sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Está escrito na testa


O chinelo que não levantei o suficiente do chão fez-me tropeçar, oferecendo-me um desequilíbrio sem remédio. A parte, ainda, menos boa é que na trajectória até ao chão a minha cabeça encontrou o bordo do bidé. Daí o que está escrito na minha testa.
Poderia eu, no dito percurso, encontrar um objecto mais pomposo, grácil, poético?
Não. Isto sob pena de aí eu não ser eu, pois que não vivo episódios com pompa, sou desengraçada até dizer chega e nem de poesia sei coisas. Eu cá é de bidés para baixo e acabou a conversa.







Não acabou nada a conversa, ora essa. Sangrou durante um bocado, sangrou intermitentemente durante um bocado a seguir e, no entremeio, notei que as partes se abriam deixando ver chicha da boa. À parte o desconforto e o entorpecimento que sentia, começou a chatear-me que o sangue não estancasse. Mau maria. Então. Considerei a ideia de ir ao hospital mas desisti logo após, com um cortezinho da treta o mais certo era passar lá horas até que. Não. Entretanto tive uma ideia estupenda: iria até à farmácia para que a senhora doutora olhasse para o meu corte(zinho da treta) e me aconselhasse sobre o que fazer.
Hum - fez ela e acrescentou - é um corte superficial e é triangular, (por isso é que o sangue não pára, concluí eu com voz) está inchado, vai inchar mais e ficar negro, e só não fica com a cara toda negra porque sangrou.
Que animadora, pensei eu (aqui obviamente sem voz) com o uso da minha ironia. E ela, parecendo ter ouvido o meu pensamento (o que seria estranho, pois se não era um pensamento com voz – mas sim, há uns com voz, há), rematou com graça:
Ah, não se preocupe, as pessoas com cicatrizes ficam muito mais sexys.
Animei-me toda eu. Eh pá, então, se um dia serei sexy, 'migos... Um dia serei sexy, 'migos, um dia serei sexy. É a pustela cair e aí estou eu.

Notazinha muito grande:
Não compreendo como é possível que a 'pustela' seja uma palavra inexistente nos dicionários das netes, é que nem 'postela' dá nem nada. Vou deixá-la ficar, afinal o blogue é meu, ademais conheço a palavra desde que esfolo os joelhos, e se há coisa que faço há décadas é isso.

Notazinha grande:
O filtro a tombar para o irreal é por conta de esta que escreve achar prudente brincar com o assunto para o reduzir. Em mais: podia ser mau, aquilo.

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