segunda-feira, 31 de maio de 2021

Hi, my name is Gina!

À conta de uma questão que permanecerá secreta para vocês, o cliente perguntou-me o nome. Respondi o óbvio. O acompanhante deste cliente mostrou-se agradado e ainda revelou «oh, I love your name!» Depois percebi que o cliente perguntador havia preenchido o rectângulo com Jeana. Comentei o deslize, aliviando com alguns 'but it's ok, it's ok'. Depois disto o acompanhante fez de mãe revisora, quase ralhando com o amigo e, retirando-lhe o material da mão – papel e caneta – rabiscou o meu nome no papel. Irrepreensivelmente. Devia ter guardado esse papelinho.

Duas & Duas

Duas perguntas de frente do balcão:
Olha, tens cá disto? E coiso para pôr nisto?
Duas respostas de trás do balcão:
E vai que não - é que nem disto, nem nisto.

De repente este post pareceu-me negativo, afinal estou a publicar que não! tenho cá isto (tampouco aquilo) para vender. Ocorre porém que sou ajudada pelas modernices 'hastag autenticidade' ou 'hastag sem filtro'. É que têm uma adesão massiva, levando a que toda a gente dê desculpas, dispensando até o pedido delas. Quem me ensinou o balcão (não, não foi o meu colega) sublinhou por todas as vias que não se dá o 'não há', ao manifesto, tampouco se deixa transparecer o 'poucochinho' sob pretexto algum. Enfim, nunca se esquece quem nos ensinou, não é? Por isso este meu pipocar, ainda que concorde, e sem luta, que o mais autêntica que posso ser, serei.

Trinta e um

Maio é o mês
Dia o seu último

domingo, 30 de maio de 2021

... boa noite.

Avis, 2 de Maio de 2021

... boa noite.

verbos estrangeiros

quando tiro a roupa, encho as mãos de molas, é até não caber mais

Pode-se parar o tempo, lá isso.

Já foi mais nova, esta rosa. Não quero contudo dizê-la mais nova, mas já o foi.
Encho o blogue de fotografias, lá isso. As fotografias param o tempo, e, isso, é, bom,

... boa tarde!

já marquei a aula no Ginásio para amanhã
fui-me à aplicação e pumba
e ocorreu o clique tão mas tão atempadamente
que é por isso que
merece


destaque


a minha abordagem a este clique foi a selfie e fiquei muito pouco selfiemeiáda*

*...

Ouvi na Rádio

vagido
é o choro dos recém-nascidos, embora por vezes surja num sentido figurado
lemniscata
é o símbolo do infinito, bem como o de um 8, e também aparece como equilíbrio em alguns contextos
floema
é o fiozinho que as bananas apresentam ao longo de si (quiçá outros frutos os contenham)
petricor
é o cheiro que se liberta da terra (se) seca quando (é) molhada pela chuva

... bom dia!

refrear os ímpetos também é viver
uma onda não o é sem andar às arrecuas

sábado, 29 de maio de 2021

Voleibol

Quando andava no Ciclo Preparatório (hum-hum, sou desse tempo) as aulas de Ginástica continham por vezes jogos com bola e um desses era o Voleibol. Não me vou alongar no que toca a pôr-me defeitos, digo simplesmente que não jogava a ponta dum corno àquela merda. Vá, já agora acrescento que não gostava nada nada nada daquilo e que, quiçá por isso, me esforçava debalde. Um dia, uma das minhas colegas, ciente das características desta Gina pré-adolescente, instruiu-me: nunca ficas com a bola na mão, lança sempre para a frente, para a frente. Pois bem, o que é que eu fiz logo que a bola me parou nas mãos? Segurei-a, olhei em redor, atónita, incapaz, e vi o desespero no semblante de umas quantas miúdas da minha idade. Se no fim do dia estavam todas lá fora à minha espera para me ir aos cornos? Claro que não, andei no Ciclo Preparatório, o bullying ainda estava por inventar.

Dias de um Ginásio

Pela primeira vez desde que a palavra confinamento, neste blogue, se refere a pandemia e não a chapéus-de-chuva, não pude reservar uma aula através da aplicação – caraças pá, tudo cheio. Fiquei na lista de espera. Mas fiquei meio que coisa com a questão porque há quem reserve aulas e depois acabe por não comparecer. Bem sei que o contratempo é uma coisa que existe, também tenho uma vida onde o inesperado acontece, o que não está bem é esquecerem, ou, pior, marimbarem e nem sequer retirarem a reserva da aula. Fiada nisto, quiçá tivesse vaga, porém não reservada, e isso estava a fazer-me confusão, imagine-se eu, que neste caso iria como intrusa, adentrando a sala, cheia de glória e tal e tal, e vai que entrava o resto da turma e pumba, eu a mais...? Pois, ficaria deveras incomodada. Mas tal não aconteceu, fui vigiando a aplicação, esperançada que alguém desistisse com cliques, o que realmente aconteceu. E foi esse acontecimento que me permitiu penetrar na sala com justa permissão. Que maravilha.

Porque hoje é sábado

Podia dizer que não ligo a ponta dum corno às estatísticas que o blogger apresenta – nomeadamente se houve visitas - mas ligo, ligo é pouco, e ligo pouco porque não as acho credíveis - podem os cliques não passarem de visitas e visitas não serem, afinal, leituras. Hoje tenho publicado as minhas coizinhazinhas ao desbarato, tinha para aqui um montão de rascunhos a impedirem-me de ser feliz, a encher-me a folha do que está pronto a seguir para a lbogosfera... - ulha! também aqui troco as letras! - ai perdão, blogosfera, a caotizar a minha delicada existência, e vai disto, tudo para lá! Entretanto, consultando então o tal gráfico de coisas acontecidas ao blogue, noto que cada um dos posts publicados hoje tem três visitas e ainda só passaram três ou quatro horas, ademais, pasme-se, é sábado! Oh.

Aqui pode-se comprar sem dinheiro?

O que está no título é pertença de um cliente e é uma introdução ao negócio das mais engraçadas que ouvi até hoje. Fez-me lembrar de Mr. Google quando faz perguntas acerca do que têm e do que vendem e o que fazem os mais variados pontos de venda por onde passo, ou encalho, ou caio. Eu é que permiti estes contactos, claro, não é invasão nenhuma, pelo contrário: gosto. Acontece porém que acabo por responder a pequenas questões acerca do meu próprio estaminé:
«pode-se comprar escovas de dentes aqui?»
«pode-se comprar rebarbadoras aqui?»
«pode-se comprar lixívia aqui?»
«este local tem acesso a cadeiras de rodas?»
«este local está aberto agora?»
«este local tinha muita gente na sua última visita?»

A última questão ser dirigida a mim torna-a hilariante e, ou, absurda. Mas pronto, o que está no título deste post é o que queria mesmo mesmo mesmo registar mas entretanto lembrei-me que em certos dias encontro, inclusive, o meu comentário acerca do me próprio estaminé. Não sei como encalho aí, mas sei que um dia me copiei de lá e que agora aqui deixo:
«Trabalho aqui. A loja é minha. Como não adorá-la?!»

