrever nada.




Depois sonhei que fumava charuto. Passas pequeninas, que aquilo é bruto | charuto → bruto | ah ah | Pá, depois acordei e tal e tal.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Relatos que do chão vêm

Encontrei-me com um pano enrolado como um canudo. Pareceu-me rasgado, sem remate, como se de aproveitamento de pijama velho se tratasse e nada mais houvesse a fazer-lhe do que remetê-lo para pano de limpeza. Mas em canudo ficou bonito.

Encontrei-me com um clipe esventrado. Não, aberto. Aberto, vá. Parece um coração, pois parece. Eu dou-lhes essa forma, quando já não gosto deles, por estarem enferrujados ou coisa assim. Dou-lhes este tratamento: abro-os e deito-os fora. Ou seja: primeiro estrago e depois digo adeus. E isto a um clipe que parece um coração.

Encontrei-me com um cotonete com suas extremidades – o algodão – desfiadas. Terá sido usado e daí o aspecto? Terá sido atirado e à conta de ventos e de chuvas é que vem daí o aspecto?

Encontrei-me com um pedaço de mola da roupa, comummente composta por plástico e metal. Quantos e quantos rebolões sofreu aquela mola para se lhe ter partido as pontas... Não é? Vai andando, vai andando e parte-se. Claro que a mola de metal dá resistência ao plástico, dá como que um abraço, vá, mas as pontas vão enfraquecendo, partem-se e a mola vai ficando pequena e, portanto, imprestável – quem consegue abrir uma mola sem pontas...?

Encontrei-me com um tubo sem rolhinha e com bico. Portanto corta-se, não se desenrosca.

… então e novidades?

há momentos e momentos
e pessoas são pessoas
e há todo um rol de coisas
e tudo o que existe é porque há
e há tudo
e tudo existe

Pessoas

Pessoas são pessoas. Umas são iguais a essas. As demais também. As pessoas são categorizadas para não estarem todas ao monte numa só categoria. Desculpem, bem sei que isto não tem jeito nenhum, são coisas que me vão passando pela cabeça, e díspares, porquanto ando de volta de um contrato de trabalho, o que tem tido efeito naquilo de pipocarem ideias na minha cabeça, sem que contudo lhes encontre razão quando em conjunto, que isoladas são felizes. Ai são, são.

Inerências do café

1
O depósito da máquina de café leva cinco canecas cheiinhas de água. Despejo uma a uma, repetindo os gestos cinco vezes – abre torneira, deixa encher, fecha torneira, despeja no depóstio. Sim posso simplesmente retirar o depósito e colocá-lo debaixo da torneira, mas assim já não faço esta dança toda, e eu gosto de a fazer.

2
É mais confortável colocar as cápsulas no dispensador se abrir o pacote pela extremidade que me apresenta os rótulos com os dizeres na melhor posição para os ler. Isto porque sou mulher para ler dizeres que se encontrem numa pior posição, concretamente ao contrário. Ora bem, encontro-me, ainda, demorada a chegar à perfeição, que quando vou para abrir o pacote não malembra de olhar para os dizeres. Mas um dia eu chego lá.

Não acabou nada a conversa.

Não acabou nada a conversa. Sempre que me encontro num lugar público, e em que a minha presença ali inclua uma espera por atendimento, a mesma inclui por sua vez uma mais-valia, a de poder presenciar situações ou perscrutar semblantes, que posso registar, e logo ali – saco do bloquinho rudimentar ou do canhenho e embora lá rabiscar as coisinhazinhas do costume. Ora isto contrapõe, ou abafa, a questão de me ser difícil encarar expectativas de qualquer espécie. Resumidamente: não só o escrever me distrai como o querer escrever, vindo este, aliás, antes, podendo inclusive bastar para me distrair. Em tudo há um lado positivo. Às vezes é uma procura rebuscada, rente à mentira ou então uma ideia por mim embelezada, bem sei, mas há.

No princípio

Começo o dia de escrita com uma divulgação estupidamente... Não, especialmente interessante. Encontrei algures uma folha de linhas com desenhos e palavras. Os desenhos são um urso fofinho e uma flor que é uma túlipa. O urso não diz mais nada senão fofura e, a túlipa, a pessoa que a produziu pô-la em três línguas: fleur, flower, flor. Pronto, eu especifiquei - túlipa - a pessoa não. Logo que esfriou a paixão pela descoberta – gosto sempre de encontrar coisas manuscritas por outrem, sei lá, faz companhia ou coisa assim – decidi que fotografaria este conjunto e colocaria a imagem como pano de fundo no meu telefone. A folha é branca e, em imagem, mal se lhe nota as linhas. Por ser uma imagem tão branca, toda a informação que o cimo do meu telefone continha, aparece agora em preto -  em vez de branco - sendo o preto uma forma de contrastar com o branco da imagem. No meu telefone, não deixa de ser engraçado ver o sol - se redondo e destemido, o que não é o caso de hoje - em preto, bem como os graus que estão, os que estiveram e os que estarão; o dia em si – horas e data - o nome da cidade onde estou; o balão que no mapa indicará a minha presença e ícones vários: sinal de despertador activo, pilha sinalizadora do estado da bateria, gráfico do que resta dos dados móveis e gráfico do tamanho da rede que há. E, já agora, deixo a imagem.



domingo, 26 de janeiro de 2020

(hum-hum, é isso, é)

Há dias em que escrevo tanto e há tanta baralhação na minha cabeça que me parece estar tudo misturado e depois afinal é tudo mentira. |Gina, aos 8 de janeiro de 2010|


|ou então: Gina, aos vinte e seis de janeiro de 2020|

Documentos

Tenho dois recados para fazer numa só saída. Um deles é entregar um documento e o outro é ter uma consulta.
O documento tem um quê muito especial – posso tratar da questão de duas maneiras, uma menos 'como deve ser' do que a outra. São, contudo, fáceis fazer, mas não me decido porque pode haver prejuízo no juízo que façam de mim, e isto em ambas.
A consulta traz também um documento com lugar, data e horário a comparecer. Está tudo bem com o lugar e a data, é no horário que a porra se encontra – 11:30 – Além destas coordenadas é-me recomendado que chegue 30 minutos antes de modo a provar a minha presença – olá, o meu nome é Gina! - e a dar despacho ao pagamento – ah...! - Mas – e lá vem ele, o 'mas' - a senhora doutora apontara à mão – 11:20 – sem rasurar nenhum dos outros números – 11:30 e 30 – o que me leva a uma pertinente inquietação – será
10 minutos antes do horário impresso e daí subtrair os tais 30 com que é preciso contar?
11:20 é 11:20 e é aparecer nessa hora e acabou a conversa?

É isso mesmo, acabou a conversa. Não acabou nada, falta dizer que dei entrada às 11:10. Tipo assim a meio termo, vá. E agora é que acabou a conversa. 

Comprinhas

São agora outros, os lenços de assoar. Outros padrões, quero eu dizer. Há-os
de quadrúpedes
- que reconheço serem zebras -
de peixes
- dos quais desconheço a espécie -
de ananases
- então, pois claro que são, até os há em metades -
de ramagens
- que sei lá eu que nomes carregam, mas sei que são três espécies, uma afirmo que é costela-de-adão, duas alvitro serem caniços, três parece algo arrimado à folha do bambu
O fundo das zebras é rosa-choque, o dos ananases é cor-de-laranja, o dos peixes é azul-turquesa e o das ramagens é verde. As zebras e as ramagens têm cada um sua embalagem e os outros dois padrões, os ananases e os peixes vêm com duas embalagens cada um, perfazendo, assim, seis pacotes de lenços de assoar.

Não tendes de quê, ora essa. Diz a pessoa que constrói este blogue que lhe é imprescindível registar umas quantas questões de verdadeiro interesse.

Corpanzis

Gostava aos bués de ver uma expressão de desdém e espanto... Quero dizer, o espanto primeiro, claro, e mais, e melhor, e depois é que aparecia, em tamanho de tudo-nada, o desdém, e isto na cara de alguns corpanzis que se passeiam pelo Ginásio. E, no tal passeio, quantas vezes para descansar por entre ferros, oh poor children, espreitassem eles para o valor dos pesos que levanto. Mas não espreitam, não lhes nasce curiosidade alguma. O que lamento. Gostava. Aos bués.

Janeiro

Daqui por seis meses é julho, que é um mês tão comprido como o janeiro d' agora. É que tem os mesmos dias e horas e tudo e tudo, só por dizer que não se quer vê-lo acabado porque é Verão. Hum, ok, vá, julho não tem um feriado, como o janeiro d' agora, mas pá, pronto.

Cremes

É raríssimo combinar cremes de rosto, para o dia e para a noite, que sejam da mesma marca, mas é isso o que agora está presente na minha vida, e descobrir um modo de não os trocar foi demorado. Demorou até ao dia em que percebi que o boião que contém o creme de noite é mais escuro, o que parece ter sido propositado, se afinal a noite é mais escura do que o dia. Às tantas, lá nas fábricas, organizaram-se de modo a que pessoas como eu se organizassem.

