segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Escritos dos bichos-gato (sim, afinal ganhei coragem para os mostrar)


Quando agrupei os posts onde apontei considerações acerca da minha relação com os bichos-gato
- assunto de que já falei aqui e que hoje dou continuação porque tenho coisinhazinhas a registar, porque… tcharan!, ganhei coragem de os mostrar!, iei! -
e os reli, percebi que ia ter que rever os textos. Caramba, como é diferente mandar as minhas coisinhazinhas para a blogosfera (e quem quiser que aprenda e apreenda e se não quiser paciência) ante compor textos para serem lidos e entendidos por uma pessoa em particular. Comecei por retirar a informação que considerei desnecessária. Continuei por retirar expressões que só cabem mesmo é no blogue. E pronto, lá veio aquela questão diminuta abafar a minha existência:
ai ó pá eu não sei nada disto de escrever e coiso ai ai
Olhem, deixo o documento como o apresentei, porque quero, obviamente, deixar isso escrito no blogue, e acabou a conversa.




::::15 de dezembro de 2017
Pois que não custou nada, não senhores. Ao princípio, o Kildo não me largou as bainhas das calças, e miau e miau e miau, acho que queira biscoitos, mas eu: «nada disso 'migo». Não muito tempo depois, considerou que eu fazia muito banzé e bazou. Já a Karen, pois que, não fosse eu assustar-me (mas menos do que ela estava com a minha presença no seu lar e lugar, quero eu crer) não descansei enquanto não soube exatamente onde é que ela estava. Encontrei-a debaixo da cama, tendo já o tapete arrastado para lá também. Descansei, «ai é aí que a 'miga está?, então está bem.» Em certa altura, não soube do paradeiro de nenhum deles, mas como não tinha tanto tempo assim, andei na minha vidinha até que, ó pá, não é que fui dar com dois enchumaços por baixo do edredão?! Era lá que estavam quando me vim embora. Quero dizer: foi lá que os deixei.

::::22 de dezembro de 2017
E os bichos-gato?, que tal? Bem, muito bem, mais afoitos. Kildo já não fugiu ao primeiro arranque do aspirador, para ali ficou, olhando para mim do cimo de uma cadeira, até se fartar. Karen, por sua vez, fugiu, ainda, mas não tão sorrateiramente quanto da última vez, ainda deu para vê-la corredor afora. Claro que o facto de todas as portas da casa estarem fechadas (à conta de seu irmão de sangue e barriga ser atraído por janelas abertas, que o bicho-gato quer é enfiar-se) não lhe deu outra saída... Não havia entradas, quero eu dizer, de maneiras que teve que voltar ao esconderijo, que desta vez consistiu na parte de trás do móvel da sala. Deu até para ouvir um silvo, creio que a bicha-gata desligou a box da senhora, mas pronto, já sei que está habituada, quem melhor do que ela para conhecer os seus bichos-gato, né? Outra coisa que ocorreu foi Kildo jogar-se a um saco de plástico que eu levara para meter desperdícios. Trincou-o. Mas ainda fui a tempo. Caramba, é preciso ter cá uns olhos para bichos-gato nada esquisitos com texturas ou sabores...
E os sustos? Foram dois, um ai! para cada um dos bichos-gato.
Não é que eu ande com o coração acelerado, não me amedrontam nada, que é lá isso, mas não estava a contar encontrar a Karen entalada entre duas prateleiras do móvel da sala, ai!, nem com o Kildo no topo do mesmo, debruçado e interessadíssimo em ver-me, senti que estava a ser observada, e estava, ai! Resta dizer que deixei Karen debaixo da cama e Kildo de volta do lanche.

