Tenho um calendário do próximo ano com números e letras chinesas. Já lhe rasguei o cabeçalho e já olhei para os caracteres absurdos sem deslindar porra nenhuma, óbvio. Tem também dizeres em português, portanto dá para safar. Pronto, e depois tem as fases da lua, que dias calha, o que se comemora/lembra especialmente em cada feriado, dá ainda anúncio de singularidades como, por exemplo, a Black Friday, o Dia dos Namorados. Mas, mais importante, mesmo importante, é que vem escrito em finas e pequenas letras que «2022 possui 365 dias e não é um ano bissexto».
Tenho um calendário que me deu o rico filho e que é o mesmo de que falo acima. Andava aos rebolões no carro, alguém lho dera e para ali ficara. E eu, olha, pedi-lho e ele concedeu-mo.
Em tempos idos eu doaria este calendário ao meu pai. Ele gostava muito de calendários, de poder consultar um. O meu pai gostava de datas e também de datar. Lá no quintal dele está escrito a caneta de feltro a data em que o candeeiro da rua lhe foi mudada a lâmpada. Há também outros registos caricatos, mas agora não tenho presente mais nenhum. Um calendário talvez tenha a importância que o tempo tem. Um calendário é um medidor, um registo antecipado, quase como se pudesse prever que no dia tal, por ser, sei lá, sexta-feira, vou determinar que compras farei para dar de comer aos de casa. Coisas assim. É uma segurança que se tem, vá. Tem-se sempre os olhos postos no futuro, é onde mora a esperança.
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