Cursores não são autocolantes

No cacifo estava um autocolante de maçã de Alcobaça. Colado. Como eu os colo no estaminé. Até parece que fui eu que o colei, mas não fui. O nepalês da frutaria também cola autocolantes, e é na parede do seu estaminé, dá para perceber que não são os das maçãs de Alcobaça, mas também não sei do que são. Depois retirei o autocolante do cacifo e antes disso tinha puxado o fecho da mochila e retirado algum do ar que lá estava e há que dizer que esse ar saiu pelo orifício que há por entre cursores. Sempre haverá, afinal cursores não são autocolantes.

Verde

Quando tirei esta fotografia notei o bonito relevo no tecto. A vontade de fotografá-lo foi também sentida mas não muito preenchedora. O que me preencheu foi a visão oblíqua que obtive quando parti do aplique. Essa é que seria uma fotografia, a! fotografia. Na minha cabeça estava espectacular, quiçá também a lente a conseguisse.

não vá não se perceber

só para cartas, correio não

e fez-se luz

(outro*) Baú

Isto de ter os filhos crescidos tem destas coisas: encontrarmo-nos na rua inesperadamente. Vinham os dois lado a lado. Ela conversava animadamente como é seu costume, minorca ao lado do irmão, despreocupada, leve, sorridente. Tão jovem… Ele calado a ouvi-la, desembaraçado no andar, com aqueles olhos que se percebem enormes mesmo à distância, parecendo sempre tão ausente mas com um mundo de emoções no olhar. Eu bem sei.
|12 outubro 2010|

*...

Lamirés

Do rico filho também tenho lamirés. Sempre que usa o meu carro deixa o cd no leitor (pá, claro, por conta de quê não deixaria…?!) e ontem dei com este som:






E como é que cheguei a esta informação tão rapidamente? Com o OK Google. A canção toca no rádio, ligo as netes, clico demoradamente no botão redondo, liga-se automaticamente o tal do ok, o qual me dá uma série de opções, mas, no comum ser desta facilidade, a oferta é em termos de perguntar o que é que a gente quer, e a gente pode querer saber de restaurantes ali perto, ver um vídeo em específico, o significado de uma palavra ou, lá está, qual o nome da música que está a tocar. É esperar uns segundos, enquanto o telefone lê os acordes e pumba, chega a informação, vinda, inclusive, vocalmente. Mais: para além do nome do artista e da canção, a página que se nos abre vem com links para o vídeo e para a letra. Enfim, só coisas boas. 

Completação

Daquilo de a rica filha completar os meus lamirés, há pouco, em modo Beyoncé, foi assim, ó:

Trauteei:
You must not know about me, 
you must not know about me

E logo ela:
I could have another you in a minute
Matter of fact, he'll be here in a minute, baby
You must not know about me, you must not know about me
I can have another you by tomorrow
So don't you ever for a second get to thinking
You're irreplaceable

Um descanso

Pode o mundo, e eu, descansar, mos - já lavei o frigorífico e o micro-ondas. É que os tenho um ao pé do outro e aquilo foi só ir seguindo. Aliás, tenho, até, uma casa especial - o frigorífico e o micro-ondas estão na despensa. É.

Dois tipos

Há no mundo motard a brincadeira de se dizer que só há dois tipos de motards: os que já caíram e os que vão cair. E pronto, pertenço, desde há umas horas, ao segundo grupo. De nada, ora essa.

Pequeno-almoço

Quem, um dia lá longe, se lembrou de juntar manteiga amolecida a pão mole, foi brilhantemente brilhante. Depois houve um parvalhão qualquer que se lembrou - ah, vamos pôr aqui um alhinho e salsa muito picadinhos. Mas eu cá acho que era de não mexer mais na equipa.

O mapa

Quando acordei era ainda noite mas não me levantei para ir espreitar o mapa de França lá no cimo do abacateiro. Quem sabe se notasse já, com a ajuda do céu de Portugal, Loures Cité, e do lusco-fusco.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Gina, numa relação com o supermercado.

Não me apetecia nada, mesmo nada, ir ao supermercado. Era uma coisa tão no extremo que me pus a rir. Sabem aquela sensação de chegar a um topo – ou fundo – e isso simbolizar que daí só descer – ou subir, pois claro – vai daí parece um impasse e o melhor é rir? Então pronto, foi isso. Esperem, estou a lembrar-me que pode ter sido efeito do café duplo. Quem sabe.

Chegada às portas do supermercado notei, pela vez quinhentos mil e novecentos, que as portas se me abriam. Sério. Eu chego e pumba, abriu-se a porta. É. Eiche!

Quer dizer, agora que já não é Natal é que vi uns guardanapos todos giros para pôr na mesa. Oh. Estes têm losangos de muitas cores, o que arrima ao estilo psicadélico.

Folha de alumínio. Ai. Havia uma embalagem com ele reforçado e outra sem reforço nenhum. Este último era mais barato uns cêntimos e tinha o triplo dos metros. Escolhi-o.

Não preciso de comprar copos mas gostava de ter copos bonitos. Estou de grande porque agora não há copos bonitos nas prateleiras. Au eva, preciso de tacinhas e há umas bem giras nas tais prateleiras, só por dizer que não me jogo a elas. Nunca tenho sossego, é verdade, é.

Quando me meti no corredor da vida animal revi o que tinha escrito na lista de faltas:
biscoitos cão, dentes, redondo, recheio
Isto porque era para comprar uns biscoitos que são especiais para os dentes da bichinha, são redondos e têm recheio. Não encontrei. Au eva, encontrei uns que dizem ser de búfalo e fiquei com o caso arrumado. Mas desde quando é que a Olívia se vai negar a comer biscoitos com sabor a búfalo? Nunca!

Retirei uma embalagem de gel de banho da prateleira. Não por estar precisada mas porque estava em promoção. O gel de banho é presença assídua na minha casa-de-banho, de maneiras que já ficava, se afinal a gente lhe dá uso, pois que. Mas não. Ponderei e decidi que não, o que foi coisa de ocorrer ao passar por uma outra prateleira que continha os mesmíssimos géis. Despedi-me afavelmente: olha ficas aqui, para a semana venho cá buscar-te. Hã? Se vou? Pois vou!

Comprei atum fresco porque de conserva já cá havia.

A senhora da caixa horrorizou-se com o choque de temperatura por entre a - sua - cara e as - suas - mãos. Ai, fez ela, e depois explicou-me o que já vos expliquei.

Ca carro mai lindo! - Brinquei eu, quando lhe cheguei ao pé. Uso da mesma lamechice quando chego ao pé do cão – Ca cão mai lindo! É, trato de igual modo carro e cão, ainda que não sejam elementos comparáveis. Junto também pessoas aos meus cumprimentos, mas é de longe a longe. Já às coisas dou, de longe, hordas de atenção. Sempre quis que hordas figurasse no meu blogue.

Pudim com bolo.

Fiz bolo-pudim para acabar com o caramelo líquido que havia feito, se bem me lembro, para a Passagem de Ano. O caramelo copiei daqui. O bolo estou, não só com um bom bocado de preguiça de pesquisar e colar aqui a receita, como cheia daquele pesar - ai ó pá eu tenho tanto, mas tanto e tanto, mais o que escrever! Mas pronto, já sabem, e afinal sempre nos demos bem, vocês querendo é dizê-lo, que logo tratarei de vos satisfazer. O bolo-pudim está lindo. E bom. Ah, e não, não há foto.

Está um bocado de frio e tal. Ainda. Estas fotos têm uma série de dias, não me lembro lá muito bem onde as captei - E depois, né? (É.) - nem me vou esfalfar para lembrar - Que é lá isso! - mas esfalfei-me para me lembrar por que raio ou miséria terei editado as fotos pondo ali umas setas. E eis que me lembrei: foi para disfarçar uma coisa branca que tinha ficado no cenário que, sem escrúpulos, havia tomado para mim. E não é que está mesmo bem disfarçado? Portanto: não foi por um raio mas por uma miséria.


Quando de manhã

De manhã, depois do pequeno-almoço, fui espreitar o abacateiro, não fosse, mau grado tanta chuva e tantos ventos, o seu cimo deixar de ter a forma do mapa de França. Não deixou. Homessa, mas qual quê, lá estão eles, o mapa e o cimo, unidos cá pela minha ideia, que, de franca, tem tudo. Não, tudo não, mas tem muito.