::::29 de dezembro de 2017
Hoje os bichos-gato não quiseram saber de mim para nada. Quero dizer: Kildo, o extrovertido, logo ao início ficou, uma vez mais, interessadíssimo no conteúdo do balde. Creio, porque quero crer, que o interesse se deveu a um perfume diferente que adicionei à água. Pouco depois lá estava ele, debaixo da mesa da sala, mas em cima de uma cadeira, sentadinho, rabo tapando as patas dianteiras, como é comum na raça, mirando eu de um lado para o outro. Pus-me nas cenas do costume e, a dada altura, ouvindo o arrastar da porta da cozinha, Kildo correu com destino à varanda. Não deixei que lá chegasse, claro, e ele já não largou a soleira da porta, cheirando a fresta uma vez e outra, até que se sentou à espera que eu me descuidasse. Já Karen, essa sim, se debaixo do edredão estava quando cheguei, debaixo do edredão se manteve enquanto por lá cirandei. Mas eu gosto de a ver, tanto gosto que a espreitei: «olá Karen, estás aqui?, ah tu estás aqui...» É linda, a bicha-gata, clarinha em pêlo e olhos, pena não se deixar ver tanto como o seu mano, já a senhora diz e digo eu também. A propósito de dizer, enquanto lá estou, digo bué coisas aos bichos-gato com a certeza de que não me entendem, mas não faz mal, eles gostam de mim na mesma.

::::4 de janeiro de 2018
Karen?, é que nem a vi, hoje foi dia em que me resolvi a não importunar a bicha-gata. 
Kildo?, ah, Kildo, hoje foi dia de grande movimentação, presumo que pela diferença horária, já que a coisa se deu de manhãzinha e o sol na cozinha atraía o bicho-gato.
Se eu fosse Karen, dizia-me: eh pá, ó Gina, desopila mas é daqui.
Se eu fosse Kildo, dizia-me: eh pá, ó Gina, deixa-me entrar, vá lá.

::::18 de janeiro de 2018
Arranjei duas modas novas.
Moda 1:
Deixo Kildo fechado na cozinha se quero arejar os quartos. Pois. A cozinha é o lugar mais apreciado pelo bicho-gato, tem solinho, tem comidinha, tem areinha... de maneiras que, mal ouve o som da porta a arrastar, aí vem ele, atraído. Eu, pessoa esquemática pra caraças, uso então esse esquema – quero abrir janelas?, abro a porta da varanda um pouquinho, só até ao momento de fazer o som revelador, e pumba, aí vem ele, qual flecha. O problema é quando quero fazer o contrário, portanto vem aí a:
Moda 2:
Se quero manter a porta da varanda aberta e o bicho-gato de lá não parece querer sair, eis que lhe meto as mãos, levantando-o no ar e colocando-o onde acho que sim. Ele faz miau e miau e miau e eu vou falando «ca foi migo?» e «tem que ser Kildo, agora não podes ficar aqui.» Bem sei que a gente os dois afinal até não se entende, mas porra, o bicho-gato não fala português, eu não falo gatês!, de maneiras que coiso.
Entretanto, hoje, tendo eu que subir (parece que estou a fazer uma redação da quarta classe...) à sapateira para retirar as janelas (tenho nove anos, 'migos...), achei que era uma menina muito mais bem-comportada se me descalçasse para sujar o menos possível. Assim, fiz. Kildo interessou-se imediatamente pelos atacadores dos ténis. Continuei nos meus costumes enquanto o ia espiando, convencida que o interesse dele não surtiria dano meu. Enganei-me. E não é que me roeu uma das extremidades de um atacador? Pois foi. Já Karen, a bicha-gata, continua a confirmar a sua presença através do vulto por baixo da colcha, e continuo eu a querer vê-la desprotegida, para tal, o que faço é levantar a colcha e dizer-lhe olá e olá e olá. Aqui já não se trata de português ou gatês, mas sim de me fazer notada. Só que a bicha não curte nada que me evidencie, foge para a outra ponta da casa. O mais longe possível de mim, portanto.

::::2 de fevereiro de 2018
Com o passar deste tempo de convívio com os bichos-gato, Kildo tomou-me como visita simpática e habitual e começou a receber-me com miaus. Dias há em que, inclusive, levanta as patinhas a pedir colo... que não dou. Contudo, Karen, nada de melhoras ou diferenças em si há, tampouco dá mostras de algum dia se mudar da postura-susto, continua a encolher-se todinha às minhas investidas. Ontem fui dar com ela dentro de uma casinha de gatos que, vejam lá, encontrei pela sala, envolta em plástico, o que significa que fazia parte do rol de coisas que os dois tinham retirado de dentro do roupeiro de muitas portas, três das quais haviam conseguido abrir, daí o rol espalhado pela sala. Enumero:
6 pacotes de lenços, dos quais: 2 completamente despedaçados e 4 com o invólucro dentado
1 amostra de comidinha para gato, esgatanhada (é um termo que fica aqui que nem gatos estroinas) e encetada, pois claro
5 sacos de compras, calma... vazios
1 peça de roupa
1 casinha de gato, a tal casinha de que já falei acima

