Em tempos acatei o juízo comum que diz ser fundamental escrever sobre aquilo que conheço, que, se estiver cheia de certezas, a corrente flui e determina, e que, ao contrário, notar-se-á imediatamente a vacuidade das palavras, e mais isto e mais aquilo e blás e coisas.
Actualmente considero que o ideal é escrever sobre aquilo de que gosto. Não foi epifania minha, quero eu dizer tipo assim uma eureka, uma questão do meu interior, não senhoras e senhores, antes ouvi de alguém, ou li, já não recordo.
E é. Olhem que é.
Escrever de comidinhas para não escrever de tristezas, é coisa para eu já ter feito umas quantas centenas de vezes. Adoro escrever sobre comida, tanto em termos de confeção como de ingredientes, listas de afazeres, de compras e até, pasme-se, de limpezas domésticas.
E viva a tristeza! Olarila!
Sou uma pessoa triste que gosta de escrever sobre tudo o que compõe a manutenção doméstica, o que inclui como cozinho e suas inerências. É isso.
Este fim-de-semana fiz um bolo de fubá, cuja receita retirei já não malembra de onde. Consta de:
3 ovos
1 cup de açúcar (usei amarelo)
1 cup de leite (usei meio gordo)
1 cup de leite (usei meio gordo)
1 cup de óleo (usei de coco)
1 colher de sopa de manteiga
1 limão (raspa, e a receita não pedia)
1 cup de farinha de trigo
1 cup de farinha de milho (fubá)
1 colher de chá de fermento em pó
1 pitada de canela em pó (a receita não pedia)
Faz-se colocando no liquidificador os 5 primeiros ingredientes e, enquanto tudo se mistura, mede-se os restantes, peneira-se para uma taça, esburaca-se para se deitar ao mistura do liquidificador, mistura-se e deita-se numa forma de buraco que já esteja untada e enfarinhada e enfia-se no forno a temperatura média durante mais ou menos 40 minutos.
Ter escolhido esta receita aconteceu porque sei de um costume brasileiro de misturar nesta massa cubos de goiabada e eu queria muito saber como fica. Ora eu não tinha goiabada, nem comprei, e sei de sobeja que sendo assim não estou a fazer o dito bolo que queria (digo isto porque sei que a goiabada é rija que se farta e suponho que bastante ácida) mas tinha marmelada que comprara ao meu fornecedor de nome Ângelo. Então decidi que faria assim, ou seja: não copiei porra nenhuma, acabando por experimentar uma receita que, afinal, inventei. Ademais, não envolvi os cubinhos de marmelada (que perfaziam 200 gramas, registo aqui este ingrediente, não vá alguém querer copiar esta que escreve e mais não sei o quê), antes coloquei o bolo no forno, marquei 20 minutos no temporizador e, passado este tempo, retirei o bolo para o cobrir com os ditos cubinhos, pois optando pela outra maneira o mais certo era tudo ir parar ao fundo e colar de tal modo que dificilmente conseguiria desenformar o bolo. A minha esperança era que os cubinhos, ou pelo menos alguns, descessem e se alojassem no meio do bolo. Só que não, para ali ficaram, em equilíbrio, sem furar nada, nadinha. Na verdade estava muito bonito, uma massa amarela com pontinhos avermelhados. Muito bonito mesmo. Mas é que era preciso desenformar o bolo, ou por outra: eu queria desenformar o bolo, de maneiras que, assim que desabou no prato e o voltei para o fazer desabar noutro, os cubinhos tinham ficado quase todos no primeiro prato e lá se foi a beleza toda. Vai daí, já que a vida não acaba por um bolo bonito deixar de o ser num repente, raspei os cubinhos e espalhei no bolo. E pronto. Está tão bom... Experimentem.
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