quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Janeiro a fim do seu fim

Há aquele provérbio que diz que no final de janeiro o dia tem mais uma hora de luz. Como todos os provérbios, espelha um tanto de verdade. Presentemente o temporizador do estaminé encontra-se adiantado, manda acender as luzes mais ou menos uma hora antes do que devia. Ó colega, amanha aí as horas, vá.


(Acho que ele só amanha para o mês que vem)


A propósito de frutos secos

Tenho feito barritas de frutos secos de duas qualidades, uma cuja base é de tâmaras, outra feita com alperces. Tanto num como noutro caso, coloco:

250 gramas de tâmaras/alperces secos, figos secos (estes ainda não experimentei mas não duvido que saia bem)
150 gramas de frutos oleaginosos (qualquer um, pode até misturar várias qualidades)
2 colheres de sopa de flocos de aveia
1 colher de sopa de cacau (no caso das tâmaras, com os figos ainda não experimentei mas não tardará)
1 colher de chá de canela (no caso das tâmaras, com os figos secos ainda não experimentei mas não tardará)
2 colheres de sopa de geleia de arroz (no caso dos alperces e pode ser substituído por mel, mas convém reduzir a quantidade para metade)

Coloco tudo no processador, aciono o botão e deixo processar até vir a mulher da fava rica. Ná... É até formar uma bola, o que leva quatro ou cinco minutos. O formato bola alcança-se quando tudo está efectivamente moído e unido. Retiro então a bola de dentro do copo e deito numa forma. Calco, tapo e ponho no frigorífico umas horas. Quando acho que está pronto a comer corto em barritas ou em porções do tamanho do apetite. E como, pois claro.

Ressalva 1: a forma pode ter qualquer formato, só não é boa ideia ser muito grande, quando não as barritas ficam demasiado finas – tenho usado uma caixinha de plástico com 15X20 cm, mais coisa menos coisa.
Ressalva 2: é mesmo uma boa ideia deixar umas horas no frigorífico, tipo assim umas oito a dez, os sabores estarão libertos e mesclados au point.

Tenho tido o hábito de trazer então estes preparados para o estaminé. Há dias esteve aqui uma cliente que estava atrasada para uma situação qualquer da sua vida e se encontrava numa agitação tal que ainda não tinha almoçado. Depois de a atender perguntei-lhe se gostava de frutos secos, ao que respondeu que sim. Vim cá dentro e cortei uma barrita do preparado de tâmaras, que coloquei num guardanapo. Apareci-lhe com aquilo na mão, oferecendo. Ela aceitou e agradeceu, cheia de sorrisos. Em conclusão, ou resposta, se calhar é mais isso, à saída disse: 
«Sei. Porque tenho memória, sei»
Que é a frase que escrevi no estaminé.
Ulha! Mais uma pessoa que notou! Ah! Acrescentou ainda que aquela frase lhe parecia ter uma boa história por trás. E eu que não, não tinha, foi somente um pensamento que tive e que registei.
Num outro dia foi um cliente a quem o meu colega ofereceu um pedacinho do doce que tem alperces. Eu estava meio escondida e ia ouvindo o cliente que não e que não e o meu colega a insistir. E o cliente a fazer-se esquisito e o meu colega mas prove, mas prove. O homem aceitou. Depois de provar apresentou-nos o seu veredicto:
Eh pá, falta-lhe é açúcar! Isto assim é uma dieta do caralho! Foda-se!
Mas tudo na maior descontração e enorme alegria de viver, pois claro.
Entretanto recordo os leitores que era como se eu não estivesse ali, era uma cena entre machos, e acrescento que não me sinto ofendida com as caralhadas que as pessoas dizem, principalmente se tão espontâneas, como estas, e se não me forem dirigidas, como é o caso.
Calhou a mistura oferecida ser a que leva alperces e que é quase nada doce. Pobre homem, só vos digo. Calhasse-lhe o docinho das tâmaras e gemeria de prazer.
Quem parece gostar também destas barritas é o Zé. Sério. E muito. Até apaga o cigarro para. O Zé é um homem de quem eu já tenho falado no blogue, gosta de visitar o estaminé, conversa com o meu colega, comigo também mas menos, mas raramente entra cá dentro. É comum fumar enquanto as conversas se dão. Por isso é que eu digo: o homem apagou o cigarro para comer, portanto...

Lista

Na lista de supermercado tenho géneros, sendo que de cada género saem espécies. Por exemplo:
arroz basmati
arroz agulha
sabonete barra
sabonete líquido
esfregão verde
esfregão com sabão
Depois há faltas que também poderia agrupar, tais como:
tâmaras, alperces secos, figos secos

Posta-restante:
Os arrozes já comprei. Há pouco fui ao supermercado (daqui assim junto ao estaminé) para comprar café e aproveitei a trazê-los. Trouxe também desodorizantes, estavam com um preço do caraças. Vou daqui carregada para casa.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A cadeira que foi para o lixo


Tinha as costas rebaixadas e o assento quebrado. Resolvia um sentar de gente com saúde, resolvia sim senhoras e senhores, mas ficar sentada nela a escrever o blogue já era penoso. Eu, que tenho em casa cadeiras aparecidas de uma congregação que se desfez, decidi-me a trazer uma dessas para substituir esta. Que já foi para o lixo.





terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Cancela aí

#semfiltro

Rasgão inesperado

'Encontrei isto', anotei eu num dos papelinhos do meu bloquinho rudimentar. Era um papelinho rasgado a partir da lombada e sem chegar à extremidade oposta. A pessoa encontra sempre coisinhazinhas para espetar no blogue, né? Mas como raio é que o papelinho se rasgou?, questionou. Antes de se ter juntado aos outros, claro!, retorquiu.

