domingo, 30 de dezembro de 2018

Doces


Este fim-de-semana estive pouco dada à feitura de doces. Sei lá, não me apetecia. 

Ontem, por via de querer comer um docinho, que tenho o corpo habituado a isto de o adoçar ao fim-de-semana, obriguei-me a fazer um crumble de maçã, pois que, para além de ser o meu doce preferido, é também muito fácil e ademais sei-o de cor, é que nem é preciso ir buscar os óculos para ler a receita, posso portanto fazê-lo de cabeça erguida, armada em boa. Que até sou, nisto de fazer doces, ai sou, sou. Mas deixei o crumble queimar. É. Não todo mas às bordas, podendo ainda aproveitar o meio, que não estava tão bom como é meu hábito conseguir. Sei lá. Isto vem provar o não-sei-quê, aquele dito de quando a gente não lhe apetece fazer algo, não faça. Isso é um não-sei-quê.

Hoje fiz um doce acerca do qual conheço o paradeiro (frigorífico), mas desconheço o sabor (ainda não provei). Passava do meio-dia, a sirene dos Bombeiros já tinha alarmado os visitantes (que os moradores estão habituados ao toque, é meio-dia e pronto, se a sirene toca a desoras e longamente é que há fogo ou assim, que de resto, pronto, já se percebeu, né?) e eu ainda não tinha levantado a mesa do pequeno-almoço e do jantar, quer isto dizer que a mesa da cozinha e as bancadas estavam apinhadas de louça suja e pedaços de comidas várias e também de toda a parafernália que convém existir numa cozinha… E vai que mesmo assim, mesmo a mesa cheia de coisas, me pus a fazer um doce com o que havia. Havia quatro claras, havia uma lata de leite condensado e cozido, havia um pacote de natas encetado, havia bolachas de chocolate, havia leite e havia chocolate em pó. Ora e o que é que eu fiz? Preparei, por entre toda a espécie de coisas que já mencionei acima, um caos do caraças, mas dizia eu,  fiz um doce tipo assim às camadas.
Bati as claras em castelo
Bati o leite condensado e cozido
Juntei duas colheronas de natas
Bati
Juntei as claras
Envolvi
Amornei o leite
Diluí o chocolate em pó no leite
Embebi as bolachas no leite
Dispu-las no fundo de uma taça
Joguei-lhes o creme de leite condensado
E procedi como está descrito nos três últimos itens até se me acabar as bolachas e o creme. Rendeu três camadas. Será que está bom? Presumo que sim, afinal o conteúdo do que está naquela taça tem tudo para maravilhar qualquer um, e eu não sou lá muito esquisita em matéria de doces.

Posta-restante
Ou às tantas sou uma esquisitinha do caraças, que já provei o doce e não está assim tão bom. As bolachas são rijas que se farta, portanto o tempo de repouso no leite morno foi aquém, o sabor das ditas é um tanto ou quanto antiquado, estão a ver o cheiro do guarda-fatos da vossa tia já muito velhinha?, pois é um cheiro desses mas em sabor, que vai-se a ver e é a mesma coisa, boca, nariz, tudo, é tudo igual em sensações. Não é nada, mas vá. As bolachas que usei são as shortcake (acho que é este o nome do tipo delas) de chocolate. São uma bolachas rectagulares, com as bordas riscadas e, quando são de manteiga, as originais, são amanteigadas, lá está, portanto crocantes. Pá, só por dizer que estas que escolhi, e comprei, são para lá de crocantes, de modo que o tempo de repouso no leitinho achocolatado foi aquém, como já disse. E acresce o não muito bom sabor, como também já disse mas reforço agora porque me apetece. Aquilo usam baunilha que não é baunilha mas sim aquele composto que a faz lembrar, se levado a processos não-sei-quê. Não consigo lembrar-me do nome da substância que é usada para substituir a baunilha, isto por conta de se lhe assemelhar depois dos tais processos. Sério que não me lembro, já pesquisei e tudo. Mas pronto, aquelas bolachinhas, as minhas, que são de marca branca, são ruins de sabor e rijas que eu sei lá. E não, crocância não é sinónimo de rijeza. Crocância é um clique especial que uma massa cozida em forno faz, ao ser trincada com os dentes da frente. Rijeza é um estalo que a gente leva nos maxilares ao trincar, porque é com os dentes de trás que o fazemos, que com os da frente não conseguiríamos. 

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