quinta-feira, 11 de julho de 2019

Diário

Lisboa, 10 de Julho de 2019, último dia com 50 anos

Antes de mais, explicar isto. Algures no passado estipulei que durante dois dias construiria um diário, id est, o dia antes e o dia depois do meu aniversário. Chegou então a data de tão importante evento.

Estive há pouco na Carminho a tratar de umas questões muito dadas a belas serem. Sentada no trono, olhei para a avenida e apareceram automóveis no meu campo de visão, que subiam. Aquilo fez-me esquisita, então mas ali não é para os ditos descerem...? Mau maria. Querem ver que estou outra vez atravessada por espelhos que se contradizem? Inspecionei a janela para ver se era espelhada ou coisa assim. Não era. Estava escancarada, a nitidez era mais que muita. E foi então que percebi que a perspectiva que eu tinha na frente não era a mesma que eu estava a imaginar. - Sim, eu imagino perspectivas e cenas e diálogos e pessoas, às vezes tenho um bocado a mania. - Vai daí assentei a cabeça e aceitei que não tinha razão no imaginário – foi uma epifania, vá, vá que isso é giro – e notei que a entrada do prédio onde me encontrava é recuada, o que faz as casas recuarem, o que faz com que dali se aviste a subida da avenida ao invés da descida. Subidas e descidas são invéses de sis, percebi eu neste repente.

Sabem que no outro dia revi duas das septuagenárias? Não sabem, né? Pois. Mas eu gosto de vocês na mesma. E sim, revi-as, recordando assim toda uma época da minha vida em que frequentava o lugar da musa. Lembram-se do lugar da musa? Ah, ora essa, se não se lembram eu gosto de vocês na mesma. Estão iguais, as septuagenárias. Foi a da novela e a da camisola, as que revi. A da novela é toda rebitesa, a da camisola parece contentinha. Notem bem: uma é e a outra parece. Incrível como nem sempre as pessoas demonstram o que são por dentro. Pelo menos não rapidamente. E pode até a rebitesa ser uma mole e a contentinha uma triste, se em situações diferentes, se em vez de estarem numa badalada esplanada da avenida estivessem na mesa de um café situado numa rua pobre e escondida. Poderiam ser diferentes. Acho.

Tenho umas saudades do caraças da árvore amarela. Sério. Já não vai ser com 50 anos que a vou visitar. Há para aí duas semanas que a revi e achei-a um bocado estranha, como se o seu famoso cotovelo tivesse mudado de rumo e de cotovelo tivesse agora menos em aspecto disso. Ainda me lembrei de ir pesquisar a última fotografia que lhe tirei para comparar mas entretanto tenho-me esquecido. Se calhar, essas diferenças aconteceram por conta dos ramos que lhe cortaram aqui há atrasado e, agora que o Verão entrou, nota-se-lhe coisas. Sei lá, parecia que o cotovelo estava nu. Não parecia, estava mesmo, só por dizer que podia já estar assim e eu não ter dado por isso.

Este post está a ser construído com base em circunstâncias com dias de acontecidas e ou pensadas. Não era isto que tinha idealizado para este post mas paciência, afinal um diário é composto pelo que subir ao pensamento no momento. Ou descer. Se calhar desce mas é. A musa desce e tal... Dizem. O lugar da musa (lá vou eu para o passado) não existe agora. Já lá não vou há que tempos. Obviamente não é por isso que vou deixar de escrever, afinal a vontade é à parte de lugares, para a pessoa que escreve neste blogue tanto faz onde está.
Sua majestade manda dizer-vos que 'está cá uma brasa! puxa!' Ao menos isto é deste dia. Não mandou nada, que é lá isso, só que coincidiu o desabafo dele com a engorda deste post.

Agora venho falar-vos do futuro. E agora falo eu. Devia arranjar coragem para que na próxima consulta pudesse conseguir (olha só a construção da frase, confusa que está) pedir ao senhor doutor que não pusesse a música em som de fundo porque gosto mais de ouvir os sons, tanto os de fora como os de dentro. A parte social da vida é uma merda. A música entristece-me, a verdade é essa, mas não posso dizer isto a ninguém. Ou não convém ou é desaconselhado ou vou por minha vez entristecer alguém com as minhas sinceridades despojadas de bom senso e completamente impreparadas. Oh ca porra. No blogue é igual, há sempre cuidados a ter para não ofender e ou assustar, mesmo estando longe dessa intenção. É tal e qual como a vida no presencial e no social, há normas comportamentais, nunca se é inteiramente livre. É certo que para uns é de uma maneira e para outros de outra, mas não somos livres. Há também o esperável, o que para mim é do mais castrador que há.

