Era uma vez um placar publicitário antiquíssimo que se manteve preso à parede deste prédio por meio século. Esse placar, em dias de vendaval, gemia pra caraças, tanto que o Antunes se queixou de não o deixar dormir numa noite ou noutra, dada a proximidade da janela do seu quarto. Então e quantas vezes foi pelo gemido do placar que percebi os vendavais na rua? Para aí umas noventa e duas. Ou mil e quinze, vá. É óbvio que não sei quantas. No dia em que o meu colega se pendurou no escadote mais alto de todos para retirar o placar, passou o Antunes e ironizou:
Ó juventude, tu não tires isso daí, meu!
Dias depois, o olhar do americano pousou no placar, que esperava, já fora da parede, outro poiso, e se encantou com a longevidade que aparentava o enferrujado pedaço de metal. Qui-lo para si. Disse que era para pôr in is barn, lá nos eu-as, um dia destes.
Era efetivamente muito bonito, o placar, dizia robbialac em letras brancas, num fundo azul escuro, a forma era demodè, portanto: vintage, e ainda me deu tempo para registar mentalmente que o ó de robbialac era oblíquo, ou talvez num exagerado itálico. Queria tirar uma foto antes do last goodbye but fui adiando o clique e o tempo esgotou. No momento em que vi o americano à porta do estaminé, segurando o placar, ainda pensei pedir-lhe para tirar uma foto. Mas não. Agora só resta esperar o dia de o placar fazer de estandarte lá no barn que fica very, very far away from here, portanto in another place of the earth, e arranjar coragem para pedir ao americano: can you take a picture for me, please?
So long, good fellow, i'll be missing you. Lamento o ó inclinado, que não o conheci o tempo suficiente, foi preciso ter o placar aos meus pés para notá-lo.
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