Em tempos contei que a morada do velho estaminé viria a ter uma barbearia e eis que, pronto, já tem e já está aberta ao público. Os donos, um casal brasileiro que eu e o meu colega conhecemos há algum tempo, sabendo o tipo de ligação que temos com o espaço, propôs que fôssemos dar uma olhada, ver como tinha ficado, o que aceitámos. Custou-me lá entrar. Caraças, que peso. Brutal. Sério. Aquele corredorzinho inicial estreitou o que costumava estreitar. Custou-me mesmo muito, contudo fiz o meu papel de pessoa capaz de dizer coisas, e disse-as. Mostrei-lhes partes de um vídeo de como era o velho estaminé por alturas de o estarmos a esvaziar, um daqueles em que ainda se vê muita coisa assente nas prateleiras e até penduradas no tecto. Nesse tempo, enquanto a mudança ia ocorrendo eu ia gravando vídeos, apresentando alegremente os espaços vazios e questionando se seria correcto estar alegre com algo que entristecia outras pessoas. Nunca publiquei a totalidade dos vídeos. Estão editados, carregados no meu canal, mas privados, na sua maioria. Não consigo mostrá-los ao mundo, contrariamente a todo um rol de parvoíces que por vezes lá escarrapacho. Estes não sou capaz de publicar. É um misto de emoções muito fortes, contraditórias, se por um lado estou agradecida por não mais ter que trabalhar ali, por outro sei que vivi muitas coisas belas por estar precisamente ali, naquele balcão. Não deixei de ter um balcão na minha vida, pois não, mas não é aquele.
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