::::22 de fevereiro de 2018
Nos últimos tempos, Karen tem passado as tardes em cima do armário da cozinha e Kildo tem andado mais atrás dos meus passos do que na sua vidinha solitária de bicho-gato detentor do pedaço. Kildo não é assim, digo isso de ser mandão do lugar, não, e Karen só quer que a deixem estar. Mas eu, com a mania que sei lidar com a bicharada, desde que não se mostre feroz, como é o caso, tenho andado a ver se a conquisto. Hoje lá andei eu, de roda da bicha-gata com olás! e pi-pi-pus! E consegui reação, ah pois consegui, que ela estendeu o focinhito para me cheirar. Estamos, as duas, quase lá, 'migos, ai estamos, estamos.

::::5 de abril de 2018
Nunca mais vim para aqui falar dos bichos-gato. Nem sei se já vos contei que Karen curte, na maioria das vezes, empoleirar-se no armário da cozinha, junto ao tubo do esquentador. Se ponho o aspirador a funcionar, ela introduz a cabeça no buraco da chaminé, quando o desligo retira-a. Mostra-me uns olhos tão assustados que eu própria quase tenho medo dela. É um misto de medo com pena. Dá-me pena a bichinha ter medo de mim. Entretanto, olhem, uma vez fiz um vídeo com eles. Kildo, que já se sabe como é, contracenou comigo maravilhosamente, cantei-lhe, falei-lhe, acariciei-o muito, brincámos. A dada altura queria enfiar-se no buraco do aspirador, isto foi vez primeira, já para não dizer que fez outra vez a figura de quem queria meter-se dentro do balde, quando cheio de água, e andou atrás da esfregona, como se um brinquedo fosse. Contracenar com Karen é que foi difícil. Ela no cimo do armário, eu a chegar-me a ela por meio do escadote, ela com o susto nos olhos, eu a fazer-lhe festinhas, ela a encolher-se ligeiramente, eu a falar, ela calada. Tudo coisinhas que andámos a fazer nas últimas semanas, como há semanas que nem um nem outro figuravam no blogue.

::::27 de abril de 2018
Sonhei que a dona dos bichos-gato me pedia: ó Gina, deixe comida no pratinho deles, está bem?

::::14 de maio de 2018
Um destes dias, Karen usou como apoio o cimo do móvel da sala. Estranhei: «ah, tu estás aí? ca passa 'miga? já não curtes o armário da cozinha? é bom a gente variar, né?», que tenho jeito para falar com quem jamais falará. Como lhe dei atenção, que ela julgou demasiada, a bicha-gata começou a querer mudar de pousada e, para tal, enfiou o corpo no espaço entre o móvel e a parede, ficando de cabeça para baixo. Comecei por admirar as suas flexibilidade e força, uma vez que se mantinha de modo a não escorregar por ali abaixo. Mas entretanto tornou-se evidente que ela queria memso era escorregar, pois escorregou até ao chão, as patas travando uma queda brusca. Admirei-a ainda mais. Ó pá ca xira! Quando se apanhou no chão foi enfiar-se na cama da dona, debaixo do edredão. Custa-me horrores ver que Karen tem medo de imi... ai perdão, mim. Mas tem e, olha!, paciência.

::::28 de junho de 2018
Encontrei a escova de dentes dentro da banheira. Kildo, Kildo, ai ai ai o menino... Mas se a porta estava fechada como conseguiste tu isto, pá?
Está-se a ver o maior horror que consigo encontrar na banheira, uma escova de dentes.
Karen está tão magrinha... Os olhos encovaram e tudo. Tem estado doente, a pobre, a doentinha. A doente.

::::29 de julho de 2018
De uns gatos que vi por aí, fiz comparações:
Podia ser Karen, toda feminina, em cores disso, vá, em postura falsamente altiva.
Mas não é.
Podia ser kildo, o que anda molengão, espojado aqui e ali.
Mas não é.

::::15 de agosto de 2018
Sempre quero ver como se esconderá Karen na próxima vez. Desta última tinha o seu esconderijo predilecto vazio, tinha ido esconder-se atrás do móvel da sala. Entretanto reparei que no quarto já não há tapetes. Dão cabo de tudo, estes bichos-gato.


