terça-feira, 18 de maio de 2021

Sons

A mais recente impressora do estaminé imprime facturas sem som. Costumo até dizer aos clientes que cospe papel, este novíssimo aparelho, e por vezes acrescento que levam ali um rolinho, já que é essa a forma com que aparecem no exterior. Parece um nascimento, agora me lembro, pois se estava dentro e saiu, parece que nasceu. Outra novidade desta maravilha é que a impressora é que corta o papel. Mas não totalmente, deixa um milímetro ou dois no meio, a segurar o que nasceu ao que há-de nascer. E vai eu e puxo. Não sei como comparar este gesto a um cordão umbilical mas sei que gosto de fazer de conta que é comparável. Inventei isto do nascimento e agora ando para aqui cheia de ideias que todavia não sei como embelezar. Que poeta que aqui está, senhoras e senhores...
Há badaladas nesta rua ao fechar e abrir da porta do estaminé. Decidi pôr à porta o expositor de correntes, em cujo cimo coloquei um resto de corrente do mais largueirão que há, naquela de não ocupar uma bobine e tal. Pois bem, é eu a arrastar aquilo chão afora e a corrente a bater no expositor – tlim tlim tlim. É um bater desorientado, não se pense que aí já eu faço poesia, ai não faço, não. E nem música.
Uma das fitas métricas em uso no estaminé passou-se do carreto e deixou de engolir a lâmina. Então, o meu colega, homem de ideias várias, estendeu a lâmina em toda a largura deste balcão, pregando-a com pregos pequenininhos para a gente ter (mais!) um modo de medir. Ora bem, por a lâmina estar meio que abaulada (ou côncava, vá) as mangas do meu casaco raspam e emitem um som conforme movimento os braços para dedilhar e acumular no blogue os meus pontos de interesse. É discreto, o som, mas como o ouvi em todos os posts que hoje produzi faço também disto assunto, o que não é o mesmo que fazer poesia, bem sei, mas.

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