É dia

Se fecho os olhos, o mundo gira, se os fecho também. De cinco em cinco minutos o sol brilha em outro ponto, quer feche os olhos, quer não. O dia hoje está longe de soalheiro, já agora, mas é dia, ainda.

Presa por arames

Proximidade

A minha sogra quer doar-me um dos seus pertences. A questão não é ela querer doar-me seja lá o que for, aceito de bom grado toda e qualquer oferta sua, é antes porque o impulso aconteceu por presumir que morrerá brevemente.
Portanto é a sua última oferta.
Ó Gina, não te esqueças de levar aquilo.
Portanto fiz-me de desentendida.
Ó Gina quando é que levas aquilo?
Portanto vou arrastando.
Ó mulher, leva aquilo!
Ai. Ó pá, é que é complicado. Tudo bem que a morte está ali. Ali. sinto-a eu, sentimo-la todos. Mas ainda não se deu, e eu, aceitando levar coisas da casa da minha sogra como sendo uma herança, parece mesmo que ela morreu. E não.

Entretanto já dei início à demanda de levar 'aquilo'. É algo volumoso, pesado e variado em partes desiguais, que por partes desiguais será levado. Não demorará assim tanto tempo a concluir a demanda, uma vez que actualmente visito os meus sogros duas vezes por dia, de segunda a sexta, e ao sábado à noite e domingo de manhã. Se de cada vez que lá vou trouxer uma coisinha, não tarda tenho tudo instalado na minha casa.

Este assunto é delicado, não sei se os leitores terão percebido o alcance da questão, as duas faces, a corda-bamba. Gosto muito da minha sogra. Não é a minha mãe, não, mas assemelha-se-lhe em muito.
Bom, é provável que torne a este assunto, afinal a vida não terminou. Ainda.

O sutiã que foi para o lixo





É capaz de eu vir a parecer-vos uma enormíssima estouvada – olha-me' esta que vem par' aqui mostrar o sutiã, deve é querer que... – mas é mesmo importante registar o (este!) sutiã em imagem.
Um tempo depois de tirar a foto pus um filtrozinho aborrecido e delambido para não incendiar ninguém. Depois chateei-me dele e decidi que punha a foto crua, se ademais, com filtro ou sem ele, é um sutiã e pronto. Não obstante, considerei que a foto filtrada ganhou melhoras, é bem mais bonita. Porém e todavia, mostro a foto crua para memória futura.







Então e vai-se a ver esta conversa toda de sutiã para aqui e ali é por quê? Porque esta peça:
… viajou comigo milhares de quilómetros.
… treinou comigo milhares de minutos.
… passou comigo milhares de horas.

Lisboa, Lisboa

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Os filtros do Snapchat, o que me suscitam?


Olá, bem-vindos a mais um filtro.






Sobrancelhazinha mai linda da mamã! Parece a direita mas é a esquerda. Esta porra dos filtros do Snapchat faz de espelho.






Há coisas destas - filtros, macacadas & merdices – tão boas mas tão boas que até se vê reflexo nas lentes. Que não é o real, qual quê. Inventam tudo. Pois.





Pronto, o contorno de lábios podia parecer uma coisa fluente e tal, escorreita e isso, mas eu não faria melhor. E, ademais, o que melhor para tapar as olheiras do que pintar negro por sobre elas, né?





Não vale a pena a cara feia e o desejo expresso, afinal as pessoas bazam antes de os verem.





Não entendi a conjuntura... Anos '20...?





Meio olho daqui
Face cortada dali
Salva pelo meio






Um cabelo desengraçado não impede dólares de cair em cima da minha cabeça. Homessa! Cabéça! ... Hum... Não sei se são dólares, mas andemos!






Promoções do piorio. Devo arranjar tantos amigos com estas carufas mai lindas! O que vale é que ninguém vem ralhar por conta de as imagens não terem a mesma altura.





Promoção da irreverência infantil. A mim faz-me lembrar o Pimentinha. Daquele filme do Pimentinha. É claro que só as sardas se assemelham, e que ténues são!, mas pronto.





Ó Gin' ó ovo!