Lisboa, Lisboa

As fotos abaixo vesti-as de aguarela (jamais me atreveria a dizer que as pintei) porque necessito de as distanciar da realidade. Pá, cenas. Vai uma pessoa em visita de trabalho ao sui generis habitáculo do magnata deste pedaço de calçada e depois o melhor é disfarçar toda a informação, não vá surgir alguém que se insurja (ai, adoro escrever mal) ou coisa no género. Mas pronto, pedi ao magnata se os meus cliques não o apoquentavam e tal e tal, e saiu-me o que se vê abaixo. Estive então num sexto andar de Lisboa, logo eu, que ando sempre tão rasteirinha, quando de Lisboa falo. Vivi uma raridade, lá isso.

Triângulo de três pontos

Isto aqui é o reflexo do sol num farol. Fazemos todos um triângulo, se eu disser que o ponto do clique é o das limas folha de oliveira e agora estou a redigir este post atrás do balcão.

Jacarandás

É Maio e, em Maio, chegam os jacarandás às partes de Lisboa que geralmente percorro e avisto e digiro e rabisco e sei lá que mais. Uma dessas partes é uma rua onde há prédios com azulejos meio que liláses, que é a cor, nada por meio, dos jacarandás, que ladeiam a rua, fazendo com que, sob determinada perspectiva, assentem em cima dos azulejos. Em alguns dos Maios últimos fotografei essa perspectiva. Não me lembro se em alguma dessas vezes fui bem sucedida mas sei que desta não fui. Pá, não se nota que as cores sejam iguais, o que lamento largamente, uma vez que, pelos meus olhos, são. E ai a porra das vírgulas, ah pois é.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

a minha abordagem a este clique não foi a selfie, au eva, fiquei selfiemeiáda
já a frase considero-a puramente interessante

setas

Por acaso, mas só mesmo mesmo mesmo por acaso, um daqueles meros acasos, mas mesmo mero, muito muito mero – já chega, ó Gina - as setas que desenhei no placar estão uma merda. Já as da foto, que não são propriamente desenhadas, antes manuscritas, até se safam. Alindei-as com o filtro aguarela do meu telefone, que é o que mais gosto.

Resquícios do meu colega: um canivete.
Em todas as circunstâncias.
Todas.

Vendredi

No último post desta sequência registei que as sextas-feiras são a modos que sugadas pelo fim-de-semana. Pois são. A importância da sexta-feira está sobretudo na proximidade ao fim-de-semana. Lembra-me a ideia, quanto a mim acertada, de que a viagem é melhor do que chegar ao destino. Se bem que o sábado me seja deveras agradável, lá isso... Mas contenho o sábado, em outro sábado logo me jogo. Ora bem, isto tudo não significa que não goste das sextas-feiras, gosto da tal preparação, que obviamente não vivo sozinha, há todo um burburinho agitado, porém feliz, energia e disposição boas. Pronto, todo um rol. Contente. Um rol contente. As sextas-feiras sabem mesmo construir um rol todo ele contente.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Caneta azul

Mediante pedido, emprestei uma caneta a seu Freitasse, quando circulávamos na rua, nós dois e o meu colega. À pergunta inicial «alguém aí tem uma caneta que me empreste?» o meu colega apontou para mim. Respondi com entusiasmo que tenho sete canetas e que com prazer lhe emprestava uma delas sim senhor. O meu colega apurou a questão:
«Oh, ela tem sempre canetas. Gosta de escrever.»
Não fora o meu colega e o número de pessoas sabedoras disto meu (tão meu... digo: o blogue, mas digo principalemente o gosto pela escrita) seria ainda mais reduzido. Coloquei então a caneta azul na posse de seu Freitasse, não sem antes lhe mostrar orgulhosamente o molho que viaja comigo diariamente e, quando ma devolveu, seu Freitasse disse: «Obrigado, Gina. Acho que a tua caneta me deu sorte, viu?» Não me foi dado a conhecer para que serviu, mas se lhe deu sorte, tanto melhor.

É o que faltava

Faltou dizer que a nova impressora geme quando lhe falta o papel. Quero dizer: gemer gemer gemer ela geme quando lhe é levantada a tampa. Agora que penso melhor nesta interessante questão, até nem é gemer, é piar. É piar, é: piu piu piu, qual pissarinho. Sim, era mesmo pissarinho que eu queria escrever.

O Batman

O Batman, é como lhe chamamos desde o tempo imemorial em que ele se deslocava rua afora – e adentro, lados, cimos e baixos – envergando uma gabardine porque corria a época fria. Pá, alguém se lembrou e ficou. Acontece porém que tenho para mim que a gabardine já não ocorre nas nossas vidas, isto aquando das estações frias – fica aqui um lembrete para mim: ó Gina, às primeiras chuvas do próximo Outono, tu vê lá – mas pronto, adiante. E novo parágrafo, para isto ficar jolie.
O Batman é o moço de recados, portanto passa para lá e para cá uma data de vezes por dia. O verdadeiro motivo deste post é dizer que em todas essas vezes – todas! - me cumprimenta. Podia ser sem nome, mas é com.

Bolinha a pensar

'Bolinha a pensar, bolinha a pensar.' Foi a giríssima expressão que o Zé do restaurante usou para explicar ao técnico de software que o dito não estava a corresponder às expectativas mais básicas. É tipo assim como quando a gente não pensa ou não faz ou não é. Da 'bolinha a pensar', queria o Zé dizer de quando o computador procura resposta e nos mostra um círculo girando sobre si, desenhando-se e apagando-se, girar esse terminável, felizmente.

A dona disto tudo

Qualquer dia venho cá e parto isto tudo!
E eu deixo.
Ficou cheia de medo, não ficou?
Sim.

Não se apoquente o mundo com o diálogo exposto acima, o estaminé mantém a sua 'inteirice' e eu também. Se bem que tenha sido uma brincadeira, a verdade é que quando ouvi, ouvi como se a brincadeira fosse um disfarce mal amanhado para a vontade recalcada. Mas pronto, isto sou eu a.

