sexta-feira, 4 de maio de 2018

Despertadores

Despertadores, tenho três - o rádio, o telemóvel, a cadela.
Primeiro soa o rádio, geralmente com uma canção da moda d'agora, podendo também ouvir-se uma voz feminina a dizer as horas que são, como está o tempo, levante-se daí e ande lá com a vida, olhe que hoje é sexta-feira, vá, força, esperança, afinal o mundo nem sobrevive sem si nem nada.
Levanto-me.
Segundo soa um telemóvel a fazer de galo: ó-ó-ó-óóóó - sim, ós sem cê. Produziram uma esganiçada voz de bicho, não é uma queixa, é do mais indicada que há para despertar qualquer um, como quem diz: eh pá, deixa-te mas é de merdas e põe-te a jeito, a vida é curta, não a desperdices dormindo.
Levanto-me.
Terceiro soa o bicho-cão. Sacode-se vigorosamente. Geme mansamente. Empoleira-se na beira da cama. Gane baixinho. Ainda debaixo da roupa, acaricio-a. Sento-me na cama, acaricio-a e falo-lhe.
Levanto-me.

Nota:
A ordem do aparecimento de cada despertador não é forçosamente a que apresentei, quantas e quantas madrugadas foi – e acredito que há de ser por muitas mais - a cadela o meu primeiro despertador.

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