Quando o despertador soou já eu bebia o chá. Era de camomila. Fiquei a ouvir a canção, que é embaladora, afinal. Tem som de harpa ou assim e, por junto, águas mansas a correr. Se isto não é embalador, então não sei.
Às nove e meia encontrava-me a comer uma sopa de uma tigela bem funda. De hortaliça, a sopa, tinha couve escura aos pedaços e o feijão era encarnado e feito puré com outros legumes. Lugar: Azerbeijinho. Não é, é outro nome parecido a este, este inventei-o. A sopa estava mesmo boa, o tempero fez-me lembrar a comida da minha mãe, que nunca mais vou comer.
A estrada apresentou-me três papoilas contra a serra, em horizonte esta, do outro lado da estrada aquelas.
Estou a fingir que gosto de passear e estou a forçar-me a escrever coisas acerca do passeio para não pensar que finjo. Quero dizer: neste parágrafo é o que me está a acontecer.
O almoço foi lacão, que é, disse a chefe de sala (vamos lá mas é a pôr isto num escalão elevado) pernil de porco, acompanhou com puré de batata-doce e castanha, espinafres gratinados e rodelas de batata fritas. Com a sobremesa é que me lambi toda, pudim alentejano feito com pão (tinha de ser, né?), mel, amêndoas e laranja. Isto disse a chefe - simpatiquíssima, já agora fica o reparo, e entre hífenes, para destacar das demais interrupções - mas decerto lá puseram ovos. Ficou esquisito, mas vá, afinal as pessoas também põem ovos.
Quero que fique registado que este post está a ser construído lentamente, a cada pausa dedico-lhe um poucochinho de tempo a escrever. Eu acho sempre poucochinho o tempo que tenho para escrever. Cada parágrafo é um desses poucochinhos.
Giro que se farta foi ter reparado que numa localidade de seu nome Água de Todo o Ano há uma coisa aero-não-sei-quê. É água e ar, é o que é.
Mas firo giro giro foi ter passado a fronteira. Calhou. Era preciso abastecer e o posto mais próximo encontrava-se em território de nuestros hermanos. Mas, mais giro ainda, que eu bem sei que é possível, foi isto ter acontecido precisamente no dia em que reabriram as fronteiras. O jantar foi sopa de espinafres. Também havia migas de espargos e plumas. E vinho. A propósito de bebidas, a água fui buscá-la à torneira do lavatório. Pá, uma pessoa cheia de sede, uma bica aqui ao pé e um copo tão à vista... Ora, água, esperar que ma tragam porquê?
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