Escritos dos bichos-gato (sim, afinal ganhei coragem para os mostrar)


Quando agrupei os posts onde apontei considerações acerca da minha relação com os bichos-gato
- assunto de que já falei aqui e que hoje dou continuação porque tenho coisinhazinhas a registar, porque… tcharan!, ganhei coragem de os mostrar!, iei! -
e os reli, percebi que ia ter que rever os textos. Caramba, como é diferente mandar as minhas coisinhazinhas para a blogosfera (e quem quiser que aprenda e apreenda e se não quiser paciência) ante compor textos para serem lidos e entendidos por uma pessoa em particular. Comecei por retirar a informação que considerei desnecessária. Continuei por retirar expressões que só cabem mesmo é no blogue. E pronto, lá veio aquela questão diminuta abafar a minha existência:
ai ó pá eu não sei nada disto de escrever e coiso ai ai
Olhem, deixo o documento como o apresentei, porque quero, obviamente, deixar isso escrito no blogue, e acabou a conversa.




::::15 de dezembro de 2017
Pois que não custou nada, não senhores. Ao princípio, o Kildo não me largou as bainhas das calças, e miau e miau e miau, acho que queira biscoitos, mas eu: «nada disso 'migo». Não muito tempo depois, considerou que eu fazia muito banzé e bazou. Já a Karen, pois que, não fosse eu assustar-me (mas menos do que ela estava com a minha presença no seu lar e lugar, quero eu crer) não descansei enquanto não soube exatamente onde é que ela estava. Encontrei-a debaixo da cama, tendo já o tapete arrastado para lá também. Descansei, «ai é aí que a 'miga está?, então está bem.» Em certa altura, não soube do paradeiro de nenhum deles, mas como não tinha tanto tempo assim, andei na minha vidinha até que, ó pá, não é que fui dar com dois enchumaços por baixo do edredão?! Era lá que estavam quando me vim embora. Quero dizer: foi lá que os deixei.

::::22 de dezembro de 2017
E os bichos-gato?, que tal? Bem, muito bem, mais afoitos. Kildo já não fugiu ao primeiro arranque do aspirador, para ali ficou, olhando para mim do cimo de uma cadeira, até se fartar. Karen, por sua vez, fugiu, ainda, mas não tão sorrateiramente quanto da última vez, ainda deu para vê-la corredor afora. Claro que o facto de todas as portas da casa estarem fechadas (à conta de seu irmão de sangue e barriga ser atraído por janelas abertas, que o bicho-gato quer é enfiar-se) não lhe deu outra saída... Não havia entradas, quero eu dizer, de maneiras que teve que voltar ao esconderijo, que desta vez consistiu na parte de trás do móvel da sala. Deu até para ouvir um silvo, creio que a bicha-gata desligou a box da senhora, mas pronto, já sei que está habituada, quem melhor do que ela para conhecer os seus bichos-gato, né? Outra coisa que ocorreu foi Kildo jogar-se a um saco de plástico que eu levara para meter desperdícios. Trincou-o. Mas ainda fui a tempo. Caramba, é preciso ter cá uns olhos para bichos-gato nada esquisitos com texturas ou sabores...
E os sustos? Foram dois, um ai! para cada um dos bichos-gato.
Não é que eu ande com o coração acelerado, não me amedrontam nada, que é lá isso, mas não estava a contar encontrar a Karen entalada entre duas prateleiras do móvel da sala, ai!, nem com o Kildo no topo do mesmo, debruçado e interessadíssimo em ver-me, senti que estava a ser observada, e estava, ai! Resta dizer que deixei Karen debaixo da cama e Kildo de volta do lanche.

::::29 de dezembro de 2017
Hoje os bichos-gato não quiseram saber de mim para nada. Quero dizer: Kildo, o extrovertido, logo ao início ficou, uma vez mais, interessadíssimo no conteúdo do balde. Creio, porque quero crer, que o interesse se deveu a um perfume diferente que adicionei à água. Pouco depois lá estava ele, debaixo da mesa da sala, mas em cima de uma cadeira, sentadinho, rabo tapando as patas dianteiras, como é comum na raça, mirando eu de um lado para o outro. Pus-me nas cenas do costume e, a dada altura, ouvindo o arrastar da porta da cozinha, Kildo correu com destino à varanda. Não deixei que lá chegasse, claro, e ele já não largou a soleira da porta, cheirando a fresta uma vez e outra, até que se sentou à espera que eu me descuidasse. Já Karen, essa sim, se debaixo do edredão estava quando cheguei, debaixo do edredão se manteve enquanto por lá cirandei. Mas eu gosto de a ver, tanto gosto que a espreitei: «olá Karen, estás aqui?, ah tu estás aqui...» É linda, a bicha-gata, clarinha em pêlo e olhos, pena não se deixar ver tanto como o seu mano, já a senhora diz e digo eu também. A propósito de dizer, enquanto lá estou, digo bué coisas aos bichos-gato com a certeza de que não me entendem, mas não faz mal, eles gostam de mim na mesma.

::::4 de janeiro de 2018
Karen?, é que nem a vi, hoje foi dia em que me resolvi a não importunar a bicha-gata. 
Kildo?, ah, Kildo, hoje foi dia de grande movimentação, presumo que pela diferença horária, já que a coisa se deu de manhãzinha e o sol na cozinha atraía o bicho-gato.
Se eu fosse Karen, dizia-me: eh pá, ó Gina, desopila mas é daqui.
Se eu fosse Kildo, dizia-me: eh pá, ó Gina, deixa-me entrar, vá lá.

