sábado, 14 de setembro de 2019

Sábado

Cheio de coisas, este sábado, caracteristicamente desarrumado como é um regresso a casa, quando das férias. Fui ao supermercado e comprei coisas montes de interessantes, pepino, gel para o banho e vinho rosé para as visitas de um futuro. Comprei mais coisas mas agora fico aqui. O pepino, aprendi há tempo, quer-se descascado às tiras, tipo assim a fazer riscas verticais no bicho… ai perdão, legume. É que fica giro. Depois há que cortar em dois longitudinalmente (gosto mais de escrever esta palavra do que a dizer [gosto mais de escrever do que de falar]) e passar uma colher de chá pelas sementes como quem as quer dali para fora, vulgo raspar. Não é que não se possam comer, é evidente, mas trazem muito líquido à salada. Eu tiro. Depois corto em finas fatias. O ideal seria usar o processador, mas onde há paciência?, não sei. Às vezes há, ainda no outro dia laminei o mais finamente que o processador consegue, dois talos de alho francês e um quarto de couve roxa. Depois congelei tudo junto. Pensei assim: ora se vou misturar as coisas já no processador, melhor será continuar a união para todo o sempre. Já ontem pus um tiquinho no arroz e hoje ou amanhã porei outros tiquinhos na sopa.
Ando a limpar a sala, que a pobre não é limpa desde o Natal. Pensei assim: olha, daqui por dois meses faço a árvore de Natal, vai daí, melhor será limpar já isto, visto que depois só volto a mexer nos arranjos desta divisão quando desfizer a árvore. É assim, ponho-me a ganhar a vida a limpar a casa da outra gente, mais o meu estaminé, e depois não há paciência para o meu faustoso lar.
Também fiz bolo. Bolo e queques com a mesma massa e mais ou menos a mesma fornada. Queria usar a forma que deixara forrada de papel vegetal, num dia aí em que forrei a forma errada e depois, para não jogar no lixo o que trabalho e gasto já dera, guardei na despensa, deixando a forma no mesmíssimo lugar que ocupa mesmo que não esteja forrada. Mas, como já disse, a forma forrada há semanas era a mais pequena que tenho e, fazendo o comum bolo dos últimos tempos seria demasiado, e foi, então tive a poupada ideia de forrar forminhas de queque, que encheria e blás. Aconteceu foi que os queques cozeram antes do bolo, mas sem que eu tivesse dado por isso, de maneiras que, quando vi, tratei dos queques e voltei a pôr o resto no forno para acabar a cozedura. Depois de tudo cozido, empratado e arrefecido, percebi que todos os bolinhos ficaram côncavos. Mas afinal de contas ter-lhes-á acontecido o quê? Cá para mim é a farinha já com fermento que usei. Eu bem digo, e considero, que aquela porra não presta, eu cá gosto de ser eu a pôr o fermento, mas é que no dia que a comprei era esse o único tipo que havia na prateleira do supermercado, e eu precisava mesmo! de ter farinha em casa, de maneiras que cá está. Mas não gosto nada, mesmo nada, de farinha com fermento. Para ser fofinha, confiando no fabricante e não adicionar fermento, resolvi pôr bicarbonato de sódio, numa de equilibrar a subida do bolo e mais não sei o quê, se ainda por cima ouvi (há montes de tempo) que este químico actua muito bem com o iogurte. Então não sei o que se passou para a cova que cada uma das minhas criações apresenta. Sim, sabem bem, os meus bolos. Já provei um queque e, do bolo, comi as sobras, pois quando foi a desenformar a coisa não correu bonita. Sim, comem-se nas mesma, os meus bolos. Para que é que importa o aspecto que as pessoas… Os bolos (não, não me enganei, foi de propósito) têm, né?
Tenho a sala limpa e até o corredor, oh vejam lá. Móveis, enfeites, quadros, molduras, chãos. No corredor limpei uma manchinha de sangue daquela minha queda cinematográfica. Por falar em cabeça, nela não há precisão acerca de já ter passado a esfregona (ou o pano, que eu sou mulher para viver temporadas de puro desprezo à esfregona) e, porventura, não tenha sido eficiente o suficiente para estar ciente de ter lavado o chão do corredor. E passaram quase dois meses. Também tenho teias de aranha no quarto. Estão não só aos cantos como numa das paredes.
Ah, tenho que falar dos cremes. Pois bem, terminei alguns durante as férias, o after sun ou après soleil, vulgo portuguesismo se eu disser que é um creme feito com o propósito de ser passado no corpo após a exposição solar, mas com o banho de entremeio, caso haja intenção de asseio. Eu bem tinha na ideia que era mais do que um creme terminado, mas é que não malembra que outro ou outros terminei, de maneiras que fica só assim.
Amanhã vou aos figos. Não sei se é anúncio ou previsão. Descobri agora mesmo que anúncio pode ser também algo pertencente ao porvir. Prevejo que amanhã irei aos figos. Amanhã irei aos figos, é também anúncio. Diz que amanhã chove. Alguém previu, porque estudou onde está o vento e para que lado se move, nascendo um saber. Nada se assegura, porém, que às vezes a Natureza faz diferente, só para a gente não ter a mania. Que prevê. Pois. Ah, pois.
O meu jantar foi arroz de legumes. De nada, ora essa. De almoço, amanhã, faço pizza. Está previsto, quero eu dizer. Quero dizer, não faço a pizza, antes abro uma embalagem de massa pronta e, mas, crua, e toca de lhe pôr coisas em cima. Prevejo que lhe ponha o resto da salada do almoço. De há uns tempos para cá percebi que a salada não se estraga, depois de temperada e tal, se ficar algumas horas no frigorífico. Nada disso. Até se apura toda ela. Claro que não pode ser dias de permanência, pois quando não, recoze e azeda.
Pá, assim de resto, também tratei de montes de roupa e louça suja e, numa segunda instância, tratei da mesma roupa e louça, contudo, lavada.

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