terça-feira, 14 de junho de 2016

Letras duma viagem

11 de junho de 2016
Ortiga
É no Alto Alentejo que estou, Restaurante Bigodes. Vou comer barriga de leitão no forno. Entretanto comecei com uma entrada, um começo, ah ah, feijão frade com atum. Ó pá, isto das entradas, principalmente as deste género, a gente sujeita-se a comer os restos do dia anterior, ou, pasme-se, restos da outra gente, ideia que não é lá muito aprazível.
Estava tudo bom. O moço que serviu, serviu:
barriga de leitão
salada mista
migas
batatas pála-pála
cerveja água
Espero agora a sobremesa.
Sericaia, é boa, veio para o Luís e eu provei. Tigelada de mel, é boa, veio para mim e o Luís provou. São caseiros, os doces, nota-se perfeitamente que foram feiros por pessoas, com a ajuda de máquinas, e não por máquinas, com a ajuda duma pessoa.
Belver
Estamos no restaurante O Castelo, que tem um provérbio, ou lá que é, impresso no toalhete, que reza assim:
«A comida, depois de passar a goela, o estômago que se entenda com ela.»
Vamos comer lúcio grelhado (e escalado), acompanhado de migas d'ovas. Muita miga se come aqui, não é 'migas e 'migos? Ah ah.
Não sei se é migas o que vem com o peixe, afinal não sei.
São oito e tal, quase nove.
É mesmo migas d' ovas, ou, neste caso, foi, que já se acabou.
Inglaterra-Rússia, no Europeu de Futebol. 0-0. Ah ah. Há pouco ia sendo golo dum deles, sei lá qual, houve ali um zunzum em torno da bola, tão perigosamente junto à baliza estava, que. Mas não foi golo. A minha reação foi: eiche! Um senhor ali assim fez: eiche! Entretanto foi golo da Inglaterra, ah ah.
Não é branco
Não é preto
Ah
Ah
Foi o que deixei escrito no toalhete, assim, tal e qual. Depois linhas em volta, emoldurando o verso incapaz de deter poesia, que é lá isso, ora pois, bem sei que assim é. Rubricado por baixo, já me esquecia, e uma cruz em cada canto, mas por dentro do retângulo. Um primor em várias frentes, portanto.
Ao almoço já tinha deixado coisas no toalhete do restaurante, neste caso uma das minhas frases:
Escrever é fingir certezas.
E depois emoldurei da mesma forma. E rubriquei, também. É portanto um trabalho continuado.
A senhora anda a levantar as mesas, enrolou uns quantos toalhetes, tipo assim mesmo mesmo mesmo a fazer um rolo. Se algum toalhete tivesse alguma coisa lá escrita, teria ela notado? Sei lá, pá. Como é que vou saber?! As coisas acontecem. Acontecem sempre coisas, mesmo o que não acontece é algo que está a acontecer, mas ao contrário. Era giro haver destino, digo destino mesmo destino, digo o que acontece não estar no meu poder de decisão. Isto porque está, muitas vezes está, ok, vá, tudo bem, mas nem sempre. Sei lá, podia ser assim tipo uma linha, um meridiano, um raio, ou coisa assim, que atingisse a gente com coisas de todas as espécies. Hum, e porventura será...?
Vou bazar.
12 de junho de 2013
Vila de Rei
Ontem esqueci-me de pôr as horas a que escrevia, isto despropositadamente e porque um dos meus propósitos, enquanto escrevente, é registar estas coisinhas todas, e hoje não vou registar as horas propositadamente. Seja lá como for, as vezes em que escrevi, fi-lo sempre à hora da refeição, portanto em restaurantes. E agora também, ah ah. Esperamos a moça vir de lá com o menu. O restaurante chama-se O Cobra.