::::18 de janeiro de 2018
Arranjei duas modas novas.
Moda 1:
Deixo Kildo fechado na cozinha se quero arejar os quartos. Pois. A cozinha é o lugar mais apreciado pelo bicho-gato, tem solinho, tem comidinha, tem areinha... de maneiras que, mal ouve o som da porta a arrastar, aí vem ele, atraído. Eu, pessoa esquemática pra caraças, uso então esse esquema – quero abrir janelas?, abro a porta da varanda um pouquinho, só até ao momento de fazer o som revelador, e pumba, aí vem ele, qual flecha. O problema é quando quero fazer o contrário, portanto vem aí a:
Moda 2:
Se quero manter a porta da varanda aberta e o bicho-gato de lá não parece querer sair, eis que lhe meto as mãos, levantando-o no ar e colocando-o onde acho que sim. Ele faz miau e miau e miau e eu vou falando «ca foi migo?» e «tem que ser Kildo, agora não podes ficar aqui.» Bem sei que a gente os dois afinal até não se entende, mas porra, o bicho-gato não fala português, eu não falo gatês!, de maneiras que coiso.
Entretanto, hoje, tendo eu que subir (parece que estou a fazer uma redação da quarta classe...) à sapateira para retirar as janelas (tenho nove anos, 'migos...), achei que era uma menina muito mais bem-comportada se me descalçasse para sujar o menos possível. Assim, fiz. Kildo interessou-se imediatamente pelos atacadores dos ténis. Continuei nos meus costumes enquanto o ia espiando, convencida que o interesse dele não surtiria dano meu. Enganei-me. E não é que me roeu uma das extremidades de um atacador? Pois foi. Já Karen, a bicha-gata, continua a confirmar a sua presença através do vulto por baixo da colcha, e continuo eu a querer vê-la desprotegida, para tal, o que faço é levantar a colcha e dizer-lhe olá e olá e olá. Aqui já não se trata de português ou gatês, mas sim de me fazer notada. Só que a bicha não curte nada que me evidencie, foge para a outra ponta da casa. O mais longe possível de mim, portanto.

::::2 de fevereiro de 2018
Com o passar deste tempo de convívio com os bichos-gato, Kildo tomou-me como visita simpática e habitual e começou a receber-me com miaus. Dias há em que, inclusive, levanta as patinhas a pedir colo... que não dou. Contudo, Karen, nada de melhoras ou diferenças em si há, tampouco dá mostras de algum dia se mudar da postura-susto, continua a encolher-se todinha às minhas investidas. Ontem fui dar com ela dentro de uma casinha de gatos que, vejam lá, encontrei pela sala, envolta em plástico, o que significa que fazia parte do rol de coisas que os dois tinham retirado de dentro do roupeiro de muitas portas, três das quais haviam conseguido abrir, daí o rol espalhado pela sala. Enumero:
6 pacotes de lenços, dos quais: 2 completamente despedaçados e 4 com o invólucro dentado
1 amostra de comidinha para gato, esgatanhada (é um termo que fica aqui que nem gatos estroinas) e encetada, pois claro
5 sacos de compras, calma... vazios
1 peça de roupa
1 casinha de gato, a tal casinha de que já falei acima

::::22 de fevereiro de 2018
Nos últimos tempos, Karen tem passado as tardes em cima do armário da cozinha e Kildo tem andado mais atrás dos meus passos do que na sua vidinha solitária de bicho-gato detentor do pedaço. Kildo não é assim, digo isso de ser mandão do lugar, não, e Karen só quer que a deixem estar. Mas eu, com a mania que sei lidar com a bicharada, desde que não se mostre feroz, como é o caso, tenho andado a ver se a conquisto. Hoje lá andei eu, de roda da bicha-gata com olás! e pi-pi-pus! E consegui reação, ah pois consegui, que ela estendeu o focinhito para me cheirar. Estamos, as duas, quase lá, 'migos, ai estamos, estamos.

::::5 de abril de 2018
Nunca mais vim para aqui falar dos bichos-gato. Nem sei se já vos contei que Karen curte, na maioria das vezes, empoleirar-se no armário da cozinha, junto ao tubo do esquentador. Se ponho o aspirador a funcionar, ela introduz a cabeça no buraco da chaminé, quando o desligo retira-a. Mostra-me uns olhos tão assustados que eu própria quase tenho medo dela. É um misto de medo com pena. Dá-me pena a bichinha ter medo de mim. Entretanto, olhem, uma vez fiz um vídeo com eles. Kildo, que já se sabe como é, contracenou comigo maravilhosamente, cantei-lhe, falei-lhe, acariciei-o muito, brincámos. A dada altura queria enfiar-se no buraco do aspirador, isto foi vez primeira, já para não dizer que fez outra vez a figura de quem queria meter-se dentro do balde, quando cheio de água, e andou atrás da esfregona, como se um brinquedo fosse. Contracenar com Karen é que foi difícil. Ela no cimo do armário, eu a chegar-me a ela por meio do escadote, ela com o susto nos olhos, eu a fazer-lhe festinhas, ela a encolher-se ligeiramente, eu a falar, ela calada. Tudo coisinhas que andámos a fazer nas últimas semanas, como há semanas que nem um nem outro figuravam no blogue.