Uma vez fui a Londres

Uma vez fui a Londres, pois fui, e este post ficou-me na lembrança desde que o criei. Aqui há dias tive o disco externo aberto (lá se conseguiu) e catrapisquei logo toda a pasta que contém as fotos desses dias. Como já registei no post hiperligado acima, em 2005 os pixéis não eram o que são hoje, de modo que as fotos onde se vê Londres no seu esplendor, não têm esplendor nenhum. Pois. É óbvio que posso publicá-las na mesma, o blogue é meu e mais não sei o quê, mas acontece que a maioria dessas fotos tem pessoas, são aquelas características fotos de grupo, olhó passarinho, say cheese e tal e tal. Não. Então decidi-me por uma onde se vê uma pele de porcelana, um rico filho em modo fêmea (o rapaz é parecido comigo, sempre foi), uma pose tímida por conta de um não-sei-que-cara-se-faz-quando-nos-estão-a-apontar-a-lente. Estávamos à mesa de um restaurante. Clique.


Azuis na minha vida

De azul tenho, por ora, vários itens para me abrilhantar os dias:
A caneta, a tal azulinha. Querendo saber mais é clicar aqui. Depois, também em querendo, daí é clicar e clicar que tudo sabereis.
A caixa de óculos, que nem só de azul reza mas também de cor-de-rosa, e por conta dos flamingos, que ainda não os inventaram de outra cor. Há também minúsculos corações brancos. Ah, as perninhas e os bicos dos flamingos são brancos. É para condizer, presumo. Noto agora que há também uma linhita branca a fazer o delineado de asas. Mas lá que predomina o azul, predomina.
O caderno. O canhenho, como me propus chamar-lhe. O canhenho é o meu diário manuscrito.
O fio de pendurar e segurar o telefone. Adquiri-o porque inventei que me era necessário aquando das minhas deambulações, em me apetecendo gravar ideias. Assim está sempre à mão. Dá um jeito do caraças no supermercado, ao momento há uma catrefada de posts cujo estado embrionário foi um áudio que gravei, e, com a presença de uma paneleirice destas, será, indubitavelmente, mais confortável gravar as coisinhazinhas que me aprouver. 

O cheiro

De volta do passeio com a cadela, chamei o elevador, que estava no sexto andar, e, quando abri a porta, cheirou-me a panados de qualquer coisa. Eu ia fazer de peito de peru, e já fiz. Pronto, eu e copianço por sobre a vizinhália, já se sabe. É que não posso nem cheirar nada, que logo copio.

Tenho os olhos quentes.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A banana

Novidade

A avenida de Paris tem semáforos na outra extremidade. Sentei-me num daqueles bancos. Os novos e imaculadíssimos. É. Para apontar esta novidade. Digo agora - em pé e no estaminé e em pé porque estou também agora escrevendo no telefone - que via todas as letras do que escrevia, o que também é novidade.

Quivis

Paquita ofertou quivis vindos lá dos cimos da Espanha. São minúsculos, mas que importa isso, né?

Tome nota, por favor.

Amandinha, minha querida, ficamos marcadinhas para as catorze e trinta de amanhã, está bem, meu amor?

Do que eu gosto mesmo é das ovelhinhas, se bem que a duplicação não desça somente daí, vem também do deixa-lá-ver-como-fica. E ficou.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

(hum-hum, é isso, é)
(nada como estar sozinha e, preferencialmente, calada)

Amigos

O sol e o frio amigam-se se se encontrarem no meu corpo. Ou seja: um aniquila o outro. Sou mediadora e pousada para ambos, fundimo-nos. Pronto, cenas.

Animalíssimos

Grupo de animal mais silencioso que os felinos... Só se for os peixes. E mesmo assim ajudados pelo abafo que as águas fazem aos seus sons. Os peixes falam? Falarão?! Talvez não, afinal não são os peixes que fazem as peixeiradas, são as peixeiras.

Vídeos

Quase todas as semanas faço vídeos com os bichos-gato, o Kit e a Kat. Atentai no seguinte: gosto de contracenar, aliás: interagir com os bichos-gato. São vídeos onde o meu costume é ficar atrás da lente, os protagonistas são eles, eu apenas vou falando e dando um toque humano à questão (sim, que um toque felino ia ser difícil e tal...). Quase todos esses vídeos são feitos principalmente por conta de a dona dos bichos-gato adorar vê-los, a eles e aos vídeos, sendo, aqueles, parte da sua vida, e estes meus vídeos são uma prova do afecto que lhes tenho. É. Então obrigo-me. Não é nada mau fazer agrados às pessoas, homessa, antes pelo contrário. Mas ó: eu gosto de fazer os vídeos, os bichos são fofos e dóceis e este relacionamento ensinou-me a gostar de gatos. Não que não gostasse de bichos destes, mas são muito diferentes dos cães, os quais, quanto a mim, são, no geral, melhores.

Quem é o cão mai fofo e mai dócil (e mai lindo!) da dona, quem é? É a Olívia, a minha cadela.

Chuva

Agora que chove uma outra chuva venho contar do dia da última chuvada em Lisboa, durante a qual calhou de andar na rua e, por conta disso, cheguei encharcada ao estaminé – casaco pingão pelo peso da água, pés enfiados como que em aparadores do dilúvio e cabelo escorrendo – e isto sou eu a resumir. Bom. Então. Logo que pude tratei-me e, em complemento, tratei dos meus sapatinhos do momento, enfiando-lhes folhas de jornal para absorver melhor a humidade que para ali ia. Numa de dar despacho ao expulsar dessa humidade, coloquei os sapatinhos dentro de uma das montras, escolhendo um lugar onde corresse a aragem, o que evidenciou a presença dos ditos. E eis que vem de lá o Antunes: - Pá, ó juventude (é assim que ele nos trata), agora vendes sapatos? E o meu colega que sim, mas não aqueles, aqueles são da Gina. E ele muito espantado. E o meu colega que sim, vendemos. E ele muito espantado. E o meu colega que vendemos sapatos para as obras. E ele muito espantado.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A minha vida

A minha vida nunca foi tão estranha como agora. Há dias foi, aliás, ilustrativo do quanto.
De manhã estive de roda de um tecto
- subia o escadote, esguichava a lixívia, passava o pano, descia o escadote, lavava o pano e blás e mais blás, setenta minutos naquilo, até entonteci -
Onde moram pessoas ao rés da idade adulta e ao rés da consagração académica (digamos assim)
À tarde atendi clientes no meu estaminé
- ah, uma fechadura universal, ah, um pacote de gesso, ah, uma chave de pontos, ah, o acaso do meu balcão! -
Este acaso oferece uma disparidade de circunstâncias versus pessoas versus anos e anos de lidação que tuteio uns quantos encartados (digamos assim)
À noite fui até ao Ginásio. Pá, como o post vai em crescendo, é pôr aqui que lido com catedráticos e juízes, que a gente fala das posições e questões de Pilates (pronto, Pilates é de elite), sem que no decorrer das curtíssimas conversas eu tuteie alguém. Talvez por, precisamente, serem tão curtas.
Inventasse eu agora um quarto estágio e teria que me pôr em moderada interação com elementos de corpos diplomáticos, deputados ou mesmo ministros – Como está senhor Ministro? - Ligeiros acenos de cabeça e mais não sei o quê. Mas não. Estive foi, num outro dia, a ouvir a senhora da limpeza lá do Ginásio. Sim, ouvir, ela falava e eu ouvia queixas de picadas de mosquitos, que aquilo é-lhe um horror imenso e quês. Ainda estive vai não vai para falar-lhe de tudo quanto é concernente às minhas frieiras. Só assim naquela. Mas não. Também não.

Não se amanha só o peixe.

Comprei uma camisola e um sutiã, ambos para desporto. O funcionário que me atendeu desculpou-se por não ter sacos senão daqueles reutilizáveis, ao preço de um euro, e perguntou se eu queria um. E eu que não, deixe estar, eu amanho-me. Ele pôs estranheza no seu semblante, cuido que se deveu ao 'amanho-me'. É influência sulista, 'migo. Não se amanha só o peixe. E lá me amanhei, escondi o sutiã dentro da mala e levei a camisola na mão. E agora cuido ter escolhido bem a posição de cada uma das partes.

No banco hater

Uma mulher aproveitava o descanso que o banco hater pode proporcionar a qualquer pessoa, mas foi mais longe que os nossos pares, almoçava um hambúrguer no pão. Para além destes dois itens havia:
temperos – díspares, para conjugar sabores, e sim, é nos opostos que a coisa se relaciona bem
pickles - um bocado para o escusado, mas quem é que gosta daquela porra?!
rodela de tomate – sem sabor... aliás: com sabor a tudo, mas a tudo, menos a tomate
folha de alface – lavada ao pormenor, vá, também não pode ser tudo de horripilar esta que escreve, né?
aro de cebola – que de tanto esperar esvai-se-lhe o tal gás que faz chorar e assim adquire um sabor de... cebola esvaída...?, isso, cebola esvaída, esvaída e portanto mole
De acompanhamento era batatas fritas. Também moles, claro. De sabor indefinido e não muito bom. De textura esfarelada. Um desfalque no porta-moedas da pobrezita. Pobrezita.