Carregamento

Pára a camioneta, ou camião ou lá que é, e vai o meu colega e fica contentíssimo, pois que, ao invés do fornecimento de mercadoria que significa 'trabalho', veio foi duas caixas com garrafas de vinho, encomendadas via online pelo meu colega.
À parte disto, conto que a ideia de me safar lindamente na escolha de vinhos lá nas prateleiras do supermercado caiu por terra, e terra sem vinhas, uma vez que um amigo das motas afirmou, e firmou, que os vinhos que vão para o supermercado estão cheios de químicos, daí os descontos consideráveis que sempre por lá encontro e mais não sei o quê. Oh. E eu que até me convencia através da poesia que encontrava descrita nos rótulos e tudo... Por causa disso é que há montes e montes de tempo que não compro vinho.

furfusos

O sô Valdemar chamava furfusos aos parafusos, ainda que ciente do modo correcto. Morreu o sô Valdemar mas ficam-me os furfusos. Não sei se o blogue serve para esticar a presença das pessoas no mundo, mas lá que é uma ideia bonita, é.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Lisboa, Lisboa

«C' est un grand soleil!» Exclamou uma menina, pousando os pés no grande sol desenhado no solo da esquina mais próxima do estaminé. Tenho andado a ver se decoro quantos mais itens por lá vejo. Para já decorei um gato e uma ave. O gato percebe-se bastante bem mas a ave só ainda lhe distingui o bico. É que aquela curva só pode ser um bico de ave. Será preciso algo mais distintivo? - Deixem-se estar sossegados, a pergunta é para ser eu a responder. - Não.

Lisboa, Lisboa

Mr. Flanders vinha subindo a escadaria do Metro. Pesadamente. Idosamente, antes, que mais parece uma coisa de idade que de peso. Sim, idosamente não é coisa de se ver na Língua Portuguesa. Não para já, pois, pesquisando, ouvi zunzuns. Mas isto ocorreu há uns quantos dias, desde aí já vi Mr. Flandres outras vezes, só que estéreis. Ou então sou eu que.

Lisboa, Lisboa

Uma conhecida que se cruzou comigo na avenida mirou-me em todo o comprimento, embora eu não duvide que ela tenha medido mas é a largura. Agora é ela a gorda, pensei eu, cheia de glória e de cobardia. O desplante estou a usá-lo para escrever este post, que bem precisei dele, agora imagine-se as carradas que eu precisaria para do pensamento fazer voz. Venceu a cobardia, foi o que foi.

Lisboa, Lisboa

Quatro mulheres iam rua afora, trolleys a rolar na calçada, claramente em processo de chegada ao alojamento (a rua do estaminé tem um AL, anda para aqui uma certa modernidade, lá isso), notei-lhes o ânimo característico de quem chega – blás e mais blás, contudo: em língua estrangeira. Simultaneamente, à porta do número xis, uma moradora recebeu uma encomenda das que não entra na ranhura da caixa do correio e agradeceu com um 'obrigadíssimo' deveras agradecido. E bastante gratificante, bem como audível pra caraças, tanto que uma das mulheres espantou-se e comentou com outra: 'obrigadíssimo?!' e eu fiquei com a certeza que o 'obrigado' já antes constava no seu vocabulário. Não estou porém certa de ser ajuda do ok Google, mas pronto. E gosto de imaginar que o sabem através daqueles dicionários ajudadores de traduções simples, tipo: como se diz cadeira em francês, e chaire em português.

Lisboa, Lisboa

Desta vez não fui atractiva indo de plafonier na mão e sei porquê: é que a asa da caixa soltou-se, obrigando-me a levá-la debaixo do braço, acabando por lhe esconder parte do encanto. A caixa é um bocado grande, já eu disse, mas não em demasia, uma vez que coube entre a axila e a palma da mão. De resto: lá vim eu, Lisboa afora, nestas condições absurdamente incríveis. A parte, logo ao início, em que digo 'desta vez', quer dizer que é uma outra vez em que andei com um plafonier nas condições já descritas.

Lisboa, Lisboa

Foi na sexta-feira passada que vi que iam cortar as belas flores lilases de beira de estrada cosmopolita – se é que isto existe fora da minha cabeça, digo: estrada cosmopolita – homens empunhando motorroçadoras já haviam feito razia próximo a elas, portanto: as belas flores seriam cortadas logo logo. Foi na segunda-feira – ontem, portanto – que vi a esperada razia. A ausência. O vazio. A desolação. O desespero. Sim, sou um bocado depressiva, mas olhem que estou a ironizar. No outro dia, acho até que foi ontem, ouvi nas netes alguém dizer que aproveita os seus estados tristes e, ou, depressivos para brincar às piadas. Conheço o sentimento e faço também eu uso desse mesmo modo aqui no blogue.

domingo, 23 de maio de 2021

Aceitação às discrepâncias

Estou com oito caixas de plástico por companhia. Têm dentro de si roupas que raramente uso e, por isso, têm em si raros costumes. Isto dos raros costumes, para mim pode ser, au eva, para as caixas é uma discrepância. Bai da uei: o chá de camomila põe-me um bocado triste. Ainda bem que tenho um blogue, é pessoa que me aceita as discrepâncias e tudo.

Post musical

Se não me engano, a nota lá fica no terceiro espaço. O dó (mais grave que esse lá) é a nota pobre, ajudada por uma linha suplementar que alguém condescendente desenhou. Sempre tem o seu poiso, afinal. Realmente parece mesmo rejeitada, ou posta de castigo. Pesquisei, estava certa, é isso mesmo. Entretanto, através da pesquisa, relembrei que a escala é a de dó maior, ou seja: este post está redigido em dó maior. Relembro, agora de cabeça, que meios tons há-os de mi para fá e de si para dó, qualquer outra subida é de um tom. Por isto é que em teoria um fá é um mi sustenido e um si é um dó bemol. Digo teoria porque são expressões que se não usam, são a modos que dispensáveis. Mais: um sustenido aumenta a agudez da nota em meio tom e um bemol diminui-lha. Em tempos estudei música, era para ser acordeonista. Depois desisti.

Sons

Um som que já vem da minha infância é o aterrar dos pombos no quintal – zô zô zô zô, em ritmo frenético. Por traduzir o som para zôs, lembrei-me agora mesmo da palavra zoada. E é mesmo uma zoada, o aterrar. Que giro, há muitas palavras que nasceram do som que fazem, como raspar – rre rre rre. Mas sei lá eu se a zoada apareceu dos zôs que alguém ouviu, isto são, obviamente e somente, conjecturas. Ah, o meu pai era columbófilo, daí os pombos e o aterrar deles no quintal terem aparecido no blogue, e lembrei-me disto ontem, por conta das aterragens de pombos a que assisti numa vila alentejana.

temos medo

as pessoas, é umas com medo de ouvir, outras de falar - lá isso - portanto: as do medo de ouvir falam falam falam para que as do medo de falar só ouçam, que é precisamente o que mais querem, todos
e assim ficamos - precisamente todos - com os medos compostinhos e os desejos no melhor dos lugares

8:52

Não posso apontar as horas certas mas vou apontar que são oito e vinte e sete.
Hum, não, afinal são oito e cinquenta e dois.

a voz e avós é igual em som
a rota e arrota também

oliveiras alentejanas

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Lisboa, Lisboa

Meti pela avenida errada porque me esqueci do recado que ia fazer. Mal o lembrei mudei de rota para o executar, mas eis-me de novo esquecida e numa rota que nada tinha que ver com o dito recado. Ia distraída, pronto.