::::27 de abril de 2018
Sonhei que a dona dos bichos-gato me pedia: ó Gina, deixe comida no pratinho deles, está bem?

::::14 de maio de 2018
Um destes dias, Karen usou como apoio o cimo do móvel da sala. Estranhei: «ah, tu estás aí? ca passa 'miga? já não curtes o armário da cozinha? é bom a gente variar, né?», que tenho jeito para falar com quem jamais falará. Como lhe dei atenção, que ela julgou demasiada, a bicha-gata começou a querer mudar de pousada e, para tal, enfiou o corpo no espaço entre o móvel e a parede, ficando de cabeça para baixo. Comecei por admirar as suas flexibilidade e força, uma vez que se mantinha de modo a não escorregar por ali abaixo. Mas entretanto tornou-se evidente que ela queria memso era escorregar, pois escorregou até ao chão, as patas travando uma queda brusca. Admirei-a ainda mais. Ó pá ca xira! Quando se apanhou no chão foi enfiar-se na cama da dona, debaixo do edredão. Custa-me horrores ver que Karen tem medo de imi... ai perdão, mim. Mas tem e, olha!, paciência.

::::28 de junho de 2018
Encontrei a escova de dentes dentro da banheira. Kildo, Kildo, ai ai ai o menino... Mas se a porta estava fechada como conseguiste tu isto, pá?
Está-se a ver o maior horror que consigo encontrar na banheira, uma escova de dentes.
Karen está tão magrinha... Os olhos encovaram e tudo. Tem estado doente, a pobre, a doentinha. A doente.

::::29 de julho de 2018
De uns gatos que vi por aí, fiz comparações:
Podia ser Karen, toda feminina, em cores disso, vá, em postura falsamente altiva.
Mas não é.
Podia ser kildo, o que anda molengão, espojado aqui e ali.
Mas não é.

::::15 de agosto de 2018
Sempre quero ver como se esconderá Karen na próxima vez. Desta última tinha o seu esconderijo predilecto vazio, tinha ido esconder-se atrás do móvel da sala. Entretanto reparei que no quarto já não há tapetes. Dão cabo de tudo, estes bichos-gato.


::::16 de agosto de 2018
Karen tem mais pêlo, mas o que lhe nasce, nasce a escuro, tendo por ora o focinhito mais escurinho. E lá estava ela, no cimo do armário da cozinha, junto aos tubos do esquentador.
Kildo reavivou, já não é o molengão dos tempos... moles, vá. Sei lá o que lhe terá dado para quase se arrastar pela casa, mas regressou o mexido de si, segue-me para todo o lado, assim eu deixe.

::::9 de outubro de 2018
No passado fim-de-semana, no supermercado onde habitualmente abasteço o meu! frigorífico e a minha! despensa, havia um peditório para angariar comidinha para a bicharada desprotegida e obviamente faminta. Dantes, quando oferecia géneros a alguma instituição, era nos cães que centrava a atenção, deixando os gatos no esquecimento. Mas agora já não. E é graças a Kildo e a Karen, os gatos que visito semanalmente e acerca dos quais já várias vezes escrevi no blogue. O que mudou? Mudou muita coisa. Continuo fã de cães e não me considero na mesma situação amorosa em se tratando de gatos, mas quiçá este gosto me chegue da infância, uma vez que cresci com um cão por amigo e um gato que trocou o meu afecto pelo cio das gatas, abandonando o lar. E eis que (eu devia mudar de parágrafo mas não me apetece, às vezes gosto de ver um rectângulo cheio de letras) num repente, que foi mesmo de repente, me vi no corredor das comidas para animais, no lado dos gatos, escolhendo coisas boas e baratas para os pobres bichos.

::::11 de outubro de 2018
Tenho duas fantásticas questiúnculas, dois episódios, dois quês... duas diferenças, vá, acerca dos bichos-gato.
Aqui há dias, ao entrar em casa, ouvi um barulho diferente. Espreitei atrás do móvel da sala e lá estava ela, Karen. Ela e seu olhar assustado, contudo, altivo, mas também esperançado de eu não mexer muito na sua vida. Quando mexo na vida de Karen, é em poucochinho, o mais que faço, e que possa eventualmente perturbá-la um niquinho, é cumprimentá-la de longe. Só que este longe costuma ser o cimo do armário da cozinha e desta vez ela estava onde já referi. E por lá ficou durante todo o tempo de permanência desta que escreve, estranhamente. Em dada altura das minhas deambulações, ficou curiosa com a esfregona a-dar-a-dar e brincou com as franjas, esticando a patinha, tal e qual como o mano Kildo. Ó pá ca fofa!
Aqui há dias, quando o meu esquema estava naquela parte em que espero o chão da cozinha secar - porta da varanda abertinha, porta da cozinha fechadinha e tal, com Kildo do meu lado, que o malandreco não pode ir para a varanda porque é destravado - fui fazer outras coisas e mais não sei o quê, e comecei por ouvir uns sons muito altos e diferentes de tudo quanto já ouvira, tipo assim como se alguém batesse à porta. Os sons eram tão vigorosos que fui ver de onde vinham. Era então Mr. Kildo apoiado nas patas traseiras e dando empurrões com as patas dianteiras, daí aquela chinfrineira toda. Queria paparoca. Tódinho...
E pronto, era isto.
Mas há mais:
No mais das vezes, contudo, tem sido o de sempre – Kildo de roda de mim quando lhe desperto interesse, ou com momentos de repouso porque se farta de me seguir; Karen lá em cima, onde e com o olhar que já mencionei, ora encostada ao tubo do esquentador, ora espreitando interessadamente a pessoa que escreve neste blogue. E sempre, sempre sempre sempre, com aquele olhar.

