quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

{{soubesse eu escrever Lisboa...

De Arroios, pois, de Arroios mais precisamente, da lisboníssima freguesia de São Jorge, 4ª bairro fiscal, ou, mais precisamente ainda, duma janela de infância voltada para uma igreja que já não há e para um largo de bêbados dormentes, saltitados por pombinhas maneirinhas.
Sou daí, desse largo e dessa janela, ficas a saber. Um pouco atrás (num quarto da Travessa das Freiras, segundo as biografias oficiais) é que o romancista Camilo, muito dado a amores de perdição, praticou os seus erotismos nortenhos com a Dona Ana Plácido; mais abaixo, fim da Rua de Arroios, ficava o cortiço onde o primo Basílio do respeitado Eça de Queiroz abelhou entre lençóis a despassarada Luisinha que andava fugida aos beirais, e por aqui já se está a ver como Arroios, um século atrás, era um verdadeiro folhetim de alcovas tresmalhadas que a História passou a escrito. Espero bem que, lá no largo, os bêbados dos meus anos de menino não soubessem de tanta devassidão, ressonando em inocência à sombra das palmeiras e dos gatos de telhado. 
José Cardoso Pires, Lisboa - Livro de Bordo, página 12


... poi zé}}

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