Agora a sério: eu sei lá o que estava a mulher a comer! Estava era a comer e aproveitou o poiso.

Como se chovendo estivesse

Na grande loja duas senhoras escolhiam chapéus-de-chuva com notório afinco. Viravam e reviravam um e outro, franzidas nos cenhos - que foi o gesto de tornar tão notório o afinco delas. Cuidei de lá fora estar de chuva mas quando saí percebi que não.

Leve-o lá!

Um cliente veio requisitar um trabalho no exterior e dos urgentes. O meu colega preparou-se e, ao saírem, o cliente brincou:
Vou levá-lo, está bem?
E eu que sim, mas lamentei o pejo que tive ao reprimir:
Ó 'migo, leve-o lá! Partilhar quem é bom faz de nós pessoas extraordinárias.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Escrevo à vista de todos, ah pois escrevo.

Escrevo à vista de todos mas depois chateia-me ver o que escrevi. Criar é uma maravilha ocorrendo em mim, estar exposta a criação é o contraponto e, permanecer no limbo que porventura haja por entre, é do caraças. Um dia lá longe no tempo (2014) notei uma racha numa parede onde passo diariamente. Cá na minha cabecinha criativa encontrei a frase 'racha ou vai', apoiando-me num trocadilho - não muito original, bem sei - troquei as voltas da corriqueira frase 'ou vai ou racha', evidenciando-a com uma seta a apontar para lá e mais não sei o quê. Pois não sei, não. Sei lá. Agora chateia-me aquilo. No blogue já figurou por várias vezes fotos com mais ou com menos filtros, bem como um montão de posts ao redor do tema. Enfim. Seja lá como for, tudo quanto publiquei foi sem dar grandes avanços no sentido de se saber que fui eu que fiz; ó pá tóin xiru!, dídite mai selfe porque afinal não é 'bonito' escrever à vista de todos, ife iú nôu uare ai mine.

Dias de (disseram na radio)

Ontem foi a blue monday, o dia mais triste do ano. Diz que se celebra (?!) este dia porque o janeiro vai adiantado, o inverno está mesmo aí, o frio é da porra e, das Festas e dos dias feriados/férias/descanso, já se não tem memória. Ora isto faz com que o comum ser (humano) deprima a valer por esta altura, daí a blue monday. Pá, isto já se sabe que cada um é o que é e cada qual é também, e concedo que esta altura é de uma tristeza imensa. Ou trá-la. Ou então sou eu que a trago. Que a carrego. Que a vou buscar. Sei lá. |e no blogue posso não saber coisas| Mas é giro que tenham tido esta lembrança - instituir um dia para se 'poder' ser triste e escolheram logo uma segunda-feira, pois claro, que é o dia, né? Segunda-feira é o! dia. É até parecido, querem ver, ó: antes foi fim-de-semana, houve descanso, passeio, comer diferente, tempo, e tal e tal, vai daí… é segunda-feira. Pois. Há que ingressar, novamente, numa coisa que se chama semana de trabalho e que tem chatices aos montes para a gente fazer e ser e viver. Foi também instituído que ontem foi o último dia em que se 'pode' desejar um 'bom ano'. Segundo o juízo de alguém, doravante não terá a mínima pilhéria andar para aqui e para ali com o 'bom ano' na boca. Pronto, é voto já gasto, corriqueiro de tanto se lo falar (isto está bem?, se lo falar? vou deixar porque lá giro, é) e, de gasto, desencorpou (olha! outra! ca xira!), não há bom senso e tal e tal.

Hoje é dia do abraço. Às vezes dão-mos. É fixe. Hoje é dia das calças de fato de treino.



De quando eu lia livros

Quando abri pela primeira vez o livro 'Mrs. Dalloway' de Virgínia Woolf estava na Livraria Lello, no Porto. Havia um marcador do próprio livro nas páginas 88/89, logicamente o livro abriu aí. O que li transpus imediatamente para a minha personalidade e para as minhas vivências.
Não, não é presunção achar-me parecida com descrições, ou com um pequeno excerto, de uma obra literária de tão grande porte como esta, é reconhecer-me. Apenas e só isso.
«E é claro que gozava imensamente da vida. Fazia parte da sua natureza desfrutar das coisas (embora só Deus soubesse que ela tinha as suas reservas; Peter muitas vezes sentia que, após todos aqueles anos, apenas conseguia traçar de Clarissa um pequeno esboço). Em todo o caso, não existia qualquer amargura nela, nenhum daquele sentido de virtude moral que é tão repulsivo nas boas mulheres. Ela gostava de praticamente tudo. Se se passeasse com ela pelo Hyde Park entusiasmava-se com um canteiro de túlipas, mais à frente com uma criança num carrinho, depois com um pequeno drama absurdo que criava, no momento, por impulso. (…)
Possuía um sentido de humor verdadeiramente refinado, mas precisava de pessoas, sempre pessoas, para o incentivarem.»
|10 novembro 2011|

Não ostento orgulhosamente o livro que ando a ler perante a outra gente. A outra gente que fala e ri. Pouco lhes importa o que ando a ler, muitos olham mas ninguém me vê com os outros sentidos. Tapo-o porque não quero danificá-lo e não por sentir embaraço acerca do meu gosto literário. Ademais ao momento leio uma obra considerada um dos melhores romances do século XX, (…) não há que ter qualquer sombra de pudor. E estou a gostar do livro. É estranho, complicado, possui um entrosamento difícil (ou não muito fácil) de entender, mas eu gosto daquele emaranhado de pensamentos. Gosto das personagens, dos lugares, das cenas, do drama crescente em cada parágrafo.
«Foi horrível, exclamou ele, horrível, horrível!
Apesar disso, o sol estava quente. Apesar disso, uma pessoa acaba por ultrapassar as coisas. Apesar disso, a vida tem uma maneira só sua de adicionar uma dia a outro dia.
In ‘Mrs. Dalloway’, Viginia Woolf»
|23 novembro 2011|

Post que vai enganado

Nem sempre a intuição me leva à verdade. Então, pode a mentira que inventei ser uma boa verdade se, por exemplo, eu notar que ele, ou ela, afinal não é como o, ou a, pintei. Se o, ou a, borrei, não fiz bela a pintura ou o desenho. Com tudo e por tanto: dizer que sou intuitiva não é um auto-elogio, uma vez que nem sempre acerto. E é bom que não acerte - se intuí que a pessoa era má e afinal se revelou boa, é bom.

Hoje também está sol

Não era destemido sol, era redondo sol. Nada melhor do que me corrigir e me passar certificados de 'não foi isso o que tu disseste' à mistura com um bocadinho de 'e alguém vai reparar nessa porra?!'. Reparo eu, pois claro, e é quanto baste para actuar corrigindo. Me. E hoje também está sol. Redondo, no telefone, e destemido, na atmosfera. Aquece é poucochinho, mas vá, não tarda está aí tudo afogueado, desejando o fresco matinal, as bebidas frias e o vestuário largueirão.

Novas etiquetas

Este ano conto com mais duas etiquetas no blogue. Quero dizer, na verdade são três mas uma é tipo assim mais ou menos nova. Passo a explicar.
1
Temos 'O meu colega..., essa figura que eu quase criei, muito embora ele valha por si, ora essa. 
2
Temos Lisboa 2020.... Há anos que eu devia ter destacado os posts onde publico fotos de Lisboa ou então falo acerca de. É perdoável mas nem por isso se tornou incontornável. Classifico o ano porque facilita a pesquisa, um dia que queira. Se ficarem todas ao molho, a etiqueta vai crescendo e crescendo e, lá está, um dia que queria pesquisar algo, pesquiso por ano.
3
Temos #semfiltro2020.... Ora aí está um caso bicudo, tão bicudo. Não é nada. É que há uma etiqueta dentro do género, criada em janeiro do ano passado, à qual chamei de #semfiltro, acabando por não lhe pôr o ano, e o ano é, obviamente, 2019. À semelhança da etiqueta anterior, este ano decidi criar uma nova, acrescentando o ano a que pertencem, o que facilitará futuras pesquisas e tal e tal.

O registo da magra

Não descarto a hipótese de estar errada, de todo, sei lá eu! e que sei eu?, mas preciso fazer o seguinte registo:
Ter um aspecto de pessoa magra fez-me crer que existe um clã no qual, agora, me é permitido entrar. Não que eu queira, note-se, mas é a ideia que me dá. Embora nem só nas lojas o note, começou por aí. Se bem que é desculpável, afinal e à partida, uma pessoa magra tem mais predisposição - a maioria das roupas servem e o pior que pode acontecer é o 'cair' da peça não agradar, mas se isso acontecer não vem de lá a culpa. Percebem? A culpa (já) não é da gorda. Resumindo: as pessoas são mais simpáticas comigo desde que estou magra. É. Ai é, é.

Lisboa, Lisboa. Tal e qual.




