quarta-feira, 3 de junho de 2020

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Um homem saiu do escritório e estendeu o braço na horizontal. Quanto mais horizontal, melhor, presumo, que é para captar bem bem bem se está a chover, ou então não.

Duas manas. Que não são as manas picoas, que é lá isso, quase podem ser suas filhas, pois se de entre os setentas e os noventas vão vintes, está claro que podem.
Uma destas manas veste-se de forma espalhafatosa e conduz um carro de alta cilindrada, robusto e velho. E verde seco, na cor. A outra é a outra. Sabe-se o que é ser a outra, se de duas manas se fala, não se sabe? Então pronto, é isso.

O vizinho do restaurante veio pendurar a placa onde escreveu o menu do dia. E eu 'olá vizinho' e ele 'olá Gina'.
Que retiramos daqui?
Retiramos que ele sabe como me chamo, porém, não se retira que sei o nome dele, mas sei.

Camisola verde-alface com mala a tiracolo. Como é escura, a mala, percebe-se bem. Podia ser uma mochila ou uma mala de apoiar no ombro ou então uma de levar na mão. Não se leva mala em mais nenhum lado do corpo, hum-hum, mas esta mulher está a fazer parte dos meus registos por conta do contraste.

A cliente queria um interruptor. Temos, sim senhora. E vai de candeeiro, e vai de pé, e vai de lustre, e vai de escada, e vai de máquina. Tinha uma t-shirt preta com um puma desenhado em contornos cor-de-laranja. Foi também aparição com contrastes vivos, como a anterior referência.

O cliente pagou em moedas de dez cêntimos. Não muitas. No fim da transação perguntou 'tá mania?' Quereis saber o que isto significa, bem sei que quereis – era a perguntar se o meu colega estará cá amanhã. Era, era. E estará ou não, sei lá eu, acaso se manda no futuro?

As sabrinas são uma demoníaca forma de ser calçado. Ninguém anda bem com aquilo, só sendo muito jovem, como a mulher que passou agorinha. Mesmo assim já leva os tornozelos a quererem roçar o solo, tal o nada de apoio que as sabrinas lhe dão.

Ao passar pela entrada do Banco do meu costume vi a longa fila, por ora as pessoas esperam cá fora. Uma dessa pessoas, uma mulher idosa, apanhava algo do chão. Dobrada que estava, notei que tinha o fecho da saia descido, o que deixava ver a sua roupa interior. Quando me deparo com situações destas não sou afoita o suficiente para ir ter com a pessoa e dizer-lhe o que se passa. Sinto aquela vergonha alheia, que é a vergonha mais estúpida que há, por que raio me hei-de envergonhar com uma situação que não provoquei ou tampouco estou a protagonizar? Continuei a minha passada, não sem ter percebido que um homem ainda jovem sofria, também ele, desse tipo de vergonha – ai q' horror, o cu d'uma velha! - dizia, também, o olhar dele.
À vinda passei pela mesma fila. Quis o destino que eu presenciasse uma cena - um encaixe da vida, um puzzle a compor-se. Quiçá o destino saiba que tenho um blogue, por isso me colocou ali e naquele momento. É que, notem bem, raríssimas são as vezes em que, neste género de voltinhas Lisboa afora, faça a ida e a vinda pelas mesmas ruas. Mas a cena. Uma mulher, não padecendo de vergonha alheia, avisava a mulher idosa do fecho descido. Ainda vi o 'oh!' na cara desta mas não vi nada na cara daquela porque se encontrava de costas para mim.

No primeiro banco que encontra quem desce a rua mais bonita de Lisboa estava uma mulher sentada de lado e a cabeça apoiada numa mão. Tinha o cabelo apanhado em modo 'banana'. Estava luzidio. Era bonito, o tom, castanho não escuro e mesclado com outra cor qualquer.

Passam muitas pessoas de máscara assente na cara e muitas pessoas a falar ao telemóvel. Mas uma coisa de cada vez, porque o roufenho que as ligações telefónicas proporcionam e o que as máscaras abafam o som das vozes, é coisas do camandro. Portanto: ambos, piora consideravelmente a comunicação, fá-la lenta. Conselho: é escolherem uma, ou outro. Notazinha: não me apeteceu escrever mascaralha.

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