O motivo

Há dias vi uma mulher tocar à campainha do consultório e esperar que lhe abrissem a porta. Notei que estava derreada, como se cheia de dores, motivo que, obviamente, a levou ali. Às vezes os males das pessoas não se vêem, há quem se dirija a um consultório sem aparentar doença alguma. Não se vêem nem se ouvem... Tipo eu, vá. Ainda bem que há médicos que lêem os olhos dos pacientes para diagnosticar e outros que não se mostram impacientes demasiadas vezes, lá isso.

Sim. Sim.

As pessoas precisam de acolhimento. De repente o que parece é que precisam de ser repelidas, mas olhem que não, olhem que não. Sim, é de mim que estou a falar. Sim, sou dessas pessoas precisadas de acolhimento.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Pondero se é o final

Dia diferente dos demais, este. Mesmo que tenha levado uma banana e as chaves da senhora, a verdade é que não juntei tudo no mesmo saco, pois que, os sapatos, os levei nos pés e assim já não houve a ideia – já corriqueira, de certezinha – de enfiamento. Pondero se deva terminar a interessantíssima temática aqui. Ponderando, não decido. Terminada a ponderação é que. Este pensamento fez-me lembrar um post que vi algures nas netes, contando de um par de ténis recentemente adquirido – de um lado está impressa a frase 'do or do not' e do outro ''there is no try'. Ora e o que é que isto não! tem a ver? Nada! É que tem mesmo mesmo mesmo tudo!

Jeudi

Não julgo que goste tanto das quintas-feiras porque cada uma dará lugar a uma sexta-feira, cuja existência é a modos que sugada pelo fim-de-semana, gosto é das quintas-feiras porque têm um i. Gosto de is, pronto. Gosto até de gostar de is.
Todas as semanas temos uma quinta
(piadinha do povo)
e todas as quintas têm um i
(piadinha de mim para mim).

um canto da árvore amarela
o canto defronte desse canto

terça-feira, 18 de maio de 2021

Sons

A mais recente impressora do estaminé imprime facturas sem som. Costumo até dizer aos clientes que cospe papel, este novíssimo aparelho, e por vezes acrescento que levam ali um rolinho, já que é essa a forma com que aparecem no exterior. Parece um nascimento, agora me lembro, pois se estava dentro e saiu, parece que nasceu. Outra novidade desta maravilha é que a impressora é que corta o papel. Mas não totalmente, deixa um milímetro ou dois no meio, a segurar o que nasceu ao que há-de nascer. E vai eu e puxo. Não sei como comparar este gesto a um cordão umbilical mas sei que gosto de fazer de conta que é comparável. Inventei isto do nascimento e agora ando para aqui cheia de ideias que todavia não sei como embelezar. Que poeta que aqui está, senhoras e senhores...
Há badaladas nesta rua ao fechar e abrir da porta do estaminé. Decidi pôr à porta o expositor de correntes, em cujo cimo coloquei um resto de corrente do mais largueirão que há, naquela de não ocupar uma bobine e tal. Pois bem, é eu a arrastar aquilo chão afora e a corrente a bater no expositor – tlim tlim tlim. É um bater desorientado, não se pense que aí já eu faço poesia, ai não faço, não. E nem música.
Uma das fitas métricas em uso no estaminé passou-se do carreto e deixou de engolir a lâmina. Então, o meu colega, homem de ideias várias, estendeu a lâmina em toda a largura deste balcão, pregando-a com pregos pequenininhos para a gente ter (mais!) um modo de medir. Ora bem, por a lâmina estar meio que abaulada (ou côncava, vá) as mangas do meu casaco raspam e emitem um som conforme movimento os braços para dedilhar e acumular no blogue os meus pontos de interesse. É discreto, o som, mas como o ouvi em todos os posts que hoje produzi faço também disto assunto, o que não é o mesmo que fazer poesia, bem sei, mas.

Lisboa, Lisboa

Desculpe lá, disse o jovem. Caminhava de olhos postos no telemóvel, eu não, mas talvez tenha feito mal as contas ao espaço e íamos esbarrando. Ele vinha de viola a tiracolo e eu acho que aos músicos se perdoa imediatamente a distração. Ainda por cima soou-me bem o 'lá', quanto mais.

Lisboa, Lisboa

Um dia destes almocei sentada no primeiro banco que encontra quem desce a rua mais bonita de Lisboa. O repasto constou de uma empada de pato com figo. O lugar onde a comprei tem uma lista enorme de recheios e escolhi esse por me parecer um par estranho e, ainda assim, promissor. Por tanta espécie de sabores haver, a empada vinha com uma etiqueta minúscula a dizer pato em maiúsculas. Cuidei de a etiqueta ser comestível mas qual quê, nada disso. Podia tê-la comido na mesma, bem sei, mas rejeitei-a e, em jeito (ai, adoro escrever mal) de bom trato, retirei-a da boca e dispu-la em cima do banco. Era bem boa, a empada, fica o registo, fiquei com quê, para aí um quilo de manteiga na barriga, peso que nenhuma das pessoas que por mim passou saberá que tenho. Lessem o blogue e saberiam, lá isso.
Tenho medo de voltar a ser gorda. Não havendo quem demonstre ter o mesmo medo que eu, há quem se espante por eu ainda ser magra. Ainda há pouco me cruzei com a dona Genoveva que, depois do cumprimento habitual, comentou 'ai caramba, vejo-a e só pela voz é que a conheço!' Tenho também medo de comer. Presumo contudo que não se nota nenhum destes medos.

Intitular

Não gosto de intitular posts, assim como não gosto de não os intitular.
Não gosto porque um título resume e estou confortável é a desenvolver.
Gosto porque em querendo repescar um post antigo, se no dito não constar título, jamais se conseguirá linkar.
Por isto tudo é que, até hoje, só compus um post sem título, o qual obviamente não poderei repescar para exemplificar. Resta dizer que nos posts, ou nos dias..., em que me sinto absurdamente incapaz de intitular, tenho dois truques, ou o número de posts que esse post atinge, ou então chamo-lhe 'post com título', porque tem efectivamente título. Pode ainda acontecer recorrer a títulos uma e outra vez, afinal o blogue contém algumas rubricas, o 'Dias dum Ginásio' é disso exemplo. Pá, era isto.

Post exacerbado

O cliente acompanhou a pergunta 'tem pregos assim pequenininhos?' com o gesto de espaçar dois dedos para aí uns quatro centímetros. Aconteceu-me portanto uma coisa longe de certa, se é que isto tem medida. É um post exacerbado, este, pronto. Eu até lhe tinha escolhido o título quando ainda só tinha a ideia.

Conclusão

Desliguei o telefone e disse ao cliente que o meu colega chegaria num instante porque vinha ao fundo da rua, o que o levou a concluir que bem lhe tinha parecido que ele não tinha ido longe porque estava aqui a mota.

É de borla

Cartão de visita oferecido por boca:
If you take a card, you can call anytime. Maybe.

Gosto desta situação do arbusto florido em duas dimensões, tu não sei.

Pá, atão, né, é aquela.