::::18 de outubro de 2018
O que é um gato ajudantil?
É um gato juvenil que ajuda.

::::18 de dezembro de 2018
Kildo tem uma relação amor-ódio com o novo aspirador. Pareces uma pessoa, Kildo - disse-lhe eu em voz – as pessoas é que sentem essas dualidades.
Nesse dia o bicho-gato andava doido, correndo por pequenas distâncias, da cozinha para o sofá da sala, daí para o quarto, de lá para a cozinha.
Eia pá, ca ganda maluco que tu estás hoje, ó Kildo! - exclamei eu em voz.
Há vezes que é com prazer que dou vozes aos animais.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Festa é festa!




Post editado à conta de ter descoberto posteriormente que é o número 5555. E, por coisas da vida, coincidências e isso, verifiquei que lembro festa, quase fazendo festa, e sem me ter apercebido de tão pomposo número.

Papelinho

No papelinho estavam lembretes dizendo-me que eu hoje teria que:

ir ao talho
levantar as análises
lavar os armários da cozinha
lavar o micro-ondas
lavar o frigorífico
limpar a despensa
lavar as portas da cozinha e da sala



fiz  / não





Azedar

Para fazer as trufas (leia-se bolinhas fit) lembrei-me de um resto de castanhas que tinha num frasco com brandy. Comprei-as já assim e, no dia em que encetei o frasco, e nuns outros a seguir, o pitéu estava extraordinário. Contudo, hoje, antes de adicionar as castanhas aos alperces, comi uma porque sim, não para provar, não por estar faminta, nada disso, e estava azeda. Eu até tinha estranhado o poc! do frasco ao abrir, mas nunca pensei que um produto destes, que afinal é de conserva, fosse azedar. É que picava na língua que eu sei lá. 

Armários

Estive a lavar armários na cozinha. Fingi que não são meus para lavar com pujante empenho. Não cheguei a chegar ao fingido mas não andei longe. Deixei-os a secar e vim fazer cócegas no blogue.

O poster da portinhola espelhada. Entretando decidira que publicava a imagem virgem, baralhei os dedos e troquei os cliques. Sendo assim, já que, quer publique ou então não, ocupa espaço ao blogue, fica à vista.



Espaços a branco e espaços a preto. Tentei equilibrar a escolha das cores. Primeiro a imagem virgem (com espaços a branco), segundos a imagem filtrada (com espaços a branco e espaços a preto). Tentei usar de primor nos riscos mas saiu irregular.




quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Ó Gina, tu leste?

Sim, tenho lido. Não obstante, não o bastante, que não sou de me exceder em leituras, antes me excedo na tentativa disso. Comecei outra leitura - Comam Bolos!, de Jeanne Ray – logo a seguir ao episódio que contei neste post. É aliás uma releitura, sendo que da vez primeira até esta parte correu para aí década e meia. Sei-o porque aquando da publicação corria o ano 2003. Penso que já falei no blogue acerca deste livrinho, que é uma publicação da Seleções do Reader's Digest e que vem em conjunto com outros três e à qual chamam de 'livros condensados' e blás, não sabendo eu se resumiram as histórias, mas supondo que sim, quem sabe o 'condensados' seja subterfúgio para 'resumidos'.
Bom.
Então.
Quando li este livro percebi que há um mistério qualquer na preparação de um bolo, talvez o convívio que daí advém - não se faz bolos para uma só pessoa, ainda que actualmente haja para aí montes de ideias a pensar no pessoal que se encontra sozinho, como, por exemplo, o famoso 'bolo de caneca' – e quis relê-lo para perceber se a opinião e o sentimento que se me pôs será o mesmíssimo, o que perceberei nos próximos tempos. Deixo pedacinho logo ao começo da história, que não está lá muito nítido, mas pronto, é o que há.




Cliente

Descrição de trabalho agendado:
22/01 - Vou trabalhar na casa de uma senhora da qual desconheço a morada
25/01 - Vou trabalhar na casa de uma senhora da qual desconheço a morada mas conheço o contacto alfanumérico, 96tugppeg

Post com título

Verdade:
estamos todos aqui e isto é bom.
Absolutamente:
estamos todos aqui e isto é bom.

Cliente

Oh, you make keys?
Perfect!
Ok, I will come.