Esta foto merece ser destacada com texto. Ontem, ia eu apressada, tão apressada quanto a porra do frio destes dias me faz andar, quando passei por aqui. E o que vi foi o que está na foto. Tal e qual. O contraste escuro de uma árvore nua por sobre a luz lisboeta. Pode a escuridão da árvore abrilhantar a luz de Lisboa? Pode, tanto que abrilhantou. Tal e qual. Quem tira fotografias, mesmo que tão amadoramente como eu, tão desprovida de arte, tão 'porque sim', tão porque é bonito, tão porque 'ó pá tóin xiru!', sabe quantas vezes o que o olhar capta não é o que a lente captou e nos mostra. Mas quantas vezes. E aqui foi. Tal e qual. É certo que a foto tem um filtro, mas dos pequeninos, e deixei-o porque fez uma enorme diferença em termos de profundidade. E já que a foto puxou o texto e isso nem sempre me acontece com fotos deste género, registo que o clique se deu desde a rua da Penha de França por sobre as Escadinhas do Triângulo Vermelho. Tal e qual.

Lisboa, Lisboa

uma dúvida 🤷‍♂️ sempiterna
um ovo 🥚 num lago ☱
duas cerejas 🍒 sem bolo 🎂

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Unicórnios que falam

A menina estava a ver desenhos animados. E eu também. Antes havia-lhe repetido o cumprimento: - Bom dia outra vez! - e ela rira. Mas os desenhos animados. Os unicórnios falam com a boca na lateral, vê-se-lhes os dentes e isso assim. Acho aquilo giro e já na semana passada tinha reparado nesta questiúncula. Ou seja (se é questiúncula é mister desenvolver): o desenho-unicórnio vai falando e, quer se vire para um lado ou outro, a boca muda de lugar. Suponho que seja para provar que está mesmo a falar, não vá a criançada duvidar.

Segundo

Boa tarde. São quatro e trinta e dois. O sol veio mesmo. Até agora tem ficado, vai a tarde a meio do segundo meio. Está é um frio que não se pode - onze graus em Lisboa, diz o meu telefone, mesmo ao lado do tal sol, o destemido sol, ou lá como foi que lhe chamei de manhã.

Primeiro

Bom dia. São sete e vinte e sete. O meu telefone anuncia um redondo sol e ainda diz que estão seis graus. Dos graus não sei eu, mas de sol não está nenhum.

domingo, 19 de janeiro de 2020

O texto

Ultimamente apresento escritos antigos com alguma frequência. Não é numa de saudosismo, é porque ando a construir aquela ideia de registar as primeiras vezes das minhas expressões e, através da pesquisa que faço nesse sentido, acabo por descobrir e relembrar coisas que considero dignas de republicar. É o caso deste texto que a rica filha apresentou como trabalho para a disciplina de inglês e que é coisa para ter acontecido há cerca de dez anos |foi publicado no blogue em 28 outubro 2010|. Ah, e é um texto acerca do mano, o rico filho. É bom recordar. Ademais nem é uma questão narcisista nem nada, não fui eu que escrevi. Comoveu-me reler isto:


He doesn't look a lot like me, dispite the fact that is my brother, he isn't like me in any way, but for two siblings, we do get along great.
He's so shy when he's around other people, it's embarassing to see. We have a lot of inside jokes that our friends don't get and sometimes he pretends he doesn't either just because he's afraid our jokes are stupid.
Our parents usually say that having their children getting along this great is a blessing. I couldn't agree more. He might be my younger brother, but I look up to him a lot. He's a great, unique person, a boy like there aren't many.
He's always quiet, miding his own business, he hate drama and he's not interested in gossip. Being so quiet, sometimes is a bad thing... People think he's rude when he's not nice and smiley, but he doesn't do that on purpose, it just takes a while to get to now him.
Apart from that, he's a really good soccer player and he's too cocky about his english. He likes to correct me and saying his better than me. We never fight. He's my little brother and I really really like him.

Ana Cláudia

Comentário do professor: A lovely description.
Nota: 15

a inveja aparece através da troça

Uma cebola também chora

Descasquei a cebola e depois é que fui tratar de compor o tacho - lume aceso, azeite lá dentro. Ora como o tempo de espera foi algum, o meio da cebola expeliu uma lágrima leitosa que escorreu e caiu na tábua de corte.

Tinta azul

Tingi umas calças de azul e, quando quis voltar a usar a máquina de lavar, escolhi roupas brancas. Ora bem, a embalagem de tinta recomenda que se faça uma lavagem na máquina antes de voltar a usá-la para lavar roupa, acrescentando que se use o programa de alta temperatura e que se insira dois trapos lá dentro, assim qualquer réstia de corante sairá metido neles. Não fiz caso, quis poupar energia e água. Ainda assim, como que preventivamente, pus roupa branca. Parece descabido, né? Então se já estava à espera de errar, fui logo errar com roupa branca?! Pois fui, é que tanto se me dá que a roupa branca fique azul, cor-de-rosa, verde ou amarela, já no que concerne à roupa de cores e que é justamente aquela com que andamos por aí, dar-me-ia pena azular. E pronto, neste momento tenho então um estendal de tolhas de banho e de rosto muito lindas e muito azuis, bem como alguns panos de cozinha e também cuecas.

Pão ralado

Ontem até o pão ralado eu fiz para cobrir os filetes. Aproveitei sobras de pão e aproveitei o forno ligado para cozer o bolo. Mas deixei o pão demasiado tempo. Mas isso. Mas pronto. Ficou castanho.
todos
os
pedaços
de
pão
ficaram
castanhos
Mas serviram o propósito. Quando os ralei houve uma catrefada de pedaços que não quiseram de todo ficarem muito ralados, pareciam pedras ao cimo do pó. Descartei essas pedras. E os filetes ficaram um bocado para o escuro, pois claro. Mas agarravam somente o pó, pois claro.

Lisboa, Lisboa

Tenho mais uma fotografia do mesmo dia mas de outra saída. São as tais folhas, as serôdias. Também isolei o verde, também me pareceu melhor se isolado. Porra, hoje estou toda coisa e armada em.



Lisboa, Lisboa

No dia do aquecimento localizado tirei uma fotografia à estátua. Então 'migo, está tudo bem, que tal vai isso, sempre na mesma, né? E ele que sim e sim e que é. Depois, no telefone pus-me a brincar de isolar cores e isolei o azul do céu e de algumas paredes e o verde das folhas e da relva. Considerando que resultaram melhor filtradas do que ao natural, é assim que as publico. Voltando atrás, não digo que seja uma estátua, mas a estátua, porque considero que estátua nenhuma é uma estátua. Quiçá me tenha apoiado na ideia de isolar - como fiz com as cores da fotografia…? não! - cada uma, na enga de não desvalorizar nada nem ninguém. A vida é muito injusta, ser do bem afinal isola.





Primeiro

Bom dia. São nove e dez. Está um ventinho mesmo bom para secar a roupa.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Canções

Tenho andado para vos dizer que a professorinha de Stretching chegou de férias e trouxe um bronzeado carioca (ou coisa assim, sei lá, mas sei que é giro que se farta ver alguém com ganda bronze em janeiro) e até apresentou novas coreografia e banda sonora. Desconheço se as novidades terão alguma coisa a ver com os brasiles. Quero dizer, e voltando atrás, não asseguro que a banda sonora seja realmente diferente da já tão habitual, mas notei que o Alec Benjamin cantava a sua cançãozinha que quase embala

This night is cold in the kingdom
I can feel you fade away
From the kitchen to the bathroom sink and
Your steps keep me awake
fonte: vagalume.br.com

E, sendo com estes acordes que começámos a esticar os corpinhos, a mim pareceu que sim, era novidade. Mas, logo seguida, veio uma canção habitual, uma em que é cantada uma certa luz, I'm light, I'm light e que sempre se ouve. Posto isto: é novidade no que é novidade e não é novidade no que não é novidade. Desta canção, por não somente belos serem o poema e a música, mas também o vídeo, partilho-o convosco.


