sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vidro

Se eu fosse supersticiosa ia estar até ao outono de dois mil e vinte e três temendo azares na minha vida. É que parti um espelho. Não foi um vidro, não senhores, foi um espelho. Eu explico tudinho. Este espelho foi-me oferecido aqui há tempo e, não havendo disposição para o pendurar na parede logo de seguida porque temos andado a remodelar a casa lentamente, acrescendo que a armação precisava de pintura, para ali foi ficando e esperando, mais concretamente: em cima da máquina de costura, assim ao alto, tanto é que foi cenário de fotos, e até de vídeos, uma catrefada de vezes. Entretanto, este verão pensei: olha, está na hora de pintar o pobrezinho e, finalmente, oh glória terrestre, pendurá-lo! Algures! Sei lá onde!
Bom, deu um trabalho do caraças pintar tiras de metal com tinta que só sai com diluente especial, era brisa a levantar pó (pintei-o na varanda), era tinta escorrendo para jornal que protegia o chão e o estendal (pintei-o apoiado no estendal de dentro), era medo de entornar a lata de tinta, era ter que esperar secar mesmomesmomesmo bem, para depois o voltar sem que então ficasse colado. Pronto, já se está a ver que levou um ror de tempo até ficar liso e bonito e, ademais, para o pintar foi necessário desarmá-lo, portanto eu até cabeças de parafusos pintei de azul. Era azul, era, a tinta era azul, por modo a combinar com o quarto onde iria, finalmente, oh glória terrestre outra vez, é, pendurá-lo!
Presumo que já se esteja a ver o que aconteceu... Eu até espetei logo com o espelho partido no início do post, portanto qual suspense, qual quê. Enquanto o espelho, aguardava, ainda, lugar numa parede do quarto azul, eis que se me escorrega, mesmo com um paninho a proteger o lugar onde o encostar, é, eis que se escorrega, é, caiu e partiu-se, é.

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