Há dez dias que não enfiava a porra do capacete nos cornos.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

domingo, 16 de maio de 2021

Lisboa, Lisboa

Apagaram o 'sei lá' da rua mais bonita de Lisboa. Pintaram por cima, quero eu dizer, vê-se ainda contornos desse dizer que estava no muro junto à primeira árvore que encontra quem desce a rua mais bonita de Lisboa. Esse dizer retrata-me, daí gostar dele como gosto. Sei que o retratei quando ainda nítido, sei lá quando. Sei lá quando, lá está, 'sei lá', pipocou. Esta parte está como se fora escrita numa máquina de escrever à antiga, pipocou. Entretanto fui ver da foto e encontrei-a. Não me lembrava de a ter carregado com filtro, tampouco do que escrevi nesse post, ao qual se pode aceder, clicando aqui. De nada, ora essa.

I'm neutral, so...

...no thanks 😐

O matizado das beringelas

Há duas beringelas no móvel da cozinha. Matizadas a duas cores, a natural cor de beringela e uma espécie de branco. Ficam com um padrão listado. Ainda não abri nenhuma mas não duvido que por dentro sejam iguaizinhas às de uma só cor. Não duvido nem temo. E também não espero. A neutralidade é um absorvente da esperança. Eu vinha só falar do matizado das beringelas que estão no móvel da cozinha. Vinha, vinha.

sábado, 15 de maio de 2021

Infinitamente

Na infinita possibilidade do apaga-e-reescreve do software há facilitismo e rapidez e, se há questão que me aparece há anos, é como sairia o que escrevo se antes tivesse à disposição uma máquina de escrever.
Ia até, agora me lembro, ser giro pra caraças ter capturado o ecrã enquanto passei pelas tentativas de redigir o parágrafo acima - passou por uma boa dezena de 'figuras'. É também mais difícil abandonar os textos, precisamente pelo lado fácil que o software contém.
O que despoletou este tema foi uma entrevista que vi, e ouvi, em que o entrevistado contou que tem uma catrefada de máquinas de escrever e que as usa para escrever o que lhe aparece na hora, independentemente de lhe parecer bem ou de nada ter a dizer, é treca treca treca treca e vai disto. Esse entrevistado disse que um texto redigido através de um teclado de computador é mastigado. Pá, e é, adquire toda uma catrefada de formas (como referi acima) até o redactor considerar que o produto está finalizado. Agora vou pôr-me a escrever treca treca treca treca, a ver se me aguento.

Pois então cá estou. Falar de tempo, se calhar, não? Está um lindo dia de nuvens no céu. Pois, seria onde, né? No chão? Ah ah. O sol desponta mas em poucochinho. Neste momento (ah, sempre o momento) (o momento é a salvação do momento) estou sozinha em casa, coisa que é habitual se num sábado está o mundo. Pode dizer-se que o meu mundo gosta de sábados. Mas eu também. Gosto de estar sozinha, já pus isso no blogue uma catrefada de vezes, não fujo de estar sozinha, antes pelo contrário, promovo, consigo. Deve ser por isso que não tenho amizades profundas. Quero mudar de assunto, ai. Já chega de escrever. Já, é isso, já chega de escrever. Não chega nada. Sabem que eu acho deveras difícil escrever o que vem à cabeça sem ir buscar análises do que sou. Por isso é que escrever nem sempre é fixe e porreiro. Ai não é não. Às vezes escrever é uma merda. E é-o porque o interior clama pelo mau e ruim de mim. Até rimou. Dever ser verdade, então. Agora é que já chega. Registo que este pedaço de texto foi redigido corrigindo somente os erros do dedilhar, não o modo como está escrito e nem mesmo a pontuação. Adeus.

12000

A rica filha soube (não retive se por pesquisa deliberada, se por sugestão das netes) que os antigos - tão antigos mas tão antigos que remontam ao paleolítico (ou coisa assim) – davam cerca de doze mil passos diários. Então decidiu pôr como meta os doze mil passos no seu telemóvel, curiosa que ficou de perceber se a vida será, afinal, assim tão diferente dessa altura. Ao que parece não tem conseguido esse número. Falando agora de mim (e continuando por mim, que é um paleolítico costume que tenho), tenho a minha meta nos dez mil, e há muitos dias em que os consigo dar. Nem sempre venho pôr no blogue, ai isto ai aquilo, mas olhem que, olhem que. Olhem que venho sempre que quiser, nem sempre que me apeteça.

Bolo de banana

Da última vez que preparei bolo de banana usei as da Madeira. Como antes tinha comido uma, percebi que não eram lá muito doces e devo dizer que desconheço se é coisa da espécie ou do carácter da penca. Fiz então o bolo. Queria-o com cobertura de natas e queijo mascarpone e molho de caramelo mas vi-me impedida por conta de nos meus itens alimentares não constar natas. Reduzi, por assim dizer, o bolo a um miserável, por assim dizer, [ai, adoro escrever mal] leite condensado cozido, que é, na verdade, uma coisa caramelizada, e a vida prosseguiu a partir daí.
Já repararam que a vida prossegue de todos os presentes e ao mesmo tempo de um qualquer?
Despejei esse leite condensado numa tigela e levei-o meio minuto ao micro-ondas, o calor amolece-o, o que faz com que se misture rapidamente. Contudo, isso pode não acontecer, às vezes, por mais que misture, uns grumozinhos não se querem ver dissolvidos. Gosto de encontrar esses grumozinhos. Pá, cenas. E o leite condensado fez de cobertura com grumozinhos e tudo. Pá, atão, né, ora. 

Pastéis de nata

Da última vez que preparei pastéis de nata esqueci-me de pôr o açúcar na mistura de levar ao lume. Dei pelo esquecimento porque, ao ferver, a mistura estava meio que talhada e eu bem sabia que tinha traçado todos os itens necessários à obtenção de um bom resultado, em termos de dissolver tudo antes de ir ao lume e escolher acertadamente a intensidade do bico do fogão. Au eva...
«Ah!... Esqueci-me do açúcar!»
Pensei eu, sei lá se com voz também. Estava sozinha, o que mais faço é falar sozinha quando estou sozinha. Acomapnhada... ai perdão, acompanhada também, mas, se me ponho a prolongar este tema, saio do tema que me trouxe a este post. De maneiras que, pá, apareceu-me um creme com uma consistência tão estranha que me lembrei do açúcar que não havia posto e imediatamente me pus no encalço do frasco, alcancei-o, idem para a balança, pesei-o e joguei-o para dentro da caçarola, que entretanto havia retirado do lume, pois claro. O giro deste esquecimento é que pude perceber quão maravilhosa é a química da doçaria – logo que o açúcar derreteu a mistura aduqiriu... ai perdão, adquiriu a consistência esperável.


a receita aparece em clicando aqui (pá, sei lá eu se alguém quer saber como correu a vez primeira dos pastéis de nata)

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Gina, a comerciante de bairro

Bom dia, cumprimentou o cliente
Bom dia, retribuí
Procuro diluente celuloso, introduziu o cliente
E encontrou, exclamei
Exclamei, sim, muito embora não tenha pontuado o diálogo acima. Sou um bocado espontânea, lá isso. E nem é ideia somente minha, há pessoas que já me disseram que o sou.