Post com título

Preguiça nunca, jamais e jamais, poderá ser sequer comparada à astenia. É que não têm nada a ver. Andei a reboque da minha presença todo o dia – tratei do pequeno-almoço, o que incluiu fatias douradas e sumo de laranja, comi, fiz a cama, cozinhei o arroz e o feijão em tachos separados, tratei dos filetes da descongelação até à fritura, comi, fiz um bolo de pistácio, comi, engoli um montão de cafés que fui eu que preparei, um foi até duplo, pus roupa a lavar e tratei dela até ao estender, apanhei, dobrei e arrumei a que estava estendida e já seca, arrumei a louça lavada e pus mais a lavar e arrumei-a pus mais a lavar. Não senti preguiça de tratar destas questões, mas tenho a astenia na base do cérebro, querendo subir. Só que o meu profundíssimo desconhecimento sobre o descanso, ajuda bastante a mantê-la aí. Não, eu não sei descansar, perdurando, assim, a antiquíssima ideia de que tenho que estar sempre a fazer coisas, para não pensar em coisas. Coisas. Pá, coisas e coisas. Estar constantemente ocupada não é mau de todo, bem sei, já me salvou vezes, que não foram poucas.

ordem no desconforto

bacia
quadril
ombro
joelho
lombo
tornozelo
abdómen
dorso

Dona Elisa

Quem me ensinou a ler e a escrever foi a dona Elisa, a minha professora primária. Isso é coisa para ter acontecido há quarenta e cinco anos atrás. As contas vieram depois e, serem ensinadas ao depois da escrita e da leitura, pode parecer que são menos importantes, mas, penso eu agora mesmo, também pode ser que não. É por serem precisamente mais importantes que são mais difíceis de lidar... Ou então é mas é ao contrário: são de maior dificuldade, daí ganharem importância, logo: é mister que a criançada tenha mais maturidade para as descodificar nas suas lindas cabecinhas.

As contínuas

Avistei a contínua Luísa e, parecendo-me que aguardava oportunidade de atravessar a passadeira, travei e fiz-lhe sinal. E ela que não, eu estou bem, eu estou bem, gesticulando como se realmente estivesse. Porque não acreditar? Quarenta anos volvidos continua sorridente, esta contínua. Impossível não fazer esta piadinha, né? Nesse tempo as auxiliares de ação educativa eram simplesmente as contínuas, a gente até lhes tirava o u e ficavam continas. Também havia a contina Idalina, e que era bem velha do que qualquer uma das outras. Só me lembro destas duas, possivelmente porque as fui avistando uma vez ou outra durante estes anos todos e assim me fui habituando ao seu aspecto. A contina Idalina sabia muito bem quem eu era, que uma vez perguntei-lhe se ela se lembrava de mim, e ela que sim. Mas da contina Luísa é que não me lembro lá muito bem se perguntei ou então não.

Post com vírgulas, portanto: igual à maioria

Estreei hoje o pacote de lenços que diz Hope e assim percebo que sou rápida no uso (e isto foi uma maneira de me não chamar ranhosa). Entretanto explico o pacote, pois claro – tem estrelas pelo ar e duas bolas e um sino pendurados; já as letras estão em conformidade com a apresentação que se aprende na Escola Primária – ao começo de uma qualquer coisa que escrevamos, é começar por letra maiúscula, depois é minúscula. Esqueceram-se foi da pontuação, mas, quiçá, não tenham estado na Escola Primária.

Diário das expressões

Loures, 18 de janeiro de 2020
Com o lugar da musa vou fazer diferente. Não que o tema me aborreça e, vamos lá a ver, eu até gosto de escrever e mais não sei o quê, mas é que, ao pesquisar a primeira vez deste lugar da musa, encontrei descrições do quanto e do quê e de como é que se tornou para mim o dito lugar, e achando que está lá tudo, vou aproveitar-me de mim. Despudoradamente. Ai. No primeiro texto descrevo, não só o lugar da musa, como as circunstâncias e os arredores habituais dessa altura. O segundo texto contém uma descrição mais racional e também factual, foco os pontos importantes sem romancear. Quero dizer, lá que romanceio, romanceio, mas poucochinho.


É hora de fechar, anda. Vais almoçar e almoçar é preciso. Vais andar e andar é preciso. Comes dois rissóis de camarão e uma dezena de garfadas de arroz de feijão. O segundo rissol vai ser engolido custosamente e vai ficar de sobeja outra dezena de garfadas de arroz no prato. Há algo nesta hora que te tira o apetite, o descanso, a calma. Comes tão rapidamente que no pequeno restaurante és conhecida por 'aquela senhora que come muito depressa e sai logo a correr'. E sais, como se fugisses de qualquer coisa. Eles não sabem que foges de ti, e tu, tu sabes que essa separação é impossível de alcançar, mas persistes na ideia de segunda a sexta.
E vais avenida afora. Com pressa. Vai estar a chover. Porém, a tua pressa não se deve à chuva. Tu sabes disso, eles não. Ninguém te acredita, bem que te esforças: 'ah, eu não gosto é do frio, tanto se me dá que chova ou então não'. Ninguém te acredita, portanto ninguém te merece. Falas menos, falas cada vez menos, as tuas verdades são inglórias.
Introduzes-te numa sapataria, queres ver sapatos e botas porque precisas de sapatos ou de botas. Se não precisasses de sapatos ou de botas era provável que mesmo assim te introduzisses ali. Há modelos fixes, talvez regresses amanhã.
Avanças, detendo-te em todas as montras de sapatos e botas. Há modelos fixes, talvez entres amanhã.
Agora que estás a escrever estes bocadinhos de vida percebes que neste ponto já tens a cabeça repousada, estás inclusive descontraída. Mas andas depressa. É preciso parar no semáforo, esperar que mude para verde, do outro lado vais beber um café. Chamas o 'lugar da musa' ao lugar onde bebes o café e escreves amiúde no teu blogue que ali se encontra o melhor café de Lisboa. Veemência, sim, ao menos no blogue. As verdades não são inglórias quando registadas no blogue, há algo que certifica a veracidade de um facto, se exposto num texto.
Quando te servem o café pegas no pires e encaminhas-te para uma mesa vazia. Na mesa pousas o pires. Numa cadeira pousas o chapéu-de-chuva e a mala. Sentas-te. Abres o pacote do pauzinho de canela e mergulha-lo no sublime café. Abres o pacote da bolachinha e trinca-la com prazer. Vais sentir uma dor fininha nas bochechas, isso acontece porque salivas devido ao doce que a bolacha tem. O primeiro golo de café não ameniza essa pequena dor, os seguintes aniquilam-na. O peito aquece, o estômago idem, a cabeça eleva-se.
Vais pôr-te a ler. Vais estar desatenta à leitura, é aliás teu costume. Lá porque a cabeça se te elevou não quer dizer que estejas concentrada na leitura. Se ler sem tino fosse uma imagem de marca, se fosse notória a permanente desatenção e o desalinho em que vives, estarias marcada pelos demais. Assim... não estás, pronto, não se percebe.
Vai haver um senhor que te sussurra, quer a cadeira que está junto à tua mesa, faz-lhe falta, é um dos que pertence a uma roda imensa de amigos que vão ali beber a bica e conversar animadamente. Vais invejá-los. Vais julgá-los. Vais admirá-los. Vais temê-los. Vais esquecê-los. O sussurro comove-te, é óbvio que este senhor se sente incomodado por te interromper a leitura. Tão raro, o respeito pela leitura doutrem.
Agora vais à loja das roupas ver se aquelas camisolas ainda estão no mesmo lugar. E estão. Alegras-te imensamente, quase se te rebenta o coração. Experimentas todo um rol de camisolas. Cores e feitios vários mas todas lindas. Escolhes uma, a mais conveniente, não a mais linda, e compra-la. Vais sair dali. Andar. Caminhar. Enlouquecer. Por causa da chuva e do chapéu-de-chuva mal avistas a árvore amarela. Olha-la apenas de soslaio e vês num repente que não está assim tão diferente desde a semana passada. Avanças. Desces a rua, esqueces por completo a mola dependurada. Ah, essa questiúncula... Tão rentável em número de posts no blogue. Tampouco lembras as plantas que espreitam à janela de uma casa onde mora gente que nunca viste. Ah, essa questiúncula e blás.
Percorres a praça. Não vês horas nem graus no placar. Nesse momento tens a cabeça cheia com o teu escrever incessante. Que não te serve para porra nenhuma que preste.
Agora que escreves, passados estes dias, percebes que as memórias se esfumam com o tempo, já não lembras do resto do percurso. Poderias todavia basear-te nos pensamentos de todos os dias, não há realmente uma grande diferença entre eles. Mas não. É melhor não registar mais nada.
|22 outubro 2014|


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Comecei por entrar no lugar da musa há anos, creio que vai para aí numa dezena, não sei lá muito bem, e isso na verdade pouco importa. Eu entrava e vasculhava os livros, como hoje, desejando tê-los todos para poder ler a maior parte, mas sem comprar nenhum, como hoje. Mas não bebia café. Pois. E creio que no início das minhas visitas quase diárias não existia no espaço o sublime café. Se existia, peço perdão.
Depois apareceu dentro da livraria e na minha vida o balcão, a máquina de café, os/as moços/as que o serviam na pequena chávena o aromático e fumegante e precioso e escuro e espumoso líquido, o qual não demorou nada de tempo a que o considerasse muito bom e o adjetivasse de sublime. Entrava-se no espaço e cheirava a café à mistura com o cheiro da tinta da impressão e o do papel, o que me inebriava, como hoje. Sentava-me, bebericava o café... E sem dar por isso comecei a sacar do bloquinho – que sempre foi – rudimentar para apontar os meus tópicos, um tanto ou quanto desenfreadamente em alguns dias e calmamente em outros. Recordo que nesse tempo grande parte das pipocas que preenchem o meu blogue saltavam ali, porque havia livros, pessoas e o algo que pairava no ar me inspirava sobremodo. Houve inclusive uma época em que só me inspirava ali. Quando me apercebi disso, quiçá meses depois, cognominei todo aquele conjunto de situações como 'lugar da musa'. E lugar da musa ficou desde então. Existem dezenas (ou centenas, sei lá) de posts onde refiro este lugar e existem outros tantos daí advindos mas sem que faça referência escrita ao lugar.
Tempos depois, calhando anos, achei que não tinha nada de me cingir àquele lugar da musa para me inspirar, qual quê, a musa tem de descer seja lá onde for... Hoje é-me mais fácil encontrar inspiração em todo e qualquer lugar, por causa de toda e qualquer pessoa, ou de toda e qualquer árvore, folha, flor, pássaro, nuvem... Tudo. Não posso todavia passar a vida a escrever. Pois.
|27 novembro 2014|


Est post é continuação daqui.