::::16 de agosto de 2018
Karen tem mais pêlo, mas o que lhe nasce, nasce a escuro, tendo por ora o focinhito mais escurinho. E lá estava ela, no cimo do armário da cozinha, junto aos tubos do esquentador.
Kildo reavivou, já não é o molengão dos tempos... moles, vá. Sei lá o que lhe terá dado para quase se arrastar pela casa, mas regressou o mexido de si, segue-me para todo o lado, assim eu deixe.

::::9 de outubro de 2018
No passado fim-de-semana, no supermercado onde habitualmente abasteço o meu! frigorífico e a minha! despensa, havia um peditório para angariar comidinha para a bicharada desprotegida e obviamente faminta. Dantes, quando oferecia géneros a alguma instituição, era nos cães que centrava a atenção, deixando os gatos no esquecimento. Mas agora já não. E é graças a Kildo e a Karen, os gatos que visito semanalmente e acerca dos quais já várias vezes escrevi no blogue. O que mudou? Mudou muita coisa. Continuo fã de cães e não me considero na mesma situação amorosa em se tratando de gatos, mas quiçá este gosto me chegue da infância, uma vez que cresci com um cão por amigo e um gato que trocou o meu afecto pelo cio das gatas, abandonando o lar. E eis que (eu devia mudar de parágrafo mas não me apetece, às vezes gosto de ver um rectângulo cheio de letras) num repente, que foi mesmo de repente, me vi no corredor das comidas para animais, no lado dos gatos, escolhendo coisas boas e baratas para os pobres bichos.

::::11 de outubro de 2018
Tenho duas fantásticas questiúnculas, dois episódios, dois quês... duas diferenças, vá, acerca dos bichos-gato.
Aqui há dias, ao entrar em casa, ouvi um barulho diferente. Espreitei atrás do móvel da sala e lá estava ela, Karen. Ela e seu olhar assustado, contudo, altivo, mas também esperançado de eu não mexer muito na sua vida. Quando mexo na vida de Karen, é em poucochinho, o mais que faço, e que possa eventualmente perturbá-la um niquinho, é cumprimentá-la de longe. Só que este longe costuma ser o cimo do armário da cozinha e desta vez ela estava onde já referi. E por lá ficou durante todo o tempo de permanência desta que escreve, estranhamente. Em dada altura das minhas deambulações, ficou curiosa com a esfregona a-dar-a-dar e brincou com as franjas, esticando a patinha, tal e qual como o mano Kildo. Ó pá ca fofa!
Aqui há dias, quando o meu esquema estava naquela parte em que espero o chão da cozinha secar - porta da varanda abertinha, porta da cozinha fechadinha e tal, com Kildo do meu lado, que o malandreco não pode ir para a varanda porque é destravado - fui fazer outras coisas e mais não sei o quê, e comecei por ouvir uns sons muito altos e diferentes de tudo quanto já ouvira, tipo assim como se alguém batesse à porta. Os sons eram tão vigorosos que fui ver de onde vinham. Era então Mr. Kildo apoiado nas patas traseiras e dando empurrões com as patas dianteiras, daí aquela chinfrineira toda. Queria paparoca. Tódinho...
E pronto, era isto.
Mas há mais:
No mais das vezes, contudo, tem sido o de sempre – Kildo de roda de mim quando lhe desperto interesse, ou com momentos de repouso porque se farta de me seguir; Karen lá em cima, onde e com o olhar que já mencionei, ora encostada ao tubo do esquentador, ora espreitando interessadamente a pessoa que escreve neste blogue. E sempre, sempre sempre sempre, com aquele olhar.

::::18 de outubro de 2018
O que é um gato ajudantil?
É um gato juvenil que ajuda.

::::18 de dezembro de 2018
Kildo tem uma relação amor-ódio com o novo aspirador. Pareces uma pessoa, Kildo - disse-lhe eu em voz – as pessoas é que sentem essas dualidades.
Nesse dia o bicho-gato andava doido, correndo por pequenas distâncias, da cozinha para o sofá da sala, daí para o quarto, de lá para a cozinha.
Eia pá, ca ganda maluco que tu estás hoje, ó Kildo! - exclamei eu em voz.
Há vezes que é com prazer que dou vozes aos animais.

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