27*

De maneiras que, pronto, achei que a tarefa de jogar as caixas de cartão para o fundo depósito feito de propósito para isso [ai, adoro escrever mal] era o melhor a fazer. Tratei portanto de retirar a mercadoria e acomodá-la a um canto, afinal de contas é frequente uma caixa de mercadoria ter ar a mais, ideia que se revelou, outra vez, certa, quando vi que ocupou para aí metade do espaço. Só que numa das caixas ia a factura. Pois. Bem sei que é lapso perdoável e facilmente corrigível, mas pus-me logo em memórias: *há quantos anos recebes mercadoria em cujas caixas vem colada a factura, ó Gina?
Em adenda deixo que este descuido não foi vez primeira.

Café(s)

Beber café com o estaminé em pleno funcionamento significa que a toma pode ser interrompida. Se esmiuçar o que é a presença de clientes no estaminé vou até onde pode ser e concluo que cada cliente é um acaso. E o mesmo acaso fará com que a toma de café se faça sem intervalo.

Lugar da musa

Passei no lugar da musa e vi que estava lá o senhor que em tempos idos lia o jornal, precisamente a ler o jornal. O lugar da musa agora é espaço de passagem porque a esplanada que lhe acede fica na passagem por entre as lojas da galeria comercial.

Lisboa, Lisboa

Há aquelas flores liláses (sim, o plural de lilás não carece de acento e pâ pâ pâ, só que eu marimbo pra isso e nhó nhó nhó) que moram no acesso à 2ª Circular e que de manhã se me apresentam como luminosas por reflectirem o sol. Vítreas, até. É uma soma da hora que é com o sol que está e ainda o ângulo que me é oferecido.

9779

Capicua no número de posts. Chegar aos dez mil posts antes do Verão é o que quero. Não é nada, lembrei-me, apenas isso.

Lisboa, Lisboa

Fui ao escritório do senhor doutor para entregar uma certa mercadoria. No caminho senti-me deveras atractiva.
Sim, era mesmo atractiva que eu queria dizer, dissesse eu atraente e teria que ver com beleza, já atractiva tem que ver com outra coisa qualquer, alegadamente exterior.
Levava comigo um plafonier de dimensões vistosas, daí os olhares das gentes, e em muito, uns disfarçados, outros destemidos. Após efectivar a entrega, desci a escada e eis-me de novo espreitando o jardim e fotografando-o através da nesga da janela. Tudo costumes com anos e anos. Deixo então a foto.

Lisboa, Lisboa

Na Primavera há aqueles bichinhos verdes que me caem em cima, e tanto já caíram dos plátanos de ao pé do muro de pedra como das outras árvores da avenida. Todos os anos falo destes bichinhos verdes. Parece a mim que todos os anos falo destes bichinhos verdes.

Polpinha de chicha

Lisboa, Lisboa

Nesta 'Lisboa' o cano aparece pixelizado. Ainda assim ponho-a na etiqueta das #semfiltro2021, já que o resto da foto apresento-a precisamente sem filtro.

Lisboa, Lisboa

Há semanas que queria fotografar este cano e sempre o tenho notado mais bonito quando o clima está húmido.

Ó pá tóin xiru!

quinta-feira, 13 de maio de 2021

'Mais uma' não é a mesma coisa que 'outra'.

Para que em mais uma quinta-feira haja um post onde vos descubro que pensei enfiar as chaves da senhora e a minha banana nos sapatos, tenho este post. Porém e para que todavia difira dos anteriores, acrescento que, antes de ser post, este post foi um áudio que gravei no telefone para fazer de lembrete e que, ó pá tóin xiru!, se fosse apresentado na sua primeira forma ouvir-se-ia ao fundo a voz da senhora em conversa telefónica com uma colega.

Hoje choveu em Lisboa mas a chuva que aparece na foto é artificial.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Lisboa, Lisboa

Lindo raminho foi posto no chão pelo vento ocasional. Pensei em fotografar mas desisti porque não sabia de que árvore teria caído. Os motivos são independentes de plausibilidade, noto, agora que escrevo.

Almoço

«Vou ver dele.» Anuncia o homem dos gatos, que vai de passagem. Estou à porta do estaminé e mando o bitaite que me apetece na altura, sai-me de arrasto, como tantos: «Está na hora.» «Para mim está» Continua ele «até chegar a casa é hora, ainda o vou fazer.» Sorrio, mas ele já vai de costas.

Sim, parece aquilo do ovo e da galinha.

Tanto pode as narinas terem sido formadas considerando o formato dos dedos como os dedos terem a forma que têm para poderem facilmente enfiar-se nas narinas.

«these are a few of my favorite things»

título inspirado numa canção do filme 'Música no Coração'

Mercredi

À quarta-feira não é mais do mesmo porque este dia é composto pelo comum pensamento de que se está a meio da semana. Eu, em certas quartas-feiras, noto o meio preciso da semana de trabalho, que é ali por volta das duas da tarde, ou coisa assim. Depois, obviamente, é pensamento que, noutras quartas-feiras, não me aparece.

Lisboa, Lisboa

Não deixa de ser uma selfie, lá isso.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Ao todo é meia dúzia

Vendi quatro parafusos auto-perfurantes e duas anilhas de chapa para pôr algures no espaço que dantes era ocupado pelo velho estaminé. Vai ser uma barbearia, aquilo lá. Eu já havia dito que aquilo lá vai ser uma barbearia?

Homens da obra

É um vaivém constante, o dos homens da obra aqui ao lado, sempre que chega algum carrego de material: ele é tijolos, ele é sacas, ele é ferramentas, ou então é preciso despejar o entulho. Por vezes cruza-se um com outro, ou um outro com ainda um outro. É giro de ver, passam-me à frente dos olhos, como não ver e achar giro? Aliás: ao momento tratam precisamente dessa tarefa, por isso é que me lembrei que no outro dia, aquando de um cruzamento de dois, ia um carregado e o outro provocou ironicamente: «grandalhão!» É realmente pequeno, o grandalhão, mas reagiu de imediato: «vai à merda!» Não sei se o outro foi mas sei que o grandalhão continua pequeno.

Percurso

Não se dá cabo das más experiências, para sempre existirão e é bem que assim seja porque, em querendo, servirão para orientar o resto do percurso.

