quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O balde do amor desencantado

O encanto que encontrei no balde do senhor já se me esvaiu todinho. É como amar um bandido à primeira vista e depois vai-se a ver e. E desencanta para lá de muito. Quando notei um depósito debaixo do espremedor fiquei entusiasmada com a ideia que alguém teve de reter a água suja que escorreria da esfregona, igualmente suja, e passar a dita sempre por água limpa. Só que não, e vejamos.
Encho o balde e a água é depositada apenas no balde propriamente dito, nada no depósito, e acreditem que as forças ficam desequilibradas, deixando-me numa situação periclitante.
Certo.
Junto o detergente à água porque uma pessoa tem que se fazer à vida, quais perigos da treta, quais quê.
Certo.
Mergulho a esfregona, espremo-a e a água escorre então para o dito depósito ainda vazio.
Certo.
Essa água não tem ainda qualquer sujidade, contudo: não será reaproveitada, uma vez que não dá para mergulhar a esfregona, e quer isto dizer que o espremedor boicota essa entrada porquanto estão ambos na mesma linha, não há esfregona, ou seja lá o que for, que os atravesse.
Certo.
Neste ponto tenho a esfregona espremida da primeira passagem e, na verdade, limpa, e a minha vontade é prosseguir com, e concluir, a tarefa.
Certo.
Mas a esfregona vai deixar de estar limpa porque a vou passar no chão novamente e portanto sujá-la.
Certo.
Quando a mergulho no balde vou limpá-la numa água que já está suja da primeira passagem.
Certo.
Vai daí, é um lava-mergulha-escorre até que. Vai daí a água escoa porque a vou retirando do balde e tal e tal, e quem a apara é o depósito, que vai enchendo, como acho que já se percebeu. Vai daí vou lavando, por assim dizer, uma esfregona em cada vez menos água, água essa que tem cada vez mais sujidade. Vai daí o pequeno depósito vai enchendo... Ah, pois, esta parte já estava dita. Vai daí mudar o balde de sítio é desequilibrante. Vai daí é outro perigo, olha eu a entornar um balde cheio de água suja num chão que acabei de lavar. Não! E sim! Em cada entrada posso simplesmente retirar o depósito, fazer as coisinhas do costume e voltar a colocá-lo. Tudo bem. Mas pá, ó: sou um bocado desajeitada e esse tira-e-põe sem lascar não duraria muito tempo. Não.
Certo. Tudo certo.
Mas ocorre a segunda parte: há que despejar o balde. Não 'migos, não é fixe. A água que está no depósito escorre para o balde que por sua vez escorre para a sanita.
E não está certo.
Digo isto porque me vejo aflita para que a água acerte no balde e daí para a sanita. Só vos digo: é preciso cá um controle de forças e de equilíbrio… Até hoje tenho acertado com alguma parte da água no chão. Mas isto vai lá, há uma coisa que se chama treino. Pois.

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