sábado, 25 de fevereiro de 2023

Das colectâneas

Tenho dois livros (falo de umas colectâneas em que participei como autora) às quais quero dar o mesmo destino que dei a alguns livros no fim de os ler. Passa este evento por escrever algo de meu na folha morta, pousá-los num banco de rua e abandoná-los, no fundo deixá-los à mercê da vontade de algum passante os levar consigo. Abandonar estas colectâneas é ideia que tenho há meses e meses e o motivo principal é tê-las em duplicado. Depois acresce que não me orgulho nem um pouco destas participações. Na altura reinava o ano dois mil e doze nas nossas vidas, encontrei uma editora - notem bem: por acaso – que aceitava contos para integrar uma colectânea e enviei um que já tinha escrito. Para mim foi importante ter enviado algo já pronto, assim livrei-me da pressão de ter que escrever 'bem' e escrever mesmomesmomesmo para pessoas lerem. Quando recebi o email anunciando que o conto havia sido escolhido fiquei eufórica, julgando que, afinal, até escrevia 'bem'. Só que não. A editora era (ou é, sei lá) do género de aceitar 'qualquer coisa'. Mesmo assim ainda participei em mais algumas colectâneas, concluindo que era giro aceitar o desafio de escrever sobre isto ou aquilo. E sempre o meu conto era escolhido. Oh. Bom, lá que serviu para experiência, serviu. Mas não sinto qualquer prazer ou orgulho (quiçá não devesse mesmo sentir orgulho, mas vá) nestas questões e, se quero fazer os mesmo a estas colectâneas que fiz a outros livros que já li, é principalmente porque as tenho a dobrar. Sério. Há dias retirei-as da prateleira e coloquei-as em cima do móvel alto. Sabia que, se as pusesse num lugar de passagem, iria vê-las com frequência e assim me lembraria do evento que me propusera. Estiveram ali meses. Há dias levei-as para o estaminé e, decidida a recordar os meus contos (aquela em especial contém três contos de cada um dos autores), abri a página e... Oh porra, que susto! Oh horror na minha vida! Até me doeu, e nem sei o quê, sei é que tive vontade de queimar aquela merda toda, só por dizer que não estou lá sozinha. Mas o evento de as abandonar algures em Lisboa há-de acontecer, olarila.

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