Recebi uma carta pelo correio tradicional, o que achei incrível. Por dentro uma folha á-quatro impressa na fonte não sei das quantas e no tamanho onze, foto tipo passe no canto superior esquerdo que revelava o rosto duma sorridente senhora, por fora um envelope com carimbo dum consultório como remetente e os meus dados apontados à mão, numa letra gorda e espaçada, como destinatário. Esta missiva, chamo-lhe assim para relevar o método de envio que é montes de antigo, veio das mãos duma senhora doutora onde em tempos andei a ver do meu aparelho reprodutor. E estava tudo bem, claro, pois, afinal está sempre tudo bem. Mas a missiva. É que mesmo decorridos uns oito ou nove anos, o meu nome perdurou nos ficheiros, e como a senhora doutora foi para casa dar mais atenção à família, estou a usar os termos dela, mas por outras palavras a verdade é que a senhora reformou-se e quis despedir-se de todos os aparelhos reprodutores por onde passou, literalmente, tanto mãos como instrumentos de pontas, pontas essas que me permitiram ver, um dia, uma vez, a imagem do meu útero num computador, e isto sem qualquer nado-vivo lá dentro, não era portanto uma imagem ultra-sónica (sei lá como se chamam as ecografias...) nem nada disso, era uma imagem mesmo a sério, mesmo, mesmo imagem, como se estivesse a ver um filme na tv. Sem guião. As paredes dum útero são assim como que rosadas. Sim, sou muito bonita por dentro. E nem me vou desculpar pela piada comum e por isso desengraçada.
Bom, então adeus, senhora doutora, também gostei muito de lidar consigo.
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