Lugar da musa, primeira vez

Vou até ao lugar da musa. Deixo-me estar. Escrevo. Chego aqui e descubro que trago de lá uns apontamentos que não descodifico.
|6 janeiro 2012|

É sábado, mesmo não pondo a Gina numa relação com o supermercado, ainda assim, é sábado.

Por não conter na lista de supermercado itens suficientemente urgentes de os haver, hoje dispensei a visita que, de habitual, tem tudo. Vai daí, visitei o nepalês da frutaria, que também merece os meus tempo e atenção, e isto quer dizer que, de graminhas, comprei:

__dois mil quinhentos e noventa e cinco gramas de laranjas que, se não são algarvias, disfarçam bem bem
__setecentos e vinte gramas de tomates chucha, às quais o nepalês, ou o seu director informático, chamou de 'tomate salada'
__seiscentos e noventa e cinco gramas de batatas-doces, oh pobres!, não adjectivadas para além do que já consta no nome... e não é mau de todo, pois claro, quem de vós, ou nós, tem a classificação no Cartão de Cidadão?
__setecentos e oitenta gramas de pêras que, digo eu, serem rocha, com aquela pigmentação só pode, é que faz mesmo lembrar a zona Oeste, se de Lisboa partindo
__oitocentos e setenta gramas de maçãs granny smith, só por dizer que o nepalês, ou o seu director informático, nada acrescentou às maçãs, tornando assim estas pobres muito mais pobres que as batatas-doces expostas acima
__duzentos e quarenta gramas de alhos que, digo eu, serem roxos e acrescento que há muito tempo que não comprava alhos no nepalês, e por quê?, porque comprei um saco deles a um vendedor ambulante e, no meio de os gastar, os meus pais ofereceram-me umas quantas cabeças vindas da sua horta
__de bónus obtive uns quantos raminhos de salsa e outros tantos de coentros

Entretanto, numa de me não faltar algumas mercearias, visitei ainda um supermercado pequerrucho (estranho sempre estas questões e sou incapaz de as deixar passar despercebidas – é que super|mercado| pequerrucho é giro que se farta) das redondezas do estaminé para comprar ovos e uma lata de grão. Só por dizer que trouxe também tortilhas de trigo e milho, um frasco de molho pesto, uma embalagem de rúcula, outra de fiambre da pá, dois chocolates au lait extra onctueux et réduit en sucres e bombons que afirmam ser, prometem até, um piaceri e um gusti assortiti, e vá de acrescentar que aquilo ali é il buon cioccolato.

Poupanças

Não há assim muito tempo, para aí quê, um mês ou dois, que descobri que o meu telefone me avisa de notificações dispensando a abertura de ecrã, pois, se as há, uma luzinha verde pisca sem pressa no topo. Isto permite poupar energia e tempo.

The word

No televisor do restaurante, um temporizador indica o tempo que falta para o dérbi. É dérbi, not derby, aprendi eu agora mesmo. Mais uma word aportuguesada. E é de vir, venham.

Posta-restante:
O texto acima foi escrito há dois dias, no mencionado restaurante, quando notei o tal temporizador no ecrã do televisor e me entusiasmei. É incrível o alcance que o mundo futebolístico tem - é que já se faz uma contagem decrescente para aumentar, ainda mais, o interesse dos adeptos. Isto fará com que adeptos mais ou menos interessados se interessem a valer. Vale tudo. Mesmo. E publico este post hoje porque me esqueci da sua existência no bloco de notas do telefone. Ora como é questão e circunstância que teria muito mais jeito se fosse publicado no próprio dia, mas não quero deixar de publicar, venho aqui numa alegre demanda dizer isto e aquilo referente ao caso. E já disse. Falta dizer que as explicações estão mais gordas do que a ideia inicial (o texto acima). Falta dizer que o dérbi (ó pá tóin xiru!) era entre as equipas Sporting Clube de Portugal e Sport Lisboa e Benfica e que o Benfica venceu por 2 - 0 no Estádio de Alvalade, ocorrendo a partida aos 17 de janeiro de 2020.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Diário das expressões

Lisboa, 2 de janeiro de 2020
Decidi agrupar duas 'primeiras vezes' num só post porque a bem dizer são a mesma coisa – lugar soturno e velho estaminé.
Comecei por chamar lugar soturno ao lugar soturno porque era escuro e feio.
Lisboa, 17 de janeiro de 2020
Escuro. Isso. Escuro porque tinha muito material exposto, ele era expositores a abarrotar de coisas, ele era prateleiras cheias até cima, ele era fios de uma parede a outra, como se um estendal fosse, e era, mas de artigos. O chão estava também preenchido até mais não se poder. Portanto, por tamanho ser o preenchimento de toda a área, a mesma escurecia. E feio. Isso. Feio pelas mesmíssimas questões. Então arranjei uma ironiazinha, um faz-de-conta, uma ideia, uma expressão – lugar soturno. E o velho estaminé, existe por quê? Porque houve uma altura em que estava em meio de findar a sua existência no mundo dos estaminés vivos e, como havia outro, e há, e que é este d' agora, senti necessidade de os diferenciar diferentemente do comum, precisamente por aquele estar com a morte anunciada – velho estaminé.


Este post é continuação daqui.

é meio-dia

o sol aquece-me a nuca
isto porque é janeiro
pois
sendo julho
não era aquecimento local
mas inteiriço

é sexta-feira

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Conversas e escolhas

Conversei com o Kit:
- Não me apetece nada fazer isto, Kit.
E com a Kat:
- Ó Kat, não me apetece nada fazer isto.
O Kit ficou à espera da minha carícia, que é um dos modos como fala comigo, consente-me por ali, tem a minha presença como estupidamente inquestionável, e a Kat continuou a fitar-me desde o seu poiso predilecto - o cimo do armário da cozinha – que é um dos modos como fala comigo, consentindo-me também, mas questionavelmente, que quem manda ali é ela, e eu ó: manda aí Kat, o pedaço é teu, de visita não passarei. Quem dera a mim o poderio que estes bichos-gato têm, contêm e mantêm - podem não fazer, simplesmente.

A senhora aprovisiona tantos produtos de limpeza que posso, inclusive, usufruir de uma escolha múltipla no que toca a limpa-móveis. Portanto: se da última vez usei o 'ambar e aragan', posso agora escolher por entre o mero 'classic' ou o bem vindo 'frescor de primavera' ou o por ora desconhecido 'ambar e organ'.

Entretanto, os bichos-gato aconselharam-me (vocalmente, que eu bem os ouvi) em uníssono:
- Gina, vai beber um copo de água, que isso passa-te.
Anuí. Dirigi-me ao armário e pude escolher por entre um copo com desenhos de morangos ou de limões, que escorrem copo abaixo, tanto num fruto como no outro. E já sei que 'escorrer abaixo' é redundância mas, e, deixo ficar, gosto delas, acho que é porque sou grafómana. São bonitos, os copos, e normalmente escolho o que estiver mais ao pé da mão, fugindo assim do medo de tomar partidos. Mas desta vez não obtive essa benesse porque ambos estavam à mesma distância do bordo da prateleira, então decidi-me pelo copo que tem os morangos desenhados a escorrer, sendo o critério de escolha o fruto que mais aprecio. Sim, é que eu gosto muito de limões, mas gosto muito mais de morangos.

pipoca


podia prometer não ter medo de fazer

frases

passei por uma viatura que tinha duas frases escritas, das quais não consegui ler o nome do autor

uma, 'pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma doença'
duas, 'o caminho faz-se a caminhar'

Embaraço

A minha mãe viveu uma situação embaraçosa e, quando ma contou, rematou assim: - Olha filha, fiquei com tanta vergonha, tanta vergonha que pensei em abalar correndo! - Não pude deixar de comentar: - Ó mãe, e tu ias conseguir correr? - E ela, com um certo divertimento, que de mim plagiou para não esmorecer: - Não, filha. - E rimos. Pois.