A minha mãe

Quando me atendeu o telefone, a minha mãe andava de vassoura na mão – imagino que com a cadeira de rojo, não fosse faltar-lhe força para se manter de pé – procurando um comprimido pequerrucho, que ela classificou como safadiço. 'Eu deixava-me disto, mas então estes comprimidos são tão caros, filha!', justificou. Aceitei tudo: a incapacidade e o empenho dela, o nosso desgaste emocional e a distância a que estamos.

As imagens dos outros, o que me suscitam?

Era uma gravura que havia no quarto da criança e que me lembrou esta imagem. Por a menina estar quase na lateral, a outra menina estava mesmo na lateral, por não se lhe ver a cara, por ter chapéu. Já o cenário, tenho ideia que não diferia em muito, flores e relva, só não me parece que houvesse vento na roupa da menina. O vestido era cortado abaixo do peito, parecendo que a menina tinha uma barriguinha, e o chapéu, não era bem bem bem bem um chapéu, era assim como que uma touca com pala, atada por baixo do queixo. Julgo, ainda, que a gravura do quarto da criança não tinha cores, lembro mais contornos do que cores e demarcações.






A imagem abaixo lembrou-me de uma resposta que dei à minha mãe quando tinha cinco anos. Ela tinha-me perguntado se eu gostava dela (era comum ouvir esta pergunta na minha infância) e eu, para fazer a coisa em grande, respondi que gostava dela como daqui até Moçambique. Na altura o meu estava lá em trabalho, de maneiras que essa era a maior distância que eu conhecia. Acho até que ainda hoje é.







Que ternura. Que respeito. Que querer. Saber.







Julgo que uma feira na Provença se assemelha a isto. Simpatia, bons modos, variedade de produtos e boa apresentação.







Lembro-me de, quando comecei a coser à máquina, quão desesperada ficava se a linha se encravava uma vez e outra e uma vez e outra e uma vez e outra.







Tenho montes de coisinhas para coser, tenho... E nem gosto de chá por aí além, eu cá é mais café. Se cosesse tudo o que tenho para coser, ia ficar tão ocupada que nem haveria tempo para café.








O reparo que faço é: Olha! Os óculos dela são vermelhos! Como os meus!







Verdíssimo: o que anda sempre comigo.
Vermelhão: o que anda comigo em certas circunstâncias.







Segura-me, que te vou morder!







É à escolha do freguês!



terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Post da avenida

Andavam a limpar os recortes floridos. No mesmo instante avistei duas porteiras conhecidas e cumprimentei-as. Uma mostrou-me um sorriso genuíno, de gengivas com falta de dentes, o que me levou a pensar que um sorriso desdentado, num adulto, remete à lactância. Outra mostrou-me um sorriso em poucochinho, como se não me tivesse reconhecido mas não querendo parecer mal-educada. Os recortes floridos têm umas flores roxas e outras brancas. São umas bolas de onde desabrocham muitos caules com as pétalas em suas extremidades. É assim, tudo muito poético.

Vidinha largueirona

Por vezes aponto tópicos para futuras coisinhazinhas às quais não dou, afinal, destino, porque deixo de lembrar o ponto exacto que queria desenvolver. É o caso da 'vidinha largueirona' que está no título. Pois que sei lá eu o quê ou como...
Bom.
Então.
Porém, conheço o balanço que queria dar à vidinha em termos de me estar a parecer largueirona, era algo como mostrar que nela tudo cabe, no sentido de tanto me faz se é coisa boa ou má, pois que afinal tudo se transforma para melhor ou para pior. Já o desenvolvimento da ideia e em que é que a iria apoiar é que não sei, que não malembra, como disse acima. Ah, e sim, bem sei que acabei por arranjar um assuntozinho para a vidinha largueirona. 

É para riscar


Tinha idealizado tirar uma fotografia, leia-se selfie, tendo por cenário o portão onde o meu pai apontou aquilo que são, para si, efemérides, as quais, para quantos, serão acontecimentos longe de merecerem tão ditoso registo. Mas, quando lá cheguei, recordei que o portão já não está escrito. Na minha cabeça foi ficando que o portão do quintal dos meus pais tem os tais registos, só que agora já não. Não me lembro por quê, nem me tenho lembrado de perguntar a quem sabe. Nessa fotografia ia riscar a minha cara porque estava nessa disposição. Já tinha até escolhido a cor, que seria amarelada. Antes tinha estado a pensar qual a cor que ia buscar, isto num repente, para desenhar o Alentejo. Pensei logo no azul, o do céu, um céu visto à luz do dia, sem nuvens, mas de Inverno... Pois é, cedi ao fácil, a escolha desceu por sugestão das circunstâncias, o dia estava soalheiro e estávamos no Inverno. Hum, ná. Então, livrei-me de conceitos e escolhi o amarelo envelhecido. Há poucas coisas tão detentoras do carisma do Alentejo como um campo amarelo envelhecido pelo sol. Então, para finalizar este assunto, abuso da única selfie que tirei nesse dia e risco-me com amarelo.