Pá, assim tipo de resto e coiso... Olhem, o dia vai a dois terços, já não terei assim tanto tempo para pôr as ideias ao fresco, contudo cá estou. Já agora, uma coisinha, sempre que me ponho a escrever e a escrever, conseguindo assim um post enorme, tendo a alcançar um certo estado de pureza. Para já, porque escrever muito me faz muito escrever e o texto cresce e cresce, para depois, um post comprido aborrece a maioria das pessoas e assim dificilmente alguém chega ao fim ou quase ao fim, o que faz com que sinta coragem de expor coisas que num post pequeno não exporia. Escrever algumas coisas (obviamente falo das que habitualmente não escrevo) ser-me-ia benéfico, desabafaria, o que me aliviaria, ademais a sensação que tenho de que vou ser ouvida é animadora. E não é pouco. Normalmente é isto o que acontece.

Bom, hoje estou fartinha de escrever e é bem provável que amanhã o despacho que darei à escrita não seja tão frutífero.



Loures, 11 de Julho de 2019, primeiro dia com 51 anos 

E já cá estou! 51. Ena. Agora tenho que ir ao supermercado comprar coisinhas muito boas. Ah, espera lá, então e a piada dos 15? Não são 51,são 25... Ai perdão, 15.

São agora duas da tarde. Fui ao supermercado mas, como o intervalo entre visitas alargou, as faltas eram mais e maiores, acrescendo ainda o jantar especial para mais logo, resultando tudo isto numa demora maior por lá. Chegada a casa e a postos para arrumar as compras, deparei-me com um frigorífico vazio e sujo. Nada melhor do que passar o paninho em todas as prateleiras quando há tão poucos géneros, né? Preparei a água e pus-me a esfregar. Nada de mais, só tipo assim coiso, que as compras aqueciam nos sacos e havia ainda coisas a aquecer dentro do carro. A propósito, está um calor que não se pode.

Entretanto não sei o que vestir. De manhã tinha-me posto a ver das saias, que isto de andar sempre de mota leva-me a desperdiçar o seu uso, e hoje podia dar vazão às saudades, e lembrei-me de uma amarela que era capaz de ficar bem com a blusinha que comprei para estrear neste dia e mais não sei o quê. Levando em conta aquilo dos quilos, acontece que o cós da saia não se mantém na cintura, descendo mais que muito. Pois. Estava eu a pensar ah e tal aquela saia é tão gira e com o feitio que tem é capaz de coiso. Mas não. Pronto, tenho que me render às calças e acompanhá-las com a blusinha. Sim, bem sei, a minha vida é cheia de problemas.

Outro ganda próblâme é que masqueceu de comprar velas. Aconteceu porém e contudo que tive uma ideia excelente mas nem por isso bonita. Aqui em casa, procurei por velas de aniversário, daquelas piriris, e encontrei umas quantas dentro de um frasquinho cá dos meus. Idealizei logo que desenharia um 51 com elas. Portanto: desenhar, desenhei, só que não se nota que é esse número, parece simplesmente uma quantidade de velas espetadas sem assunto nenhum, ao acaso da vontade desta que escreve. Tenho até fotografia para verdes como é e está.





Hum-hum. Isso. as velas tombaram. Notem bem: enquanto eu escrevia sábia e diligentemente o parágrafo acima, eis que tombaram. Torres de tombo. Velas de tombo. Cá pra mim inda tavó bolo quente e amoleceu-as. Ai. Qual 51, qual quê. Só mesmo na idade, que no bolo não. Mas olhem que o dia está a correr-me bem, hoje ainda não deixei pegar fogo a nada e no outro dia foi um guardanapo que se me incendiou por tê-lo deixado muito perto da chama do fogão. Ainda tenho que o ir lavar. E eu que tinha pensado: ai ó pá, se calhar inda vou ter tempo de adiantar já a limpeza do fim-de-semana. Mas não. Não vai dar, a menos que não escreva estes supremos interesses no blogue. E está portanto a ver-se qual a escolha que fiz, né? Tenho que ir passear o cão.

São agora altas horas da noite. Entretano já não pude vir para aqui arejar as ideias. De momento está a dar-me vontade de amanhã escrever o rescaldo destes dias e ou tudo quanto não pude escrever e ou então as coisinhazinhas do costume. Boa noite. Até amanhã.

8 comentários:

  1. Então e o bolo? Não se sopra as velas? Não se parte? Não se come? É que está mesmo apetitoso... :))
    Parabéns, Gina!

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  2. Gina, Feliz Ano Novo! :)

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    1. Obrigada, Té. E é mesmo um Novo Ano 😘

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