Vi um filme de andanças pelas danças de salão e competições. Era um filme lamechas, um filme de gaja. Geralmente são histórias leves e despercebidas, este em particular pareceu-me até ser um daqueles filmes de classe B, com atores pouco conhecidos e tal.
O dançarino era surdo e desligava o aparelho para dançar. A dançarina amava-o mas eles não se completavam senão dançando. Separaram-se mas foram-se vendo, que o meio era-lhes comum.
A professora primária assistiu a uma palestra do dançarino e ficou tão encantada que no fim chegaram à conversa e ela propôs-lhe que lhe ensinasse, a si e ao seu noivo, a dançar a valsa para não fazerem má figura aquando da boda. Porém, o noivo, que era um ocupadíssimo homem de negócios, não se determinava a ir mesmo às aulas, de maneiras que ia ela. Aprendeu aquilo tudo num ápice, vendo-se, a dada altura, a braços e a pernas com a possibilidade de participar numa competição importante, fazendo par com o seu professor. A meio dos ensaios apaixonaram-se mas levaram ainda algum tempo a admitir e a mostrar os verdadeiros sentimentos. Uma coisa muito bonita que aconteceu entre os dois foi o facto de ele, que desligava o aparelho de cada vez que dançava - apoiava-se na vibração do solo para se aperceber do ritmo – o que fazia com que no fundo dançasse sozinho, fechado no seu mundo, não havendo assim interação entre o par, muito embora parecesse que sim. A professora primária chamou-o à atenção sobre esse facto e ele, no dia da competição, dançou com o aparelho ligado.
Neste ponto o filme bateu-me à porta, eu que me isolo, me dobro sobre a barriga para não verem tudo, me tranco num mundo, o meu. Às vezes acho que o blogue – os textos, as fotos, os vídeos – são a farsa que uso para acreditar que existo mesmo. Mesmo.
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