quinta-feira, 2 de junho de 2016

Tinta nas paredes de Lisboa

A cliente e eu esperávamos que o tpa cuspisse o papel. Eu fitava intensamente o visor da máquina, ela fitava a parede oposta à entrada do estaminé, julgava eu que distraidamente, mas qual quê, que logo de seguida comentou com indignação:
Uma parede pintada de novo, já viu? Aquilo era uma lata de tinta cabeça abaixo quando estivessem a pintar as paredes! Mas eles fazem estas coisas de madrugada...!
Não respondi grande coisa pois não estaria de acordo com o meu passado. Oh céus, o meu passado! O que é que eu fiz? Escrevi frases em paredes, foi o que foi. Duas. As frases nas paredes são mensagens, meramente, algumas são até bastante vistosas, poéticas, conseguidas. Não creio que sejam escritas pelo prazer de ser rebelde, muito embora se sinta uma pontinha de rebelião, afinal está-se a ir contra o certo, o justo, o aprumado e até a lei, senti isso quando desvirginei duas paredes. Já as assinaturas, como a que identifiquei neste post penso que serão efetivamente uma chamada de atenção do tipo olha eu aqui a estragar esta parede, ah ah, eu estive aqui, por isso rabisco a minha assinatura bué da fixe com uma lata de tinta em spray, ah ah, vão-se mas é lixar, eu faço o que quero, ah ah. Isto sou eu alvitrando, claro, mas não devo estar longe da verdade e creio, ainda, que as assinaturas nas paredes das cidades mais não fazem do que as emporcalhar. Já as mensagens e os desenhos são outra história, ultimamente tenho andado a ver se arrecado material para depositar no blogue, dando especial atenção ao 'basta', que não só assina como por junto apresenta o desenho dum cão, quiçá como mascote do movimento a que pertence, sei lá, é comum também o número '1418' estar próximo. Não sei se é a mesma pessoa que rabisca e desenha as três mensagens mas ia gostar de saber. Inicialmente tinha idealizado que tiraria fotos a todos os 'bastas' e a todos os 'cães' e a todos os '1418s' que encontrasse pelas imediações do estaminé. Mas não, não só por uma questão de memória de blogue, bem como pelas fotos, que se revelariam mais do mesmo, ideia que me desagrada profundamente. Sério. Assim sendo, pois que faço, ou vou fazendo, sei lá, uma lista de lugares onde encontro as assinaturas e desenhos em questão neste post.
:::: Na avenida Guerra Junqueiro, do lado direito de quem sobe, há uma espécie de túnel que desemboca em traseiras de prédios, tanto dessa mesma avenida como da Manuel Damaia. Aí, logo à entrada, está um cão incompleto, um pedaço foi escondido por tinta nova, ou seja: em tempos o desenhador desenhou, sim senhores, mas vai que recentemente o pintor pintou por cima. Já agora chegava a tinta mais para cá e tapava tudo, não é. É. Mas não. E vá-se lá saber porquê, não é. É. Voltando, ainda, à avenida Guerra Junqueiro, uma ourivesaria tem o desenho do cão a lilás.
:::: Na rua Cândido Guerreiro, num grande portão lá está desenhado o cão, o basta e o1418.
:::: Na entrada para a Estação de Metro da Alameda, aquela que fica entre o número 27 e o 29, há um cão e um basta.
:::: Na rua Rosa Damasceno temos o cão ao fundo da rua, num daqueles paralelepípedos acinzentados que fazem não sei o quê, mas devem ter algo que ver com eletricidade ou assim, e depois temos o basta mesmo ao lado da loja de ferragens e ferramentas.
Na rua Brás Pacheco, no murete que antecede aquele a que no blogue vulgarmente chamo de muro de pedra, chamo-lhe muro, muito embora seja também um murete, pois que lá está um solitário basta.
:::: Na praça de Londres há uma grande peça metálica, enferrujada, que não sei a que alude, provavelmente é uma peça artística e pronto, mas sei que se encontra mais que assinada e desenhada, portanto lá estão o cão, o basta e o 1418.
Nota:
As duas últimas referências foram as que até agora fotografei, fotos essas a que facilmente acedereis clicando aqui.



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