Dias de um Ginásio

Retomei as aulas presenciais no Ginásio.
Na primeira aula tive o prazer de ver a professora sorridente. «Nota-se que estou mesmo feliz?», perguntou ela, para todos, respondi que sim. Vocalmente. E na minha cabeça está que lhe sorri aos bués, o que também é fixe.
Na segunda aula vi-me em prancha com remada e, achando que estava no ponto, alegrei-me. Nesse preciso momento a professora comentou com espanto: «Gina! Que estabilidade!» Pá, desmanchei-me a rir e, por junto, desmanchei a postura. Caraças.
Na terceira aula cheguei com tempo a mais para a dita, porém, de menos para fazer qualquer coisa em outros departamentos do Ginásio. Equipei-me e sentei-me num dos bancos do balneário, esperando a hora. Continuo a ser uma desassossegada da porra, não me vejo sem fazer coisas, sinto que não posso estar a modos que vazia porque me encho rapidamente do imprestável, e, por não estar a fazer coisas, pensei então no imprestável. Ouvi alguém perguntar «está tudo bem?» mas pensei que não era comigo. A pessoa insistiu e percebi que a questão era para mim. Olhei e vi uma jovem com uma expressão muito agradável. Na minha cabeça está que sorri tristemente. Respondi que sim e agradeci. Depois estiquei a ocorrência uma beca, alindando-a com toda uma catrefada de frases nascidas do é-assim-a-vida-cada-um-com-as-suas.

Corpo em transparências

No comedouro comercial onde me encontrava um homem entrou e cumprimentou os presentes individualmente, passando inclusive pelo pessoal de trabalho, excepto uma pessoa. Surpreendeu-me em poucochinho mas notei em muito. Matriz: há pessoas transparentes, mesmo que socialmente dispostas, independentemente de.

Banco de trás

Cá por coisas da minha vida feita vidinha espantosamente espantosa acontece que acontece viajar no banco de trás do carro por estes dias. Na verdade era isto. Quero dizer:

era isto + uma foto

Tatame

Cá por coisas da minha vida feita vidinha espantosamente espantosa acontece que acontece dormir no tatame por estes dias. Sou portanto pessoa para passar a vida a treinar. O Luís até comentou que sou 'uma atleta do caraças', que 'é tatame no Ginásio, é tatame em casa'.

Lugar de destaque

Quando percebi que o lugar de estacionamento que coincide com a porta do estaminé estava ocupado por uma viatura que não a de Paquita e Ramon, cuidei de terem rumado à Galiza. Só que entretanto vi-os na voltinha pedestre do costume. Sim, pedestre, e do costume, daí a sua viatura sumamente resignada ao mesmo lugar há meses. Temos então, por ora, uma bólide nesse lugar, e enlameada, o que é maravilhoso, pois quando a chuva nela der, é ver a vida a acontecer.
E mais depressa eu me pusesse na enga de registar este singelo facto, mais depressa a bólide daqui sairia. E assim tudo voltou ao mesmo – viatura de Paquita e Ramon volta a coincidir com a entrada do estaminé. De nada, ora essa.

Graminhas

Comprei uma beterraba com rama, de seu peso: duzentos e sessenta e cinco gramas. Comprei também morangos (quatrocentos e sessenta e cinco gramas) e alperces (duzentos e oitenta e cinco gramas), aos quais me apeteceu chamar cá por dentro 'alpareces' e agora está mesmo a apetecer-me pôr a gireza no blogue. Há dias, ao invés de 'querida', o nepalês da frutaria colocou o 'amor' (tudo explicadinho: chamou-me 'amor') na nossa relação puramente comercial. E eu bem sei que é também uma coisa lisboeta, isto do 'amor', da 'querida' e, até, da 'linda'. Entretanto, mais dias passados, sou tratada por 'princesa'. Não sei é se é uma escala ascendente de atenção e afecto, mas.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Painel

No painel, as agá-us ficam na primeira fila. Longe, portanto. Não, não é como no cinema, não.

Tropeçar não é cair

Tropecei numa pedra saliente e senti um choque na testa. Aquilo foi choque do pé à cabeça.

Isto é frio

Vesti-me de acordo com uma Primavera que afinal hoje não apareceu. Esteve portanto um frio do caraças.

Ao longo de anos tenho registado no blogue cadáveres que encontro dentro das montras mas isso não significa de todo que este seja apenas mais um.

De quando tentei que a caneta vermelha escrevesse no papel.
Tentei e escreveu.

domingo, 9 de maio de 2021

brabuletah

No passeio com a cadela, avistei-a por entre flores amarelas e ramagens verdes, o que formou um bonito contraste, e entretanto avistei uma borboleta amarela e verde. Estava de asas fechadas, daí ter-me parecido que o amarelo era a cor das costas e o verde a da frente. Mas isto são conjecturas, claro. Continuando a conjecturar, as asas não coincidiam, a do lado direito estava mais baixa que a do esquerdo, e foi por isso que vi o amarelo. Era uma coisa meio que desfasada. Conjecturada, vá.

Bambu

Comprei um cesto para pôr a roupa suja que dizia a embalagem ser feito de bambu. Lá que cheira a qualquer coisa amadeirada, cheira. Vou então supor que é bambu. O anterior cesto estava todo partidinho. Sendo de plástico e com feitio de tiras, aconteceu que tiras se separaram do todo e a roupa encalhava ali. Não é encalhava, é qualquer coisa que não sei o que é, não neste momento. Hum, é... prendia-se! É isso, prendia-se a roupa nessas tiras separadas do todo. Há meses que este item constava na minha lista de faltas do supermercado. Não gosto de ir ao supermercado. Não gosto. O que gosto é de ter a minha casa com tudo o que acho necessário ter. Disso é que gosto e é por isso que lá vou. Somente.

Amarelo

O abacateiro está mesmo muito amarelo e não me lembro como estava aos mais anos e gosto de não me lembrar. Gosto porque assim tenho para mim a novidade, existência sem a qual viveria doente. Esta é uma observação que coube em duas frases e que (igualmente) preparei ontem à noite e, giro giro giro, calhou de hoje a manhã estar de chuva (imagem) e molhar tanto o abacateiro que escureceu um bocado.

Sonho

Sonhei com sangue.
SCS
Quase parece SOS, falta-lhe um poucochinho de nada.

ó pá tóin xiru!

lista que preparei ontem à noite, sendo que, agora, é hoje de manhã

estender a roupa
arrumar a louça
fazer o bolo
aspirar uma metade
escrever até esquecer que também sou a senhora da limpeza cá em casa
editar o vídeo
preparar o almoço
passear o cão
arrumar a cozinha
encher as máquinas
aspirar outra metade
lavar o chão
limpar o fogão
apanhar a roupa
estender a roupa
arrumar a louça
escrever para esquecer que também sou a senhora da limpeza cá em casa
apanhar a roupa
encontrar respostas
eliminar oposições
fingir encontrar e eliminar e esquecer que finjo

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Registo invulgar.

É bom que registe que hoje não me apetece escrever, já que é absurdamente invulgar.

São quatro da tarde.

Voltei a caminhar de cabeça baixa, cruzei-me com cinco cêntimos. Enquanto escrevo, para contariar a perspectiva, ou coisa assim, da torre da igreja chegam quatro badaladas.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

diferente, afinal*

pensei em enfiar a minha banana e as chaves da senhora nos sapatos, e enfiei, mas só as chaves, que a banana, pronto, desisti

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Sol

Por ora não maldigo o sol - banhou-me a pique e foi bom.

