Ano bissexto dá nisto, dia invulgar, mas certo, aparece em cada quatro anos. Este post é um 'Dia de (disseram na Radio)', é que hoje, por ser um dia especial, é dia de a gente comemorar, ou lembrar, às tantas é mas é isso, algo que somente se faça ou cumpra exatamente neste dia e não no dia arranjado à pressa pelos anos comuns, o 1 de março, pois qual quê, nada disso, é neste dia... Bom, já se percebeu, não é. É. Pois eis que este é o terceiro dia deste tipo que vivo na blogosfera, e para comemorar nada melhor do que ir espreitar o que publiquei das outras duas vezes em que. Na verdade sei, sem ir espreitar, que no último 29 de fevereiro (2012) recordei o que tinha escrito no anterior (2008), portanto creio que nem vale a pena ir lá tão longe, bastar-me-á portanto recuar a 2012. Vamos lá.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Uma especialidade
Houve tempo em que me achava aquém na escrita, na forma de escrever, desconhecia que para escrever é somente preciso ter algo a dizer, mais nada.
Houve tempo em que receava chegar ao fim, esgotar os temas, se me deixasse enredar pelas malhas da vergonha e abolisse assuntos, então mais rápido seria. Um horror. Nada disso, a vida transforma-se a cada segundo, sendo por isso possível recontá-la infinitamente. E sempre dum modo diferente.
Houve tempo em que me achei especial, podia esperar que me chegasse a tal da inspiração. Só precisava 'descansar', 'viver', 'observar' sem o intuito subliminar de escrever.
Hoje não me acho aquém, finita ou especial. Sou eu. Só isso é tudo.
O sorriso
As pessoas ficam bonitas quando sorriem. Pouco importa se o sorriso é falso, quanto mais vivo mas se aviva a ideia de que é a falsidade que nos comanda.
As pessoas ficam bonitas quando sorriem, retorno. Com um bebé ao colo é muito fácil. O que há em nós de mais puro e belo aflora se carregarmos um desses seres minúsculos. Se lhes tocarmos rejuvenescemos um pouco. É bom passar o dedo indicador no antebraço – antebracinho, ah pois – do bebé. Hum, é tão fofinha, a pele. Contagia.
O toque é sempre importante, agora me lembro. Não me venham dizer que fantasiar é fixe, agora não.
Viver & Escrever
Sou admiradora profunda do que é real. Não sei escrever o idealizado; imaginado; inventado. Atrapalho-me toda, nada fica claro para mim. Posso escrever suposições mas rara e dificilmente escrevo invenções.
Para alguns (leitores), os meus textos poderão revelar sentimentos ou situações que devia guardar para mim, ou acharão que me exponho em demasia. Concordo.
Se eu criar personagens, eles – e principalmente elas – serão à semelhança do que eu queria – quero - ser e as situações aproximar-se-ão do que eu queria – quero - viver. É mais revelador contar histórias que não viva ou testemunhe, pois desmascararia num ápice os desejos mais íntimos e impróprios. Seria avassalador.
Linguagem canina
Passa na rua a senhora da cadela Bela. Sei que é Bela porque a senhora em questão passa a vida a chamar e a ralhar com ela, a cadela.
Bela, quieta!
Bela, para aqui!
Bela, senta!
Enquanto isso escolhe a melhor cera para a empregada passar no chão da sala, que está tão feio.
Noutro dia vendi-lhe umas coisas, outras coisas que não cera, e depois enganei-me na conta. Só dei conta (?!) quando ela, que não a cadela, havia saído para a rua e já ia longe. A próxima vez que a vir devo pedir-lhe que me dissolva o défice em biscoitos para cão? Perdão, para cadela?
A madrinha
Vai ali aquela que eu acho que é a madrinha da outra. Não têm nada a ver uma com a outra, claro. Só que eu acho que são iguais, muito embora saiba que não são a mesma. Mas não o são, claro. Aquela que vai ali e a madrinha, quero eu dizer. E acho aquela que vai ali tem cara de madrinha da outra porque esta, quando vinha aqui, fazia-se acompanhar da madrinha que é parecida com aquela que vai ali e que também está metida nesta história. É daí que vem a falsa ideia. Mas a madrinha e a afilhada, as propriamente ditas, ou o raio que parta isto e o caraças mais a história confusa que estou a escrever... Nada têm a ver com aquela que vai ali.
De nível
Um senhor subia a alameda. Um senhor muito, muito alto. Uma senhora muito, muito baixa descia a alameda.
A dada altura, é disso mesmo que se trata: altura, ficaram ao mesmo nível, à mesma altura.
Um retrato da vida, este. Altos. Baixos. Caminhos opostos. Iguais. À mesma altura. Ao mesmo nível. Embora diferentes.
Escrito pela Gina G Sem comentários:
Se calhar não...
Talvez não seja por acaso que os vocábulos 'aparecida' e 'apreciada' são grafados com as mesmíssimas letras.
Não serás apreciada se não te fizeres aparecida...
A leitora
Ler no lugar da musa é altamente revelador, ou prenúncio de vida - vejo pessoas passeando nos botões do meu casaco.
Incrível...
Não há vontade de escrever se estou cansada de fingir que sou boa pessoa. Ausenta-se, essa vontade. Ao invés de ficar mais leve por existirem menos milhentas coisinhas cá dentro em ebulição, prestes a explodir... Pois não senhores! Há uma carga adicional, incrivelmente. Não escrever pesa-me.
Aromas da Natureza
Estou particularmente sensível aos cheiros. (Algo me diz que me afaste do ego...)
Ela tem uma sensibilidade incrível aos cheiros e aromas.
O cheiro adocicado daquela cliente velhinha que tem uma quinta no Pinhal Novo provoca-lhe náuseas.
O cheiro acre - que entende como grosso e fatalmente percetível – da mulher da caixa do banco revira-lhe o estômago e é a custo que se sustém na fila.
O cheiro a colas e sintéticos que emana da esquina mais próxima onde trabalha um sapateiro, tem como consequência o ato de levar as mãos à boca e ao nariz, a ver se aquilo passa.
O cheiro do casaco de cima do senhor Adeodato é insuportável. A custo se mantém próxima do dito senhor. Fala sem respirar. Afasta-se subtilmente para não feri-lo, que é sempre tão amavelmente… rude.
Voltando ao ego... Sempre que aprofundo as tristezas tenho esta hipersensibilidade, acontece-me há uns tempos.
Se escrever passa.
Passa?
Passa.
29 de fevereiro*
É a segunda vez que este dia existe desde que tenho o blogue. Como não sei o que escrever, e porque me apetece escrever – estranhamente – fui cuscar o que escrevi em 29 de Fevereiro de 2008. Diz assim:
O tempo passa veloz. Nasci num ano bissexto e este é o meu décimo ano bissexto, logo... tenho __?__ anos.
Para abrilhantar e clarear este dia mais raro que os outros, ouvi um saboroso elogio de um cliente habitual*: - "Que Deus a conserve com saúde! Que linda senhora!"
Quando eu tinha menos uns quantos anos bissextos - para aí metade dos que tenho agora - ninguém me dizia coisas destas. Será que agora sou mais bonita do que fui na juventude?
* o asterisco quer dizer que o elogio foi dito com o maior respeito por alguém que já conheço há alguns anos, para além de que, acho que vou estar para aí uns dois dias sem odiar a minha profissão porque, eu não sou mais bonita do que era na juventude, o que acontece é que, se eu não lidasse de uma forma tão directa com tantas pessoas tão diversas na sua maneira de comunicar, não ouviria agradabilidades destas...
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