quarta-feira, 22 de junho de 2022

Pratos limpos há que séculos!

Descendente de árabes que dominaram o Magrebe, foi ao serviço do cristão Rogério II, rei da Sicília, que al-Idrissi cartografou o seu nome no globo do saber. Em meados do século XII traçou mapas do mundo conhecido e descreveu as maravilhas que o povoavam. Ao deter-se sobre Mérida, já decadente no seu tempo, não deixou de anotar os momentos áureos da cidade a que os romanos chamaram Emerita Augusta, e que a tradição muçulmana continuava a reverenciar. A um curioso pormenor, a "sala da cozinha" do antigo palácio, reservou al-Idrissi detalhada prosa. O aqueduto da cidade abastecia a cozinha através de um canal, por onde deslizavam pratos de ouro e prata com toda a espécie de iguarias rumo ao salão dos banquetes. No final da refeição, de novo no canal, os pratos rodopiavam dentro da água, até que chegavam à cozinha e recebiam uma lavagem mais apurada. Al-Idrissi não usa o termo, mas é evidente que as revoluções da loiça de regresso à cozinha funcionavam como que uma pré-lavagem, que amolecia e eliminava as marcas mais evidentes das luxuosas refeições. O trabalho seguinte, supõe-se, consistiria sobretudo em desengordurar e, claro, em eliminar vestígios mais persistentes.

O trecho acima foi retirado de um artigo da revista Proteste, da autoria de Inês Lourinho. Achei um piadão, daí que, né? Poi zé. 

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