Há portas que jamais esquecerei e a da rua do Beco é uma das. Foi morada que mantive dos seis aos vinte e um anos, portanto foi a casa onde mais cresci. A porta era robusta, porém equipada com uma fechadura sem o desígnio da segurança. Nem era preciso, o lugar era pacato o suficiente para que medo de larápios existisse na mente dos meus pais. Era tanto assim que a chave permanecia enfiada na fechadura pelo lado de fora o dia inteiro. Sim, pelo lado de fora, qual insegurança, qual quê. Isto que escrevi aí atrás chegou-me por conta de uma determinada porta que que não via há anos e que revi para aí há três meses e que consta na foto abaixo.
Esta é a porta da casa onde morava a mãe de uma vizinha que eu tinha quando era adolescente. Por essa altura da minha vidinha moooooontes de espectacular esta vizinha fazia-me uma certa companhia, levando-me com ela a lugares onde ia por conta do seu negócio, o que eu muito apreciava. Ora, um belo dia, quando a meio do trajecto nos apeámos na aldeia onde viva a sua mãe, vimo-la de pincel na mão, pintando a porta da rua. A minha vizinha fez logo má cara quanto à cor e a mãe retorquiu algo que não malembra de todo, embora lamente. Agora o que recordo, e é sem tirar nem pôr, é a minha vizinha rematar, por entre dentes, que era cor de merda. Realmente, pá, a cor era feia pra caraças, um castanho a fugir para o irreal dos castanhos, algo ali a querer ser dourado mas a não sê-lo na mesma, só querendo. Era feio, era, mesmomesmomesmo feio. Não sei se a porta foi pintada mais alguma vez mas até parece que sim, há para ali uns laivos de verde.
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