A sala de espera tem uma área enorme, ademais é forrada nas paredes a azulejo, o que projecta as vozes em ecos sem fim. É de rebentar os miolos. Porra. Em certa altura saí de lá, inventei um momento, um que me parecesse apropriado para não ferir a parte social, o conjunto de pessoas presentes, «vou lá fora apanhar ar», foi o que disse e saí. Se há coisa de que me tenho vindo a livrar é de culpas pequenas, e esta é mesmo pequerrucha, insatisfatória. Lá fora estava na hora do recolher da passarada. Eia pá, a barulheira que os bichinhos faziam. Impressão nenhuma na minha cabeça nessa hora. Ah... Balsâmico, esse som, voltei a gostar de ter ouvidos.
Regressei à sala. De certo modo o dever obriga-me a ser quem na verdade não sou. De certo modo concentrar-me em coisas presentes obriga-me a distrair-me do que sou.
Há uma cadeira de dentista na sala de espera. Aliás, duas, mas diferentes, e todos ali diziam que não é de dentista, é de barbeiro. Mas eu: «Não. Ok, aquela ali pode ser, mas olha que não é, olha o dispensador de papel, mesmo à cabeceira. Ok, cabeceira é de cama. Olha, onde é que há século e meio havia um barbeiro com dispensador de papel que parece um rolinho para os clientes não apanharem infeções?» «Quais infeções?!» perguntam. «Sei lá!» respondo «então dantes não havia infeções?»
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