Pequeno-almoço

O chá foi de camomila, colhida no Egipto. Pelo menos é o que diz o pacote.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A mulher dos passos


Ora acontece que andei por aí, outra vez, mas sem dar tantos passos quanto da outra vez e apenas a volta merece exposição.


tirada a caminho da volta; #semfiltro

Tinha visto um marco de estrada, branco, com uma inscrição que era uma linha com as extremidades a fazer de seta e ali pelo meio saía uma outra linha, que curvava e que tanto saía da linha recta como logo mais se lhe ligava novamente. Imagino que esse marco simboliza uma estrada onde certamente se vai dar a algum lugar, quer se vá num ou noutro sentido, e a linha curva diz que se pode sair e voltar a entrar. Imagino, i ma gi no. Deu-me preguiça de fotografar, pensei que encontraria mais alguns marcos destes ao longo do percurso e portanto mais oportunidades haveria. Não me enganei, encontrei um, mas estava quebrado no cimo e a inscrição encontrava-se incompleta, e, no seguimento, afinal, não encontrei mais nenhum. Antes disto tinha passado por uma paragem de autocarro e pus-me a ver se descodificava os placars, quem sabe algum dos números de carreiras me daria jeito para voltar ao estaminé. Não descodifiquei. Sei lá eu daquilo, há anos que não ando de autocarro da Carris! Há anos que não andava 'migos, não an da va. Mas vamos por partes. Deixei-me de merdas e decidi que iria a pé, afinal tinha tempo, só me faz é bem andar e mais não sei o quê. Quando já tinha alcançado a via onde me encontrei com os tais marcos, lindos e alvos que só visto, avisto um autocarro que no painel dizia 'Alameda'...
Alameda...?
Não, vá lá, a sério...
Alameda?!
Oh porra pá, é que é mesmo na mosca!
Bom, não daria para apanhar esse autocarro, bem sei, estávamos ambos entre paragens. Fui andando - e o autocarro também, e cada um no seu sentido, não sei se tinha dado para perceber –, comecei a pensar que se calhar era melhor alcançar a paragem a seguir e por lá ficar, esperando o próximo. Mas, lá chegada, não me apeteceu. Continuei. Atravessei uma rotunda ao estilo industrialó-lisbôó-movimento, onde o mais dos veículos são camiões e carros de carga. Para atravessar a rotunda, num dos semáforos foi fácil, pôs-se verde para os peões e lá fui eu, atravessando uma via onde já passei montada milhares de vezes, que não se duvide disso. O semáforo a seguir é um daqueles que só pára mediante o calque no botão, e que levou um ror de tempo para mudar de cor. Comecei a ficar impaciente, cansada. Gosto de andar, e não é pouco, mas se tiver que parar muito tempo, chateia-me. Finalmente o boneco vermelho cedeu ao verde e atravessei a larga via. Notei uma outra paragem onde o tal número de autocarro pararia. Vi que tinha três ou quatro pessoas esperando. Isso, aliado ao facto de já ter passado um bom quarto de hora, indicou-me que o próximo não tardaria. Estaquei, ainda indecisa. Fui ficando. Não demorou nada de tempo até ver lá ao fundo a familiar figura amarela e no painel o bom destino. Entrei, pedi o bilhete, paguei-o, sentei-me. Na paragem a seguir, aquela onde tinha indagado se esperaria ou então não, um homem segurava um carrinho de bebé.
Ó chefe, chegue à frente por causa do carrinho!
Entretanto já uma mulher, quiçá a mãe do bebé, tratara de confirmar que o motorista pararia mais à frente, por modo a haver espaço para lançar o degrau a que chamam piso rebaixado, ou lá que é. 
O senhor já sabe, o senhor já sabe!
Gritou ela para o homem do carrinho. Ao meu lado sentou-se uma mulher que logo lhe tocou o telemóvel.
Estou? Então foste buscar a menina? Ela está melhor? Pois, tem que tomar o antibiótico até o fim, senão volta tudo. Hã? Estou no autocarro, vou ao Líder (eu traduzo: é aquele supermercado com dois éles em seu nome, um no início, outro no fim). Quando saísse de lá ia-te ligar.
Bom, pelos vistos já não seria preciso...
A mulher saiu e, como companheira de assento, o acaso deu-me uma rapariga. Digo rapariga porque também esta falou ao telemóvel e notei-lhe a voz muito jovem. Era com a mãe que falava, desesperando por causa da indecisão sobre em que ponto de Lisboa se encontrariam.
Mas disseste que era na Alameda e agora dizes que é no Campo Grande! Afinal onde é que a gente se encontra?
Estava rouca, a voz falhou em vários pontos. Fungava. Pigarreava. Quando achei que estava no lugar da minha saída pedi licença  e ela respondeu em vozinha.
Eu também vou sair.
O tom era triste. Tão triste. Não cheguei a ver-lhe a expressão, não quis defrontar uma tristeza que não é a minha. Saí e dirigi-me para o estaminé, que não preciso defrontar. Às tantas era enfado, digo a tristeza da miúda, eu é que ponho tristeza em pessoas e situações. E coisas. Ora então muito boa noite.

Outono azul-guardanapo

O está-arrumado é muito bonito, sim senhoras e senhores, mas indica o não-há-trabalho. Pois.