De manhã, ao pequeno-almoço, lá no albergue, comi uma espécie de tarte, ou espécie de bolacha, ou lá que era aquilo, que constava duma base de bolacha, ou base de tarte, ah ah, muito saborosa, muito amanteigada, muito crocante, muito saborosa, ah ah. Chama-se crostata, pronuncia-se croussetata, é portanto uma palavra italiana, que o pessoal do albergue veio de Itália, mas dizia eu, a crostata, nem sei se é assim que se escreve mas adiante, é estendida, posta no forno, e besuntada com doce daquilo que a gente quiser, cortado aos pedacinhos, aos quadradinhos, quero eu dizer, e come-se. É tão bom. Tão bom, tão bom.
Vamos comer bacalhau recheado, só não sabemos de que é feito o recheio do bacalhau, ah ah. Temos de esperar a moça que ainda só cá veio pôr o menu e não mais quis saber da gente.
Não vamos comer bacalhau recheado, afinal. Escolhemos bacalhau, sim senhores, mas o prato especial da casa, que é frito e lhe é acrescentado um molho especial que inclui tomate e cebola mas não é nada que se pareça com cebolada, nem nada disso, assegurou a moça que serve não só menus como queijo branco e seco e alentejano com doce de abóbora (olhem: não sei se era de abóbora, era amarelado, pronto) e a gente espera ardentemente que ela também sirva o tal do bacalhau especial da casa. Ah, é verdade, estou em Vila de Rei, junto ao Centro Geodésico de Portugal.
Eh, ó Gina, e as coisas filosóficas, pá? Então ontem escreveste-as, não foi? Sei lá!
Não sei dizer, e o termo é esse, o endereço do meu canal do Youtube. Imagine-se, por exemplo, que encontro alguém interessado/a em ver os meus vídeos, isto presencialmente, claro, eis que não poderei dizer, isso, dizer, o endereço porque não o sei.
Está aqui uma mesa ao lado cheia de conversadores, cheira-me a família, não me cheira a amigos. Já comeram e agora estão bem mais conversadores, mas bem, bem mais. Aguardam sobremesa e café, presumo. É comum, em grupos grandes, as pessoas formarem grupos pequenos, quer por uma questão de proximidade, porque é mais fácil falar com o vizinho do lado, quer pela dificuldade que há em se conseguir manter uma conversa em que todos participem, uma mesma conversa, quero eu dizer, vai daí o grupo dispersa-se.
Pronto, já filosofei.
Já comi o bacalhau. Não é que o molho não contenha cebola e quês, mas como vem todo desfeitinho e quês, tipo assim um puré e quês, é bom e quês, e é efetivamente diferente e quês.
Na tal mesa do lado cantaram os parabéns à pessoa mais idosa. Não sei quantos anos faz, mas são muitos. Depois de as palavras cessarem e os vivas quase cessarem, uma das pessoas vaticinou que a velha viverá, pelo menos, até aos cem.
Ah, você vai até aos cem, vai ver! Você vai lá chegar!
Eu bem disse que eram familiares. Eu bem disse que esperavam as sobremesas. Uma das presentes tem ar de filha por se encontrar mesmo ao lado da aniversariante e também se arrimar bastante à maternalidade, pois, como se sabe, a vida avança e os papéis invertem-se. Um dos presentes tem ar de filho, isto porque tem parecenças com a filha de que já falei e porque lhe deu também os parabéns, creio que ironicamente, quando ela referiu que quem se lembrara de os juntar todos ali tinha sido ela. Esse bicho, depois da sobremesa, o bolo de aniversário, e do café, anunciou que já comera, e se já comera punha a boina na cabeça!
A pronúncia daqui arrima-se mais à de Castelo Branco que à do lugar de onde viemos e que se chama Belver. Achei particularmente interessante esse facto.

Nota:
Como se pode verificar, lá consegui copiar o que escrevi no meu diário durante estes dois dias, o que obviamente não foi assim tanto, quando não, nunca conseguiria fazê-lo hoje.

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