sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ó Gina, tu leste?

Sim.

O livro do momento  'Um quarto que não é seu', Alicia Giménez Bartlett' tem três vozes:
a da autora, escrita na primeira pessoa, descrevendo a saga em busca da verdadeira relação que existiu entre Virginia Woolf, a escritora, e Nelly Boxall, a sua cozinheira, apoiada nos diários de ambas
a da cozinheira, assim como que escrita à pressa e sem brio: ausência de vírgulas e pontuação mal-amanhada, os textos são escritos obviamente na primeira pessoa para vincar o registo diarista, escrito pobremente para parecer uma cozinheira que tem o gosto pelas memórias
a da autora, em modo romance, idealizando, julgo eu, a relação entre as duas criadas (há uma outra, Lottie) e os patrões, estes excertos têm as vírgulas todas, ah ah, e uma pontuação excecional, ah ah, é que nem eu fazia melhor, ah ah, contém inclusive diálogos mas sempre sob o ponto de vista das criadas, é portanto uma voz escrita na terceira pessoa
Estas são as vozes, portanto é um livro algo confuso, mas bom, muito bom. O que ainda não consegui descortinar é se todo o livro é ficção, ou então não. Deixo agora um excerto da voz da criada Nelly Boxall a comprovar a minha segunda consideração.

«Escrevo para dizer uma coisa importante a mais importante e é a que na segunda-feira eu e a Lottie fomos ver a senhora e despedimo-nos. Eu não queria fazer isso de maneira nenhuma mas no fim acho que a Lottie tem razão e que não temos ajuda de nenhuma mulher-a-dias e pagam-nos pouco.»

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