A minha sogra perguntou-me por novidades e eu joguei-me ao arroz de frango que fizera no dia anterior, usando um espécime daqueles que no talho me dizem vir do Campo, dizem também que é muito bom e eu concordo. Sabia lá eu o que lhe contar. Acrescentei que trocara o pato pelo frango do Campo, uma vez que a rica filha lhe faz impressão comer pato por considerá-lo fofinho e queriduxo. É certo que a rapariga tem lógica neste pensamento, é lá possível alguém comer uma chicha que já foi corpo movediço de um bicho fofinho e queriduxo, né? Por acaso, já agora registo também isto, estou cá desconfiada que deixei os miúdos do frango no talho, e o pior é que os paguei. Quem sabe numa próxima vez que lá vá a senhora se lembre do lapso e me dê um outro conjunto de miudezas, sempre há-de dar para fazer um caldinho bom para saborizar a sopa.
Tens a escrita em dia, comentou a minha sogra, quando me viu largar o caderno. Sorriu - tal como fez aqui - respondi-lhe que nunca tenho tudo escrito, sorrindo também.
(Que sonhos terão os velhos – ai, quem me dera ter outra vez vinte anos? Contudo, a incapacidade total, velho ou então não, é rejuvenescer. Da incapacidade nasce a resignação, as pessoas acabam por se acomodar. É isso ou então é a loucura.)
(A TV transmitia um daqueles programas alegres e musicais, daqueles do povo, vá.)
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