Números

Olhem, estou aqui que não posso, afinal já há roupas que não me cabem. Sério. Entrei numa loja e dei de caras com uma pilha de jeans, cujo primeiro par era o número trinta e dois. Uma coisa assim para o garrafal. Digo os números. Pois. E não, não é a numeração à americana ou à inglesa ou lá que é. Não. É o número trinta e dois dos comuns números à portuguesa. Hum-hum. Eu bem que andava a estranhar a agitada vida que as magras também tinham até encontrar roupa que lhes servisse. Mas que demanda. Eu, até aqui, em algumas ocasiões, pensava:
Eh pá, porra, afinal as magras também estão lixadas nisto de encontrar roupa! Tudo cai corpo abaixo! Pregas daqui e dali. Mamas assim ou assado. Cinturas todas coisas. Mas como é que fazem as lingrinhas?! Eu não sou lingrinhas. Como é que? Ah, afinal não é assim tão fixe ser magra e andar nas compras.
Pronto, questões, afinal e meramente, felizes que a pessoa tinha. Ainda assim, povoo o maravilhoso mundo das magras, ó:
Por ora, sequer pondero enfiar uns calções nos pernis, mas olhá-los num expositor e perceber que 'os dispenso' ao invés de 'sou gorda' é deveras glorioso.

Já agora registo neste post uma comprinha recente: umas calças elásticas e imitadoras de ganga. Estreei-me naquilo de calças (neste caso imitadoras) esburacadas. Enfiei-as e pareceram-me bem.
Esta afirmação é dispensável - comprar algo que não me parecesse bem, seria, afinal por quê? É dispensável mas fica.
As calças são perfeitas – os buracos não revelam atraso na depilação nem as cobiçadas varizes; não promovem a hedionda visão de camel toe por ali assim; não me enchem de refegos pernas acima e ao largo da bacia; não apertam a cintura; têm o comprimento ideal, o que significa que cortá-las ou dobrá-las é dispensável. São portanto um must have e eu tenho-as.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Ouvir

Num wc público estava uma senhora a queixar-se para dentro de si que o ar daquele aparelho não seca nada. Só que eu ouvi. E eu nem gosto nada desse ar, portanto não me incomoda o defeito, disse eu cá por dentro e tão para dentro que ela não ouviu.

A curiosidade não mata

Contanto não se me morra a curiosidade, viverei, havendo até alturas em que se basta. Sei lá, parece que a curiosidade está para mim como a locução está para outros quaisquer. Posso, ou consigo, não falar muito, não posso é viver sem me sentir curiosa. E amiúde.

Ou serão as minhas razões desarrazoadas?

Vinha no caminho cheia de pensamentos dignos de registo e ideias boas mas, quando quis escrever, o arrebatamento havia desaparecido e não encontrei o modo de fazer essa tradução. Isto não é coisa de vez primeira e, sempre que acontece, torno à ideia que o pensamento é abstracto e, se é, como então segurá-lo em maneiras de? Ou serão as minhas razões desarrazoadas?

Limões

Tenho limões do quintal do rico filho
Tenho limões do quintal da vizinha Gislena
Tenho limões de um quintal de sua majestade.

Os limões do rico filho têm uma casca fina e escurecida, parece a mim que estão muito maduros, muito embora, de chofre, me pareça que não há união entre maturação e limão. Mas é ok. E são bem mais bem sumarentos. É apanágio de qualquer citrino que, sendo de casca fina, sumarentos serem.
Os limões da vizinha Gislena, bem como os de sua majestade, são de casca grossa. Portanto... né? Mas olhem: diz o ditado que 'a cavalo dado não se olha ao dente'. Venham mais.
Quando recebi os limões do rico filho, fiz, logo que pude, uma porção de creme de limão para oferecer, não a ele porque não gosta, mas à rica nora, que adora. Mais uma porção deste creme já decidi que farei, mas uma outra pondero se. A primeira é porque sei que a vizinha Gislena gosta bastante deste creme, a segunda é porque sei que sua majestade não gosta de doces e não sei se a sua cara-metade gosta ou então não e, até me certificar disso, passarão dias ou semanas, o que fará com que os limões vão perdendo saúde e vigor.

Posta-restante:
Sua majestade apareceu e trouxe mais limões, neste caso, os que estavam de resto na sua casinha. É que ele e a cara-metade adoeceram da figadeira e o resto em questão apodreceria, sendo assim lembrou-se destes amigos. Com a conversa toda até me esqueci de sondar o gosto da senhora no que toca a limões em doçaria. Fica então para uma próxima vez, afinal, as figadeiras, a ideia que dá é que hão-de pôr-se boas.

Troco

O meu colega pediu-me para ir com o cliente e trazer o troco. Eu explico. Este cliente estendeu uma nota demasiado 'grande' para o troco que a gente tinha e vinha mandado de um estaminé não muito longe daqui e que abrira recentemente, e isto, em linguagem comercial, significa que (ainda) não há aquela confiança que se chama (também) crédito. Foi portanto assim que me vi na estranhíssima tarefa de ir com um cliente buscar o saldar de dívida. Olha, dizia o meu colega, vais ali assim com este senhor e tal e tal. Ressalvo que não o conheço. Ainda. Enfim, peculiaridades da minha vidinha de balcão. E lá fomos, conversando o que conversaríamos se o balcão estivesse no meio da gente os dois, nem vou exemplificar, para não vos aborrecer. Mais.

Post de mudança

As pessoas que trabalham em cabelos são camaleónicas - ele é mudança de cor e de corte para aí de mês a mês, e são sempre os da moda. É como ser costureira e optar pelas últimas tendências, em feitios, cores e texturas. É como ser ferrageiro e não adiar a encomenda dos parafusos que são a novidade do momento e dão um despacho do caraças. É como ser. Pois.

Manuscrito

Encontrei nos meus papelinhos um tópico onde, na minha caligrafia desenfreada de quando quero apontar ideias que, à hora, julgo mister desenvolver num deleitoso futuro, reza assim:
'Então vá, e eu regua: olé'
Não duvido que o 'regua' seja 'respondo' e o 'olé' seja 'olá'. No mais: não encontro ligação, tampouco posso concluir ser coisa já decifrada e alindada e publicada no blogue. Sei lá. Uma coisa é certa, foi apontamento feito no meio da rua ou em casa de algum cliente porquanto usei a caneta que anda comigo por aí - a azulinha. É.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Cicatrizes

O meu colega diz que consegue medir o frio que está mediante quão roxas estejam as cicatrizes que tenho na testa. E assim até parece que mediante é de medir.

Leis da vida, no fundo (no fundo)

Um contrato de trabalho tem tantas coisas para se fazer como para se ser.

Naturalmente

A avenida já contém um daqueles supermercados apaneleirados, com o 'natural' no nome e mais não sei o quê. Ainda não entrei, de inatural que me sinto.

Rimar

Estóico rima com heróico. Querem ver, ó:
estóico
heróico
Ah, esperem, sou mulher. Vou pôr isto no feminino:
estóica
heróica

A tristeza

Já não é tão duradoura nem tão intensa.
Já não é tão intensa por não ser duradoura.
E tudo isso.
E muito.
E bom.
É muito porque é bom.
É bom porque é muito.


Sabem aquela tendência de as palavras em estrangeiro não doerem tanto? Estive mesmo para intitular este texto de 'la tristesse' ou 'sadness', mas, como se vê, desisti dessas atenuantes.

Quando a Gina é ser muitas e não são as minhas.

Cheguei ao Ginásio e o recepcionista :
Olá!
Tem preferência no cacifo?
Pode ser o 157?
São duas toalhas?
Bom treino!
Até já!

Post não muito comprido

Deixei de ter os cabelinhos muito mais compridos nas laterais do que no resto, agora tenho-os mais compridos, e só mais compridos. Ou seja, como o cabelo, aí, é cabelinho, seca e encolhe, parecendo que está nivelado, mas só que não.

Árvores

As árvores da alameda andam estranhas – têm folhas, e verdes. Ou nasceram muito no fim do Verão passado, ou então são produção do fim do Outono. É que são demasiado verdes para o janeiro que estamos a viver.
As árvores da avenida não apresentam ainda a sua tão característica 'penúge' de janeiro. Tudo bem que ainda vamos no fim do seu segundo terço, mas eu queria vê-la.

Casacos

Cirandando por uma loja notei uma senhora que juntava ao próprio cirandar um casaco igual ao meu. Andávamos portanto conjugadas em atitude e vestir da parte de fora. Ficava melhor a ela, o casaco. Pronto, não ficava, mas há que fingir modéstia. Avec tout ça, zarpei dali o quanto mais antes possível. Sim, esta última expressão está confusa, mas o que vale a mim é duas coisas:
uma, nunca disse que sei escrever
duas, vocês gostam de mim na mesma