Lisboa, Lisboa

Senhor condutor! Senhor condutor! Chamava a senhora agente já com a admoestação na voz.

Maio

Maio é o mês em que me noto a bronzear. Primeiro o rosto, depois os antebraços. Por ora vou no rosto.

Maio

Temos grelhas para assar, por exemplo, sardinhas. Estamos em Maio, primeiro mês sem érre, e diz o povo que meses assim são os da melhor sardinha. É, portanto, daqui até fins de Agosto. Que se aproveite, então.

Sonho

Sonhei que a rua Morais Soares estava cheia de gente, questão deveras comum, porém gente calada, e é aí que está o diferencial.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Assomaram

Esta tarde, assomaram à porta do estaminé, que eu tenha contado (ou que mereçam figurar no blogue), três pessoas. A primeira foi Lucrécia, «como vai, agora já quase não venho aqui», o segundo foi um conhecido da rua «então está tudo bem, ora pois, tem que ser» e, finalmente, o terceiro, pá, o terceiro foi um mero transeunte que num português mal amanhado me veio perguntar se eu lhe sabia dizer como se chama aquelas coisas que são como um fio de metal, com muitas peças agarradas. E eu:
«Corrente!»
E ele:
«Corente! Isso! Obrigado!»
E seguiu, deixando esta comerciante com água na boca, se afinal o que não falta neste estaminé é 'coisas que são como um fio de metal, com muitas peças agarradas', que estão cá para vender. Mas pronto, pus uma pessoa contente, lá ia ele em modo trá-lá-lá, ouvi-o dizer, aliás: cantar, a quem o acompanhava:
«É corente, é corente!»

Pastéis de nata

Raramente envio correio pela via tradicional, por isso é que ainda tenho ali dois pastéis de nata. Quero eu dizer: tenho dois selos com um pastel de nata em cada um. Na verdade está lá escrito que são de Belém. Pronto, a fazer de conta que tenho dois pastéis de nata para comer, vá. Também há outros selos, concretamente: seis de um só desenho, com um boneco em cima de uma prancha e agarrado a uma pega de onde saem fios e em cuja extremidade se atou uma lona para fazer o mesmo serviço que as velas dos barcos à vela. Há ondas revoltas no desenho, também. Na mesma divisória, tenho, ainda, e só para exemplificar diversidade, envelopes de vários tamanhos, postais de Natal, uma factura de ração para a minha cadela e um bloco de post-it em amarelo.

Mardi

À terça-feira, e sempre que a uma terça-feira noto que é terça-feira, lembro um dizer meu que tem figurado no blogue um montão de de vezes e já conta com uma porrada de anos:
'terça-feira é mais do mesmo no porvir'
É que à terça ainda falta vir de lá a quarta e a quinta que são 'mais do mesmo' e que se encontram 'no porvir'.

Comprinha

Comprei um creme de rosto - que é específico (leia-se apaneleirado aos bués) - e pus-me a estudar o papel que contém a panóplia de produtos ao dispor, bem como as respectivas informações que, embora sucintas, dá para analisar as questões mais importantes e sentir-me capaz de escolher conscientemente. Sinalizei, portanto, com asterisco quatro produtos a comprar futuramente.

Incerteza

Não estou certa de ser doce de figo, o que me faz pensar na possibilidade de ser é notar pedacinhos bem pequerruchos – quiçá sementinhas de figos, né?

Borracha

Tentei apagar com uma borracha as auréolas que as chávenas de café deixam no balcão, isto quando já secas. Não apagou. Fiquei deveras desiludida. Pá, se o refrigerante mais conhecido do mundo desentope canos...

Vesti-me de amarelo

Logo que me viu, o meu colega comentou que hoje era mau dia para escolher amarelo para vestir porque em Lisboa é dia de pôr o contentor amarelo na rua e vai que ainda se enganam e me tomam por plástico. Não, ainda me tomam mas é por contentor, corrijo eu só agora, no blogue.

Lisboa, Lisboa

Estou sentada no lugar cujo nome é o mesmo que o autocarro que daqui avisto diz que era o seu destino.

Pá, atão, né, é aquela.

domingo, 2 de maio de 2021

Dia

Quando o despertador soou já eu bebia o chá. Era de camomila. Fiquei a ouvir a canção, que é embaladora, afinal. Tem som de harpa ou assim e, por junto, águas mansas a correr. Se isto não é embalador, então não sei.
Às nove e meia encontrava-me a comer uma sopa de uma tigela bem funda. De hortaliça, a sopa, tinha couve escura aos pedaços e o feijão era encarnado e feito puré com outros legumes. Lugar: Azerbeijinho. Não é, é outro nome parecido a este, este inventei-o. A sopa estava mesmo boa, o tempero fez-me lembrar a comida da minha mãe, que nunca mais vou comer.
A estrada apresentou-me três papoilas contra a serra, em horizonte esta, do outro lado da estrada aquelas.
Estou a fingir que gosto de passear e estou a forçar-me a escrever coisas acerca do passeio para não pensar que finjo. Quero dizer: neste parágrafo é o que me está a acontecer.
O almoço foi lacão, que é, disse a chefe de sala (vamos lá mas é a pôr isto num escalão elevado) pernil de porco, acompanhou com puré de batata-doce e castanha, espinafres gratinados e rodelas de batata fritas. Com a sobremesa é que me lambi toda, pudim alentejano feito com pão (tinha de ser, né?), mel, amêndoas e laranja. Isto disse a chefe - simpatiquíssima, já agora fica o reparo, e entre hífenes, para destacar das demais interrupções - mas decerto lá puseram ovos. Ficou esquisito, mas vá, afinal as pessoas também põem ovos.
Quero que fique registado que este post está a ser construído lentamente, a cada pausa dedico-lhe um poucochinho de tempo a escrever. Eu acho sempre poucochinho o tempo que tenho para escrever. Cada parágrafo é um desses poucochinhos.
Giro que se farta foi ter reparado que numa localidade de seu nome Água de Todo o Ano há uma coisa aero-não-sei-quê. É água e ar, é o que é.
Mas firo giro giro foi ter passado a fronteira. Calhou. Era preciso abastecer e o posto mais próximo encontrava-se em território de nuestros hermanos. Mas, mais giro ainda, que eu bem sei que é possível, foi isto ter acontecido precisamente no dia em que reabriram as fronteiras.
O jantar foi sopa de espinafres. Também havia migas de espargos e plumas. E vinho. A propósito de bebidas, a água fui buscá-la à torneira do lavatório. Pá, uma pessoa cheia de sede, uma bica aqui ao pé e um copo tão à vista... Ora, água, esperar que ma tragam porquê?

Este dia nunca mais vai acontecer, nem estas nuvens.
É ainda de notar que a viagem também não.