Milena tinha fome e entrou numa pastelaria duma avenida lisboeta, aquela que tem três A's. Não gostou particularmente de nenhum dos bolos ou salgados à vista. Com os olhos baços de cansaço apelou ao funcionário:
– Hum, ora bem, tenho fome. Acha que estou no lugar certo?
Ele sorriu pela metade, balbuciando um sim praticamente inaudível e fingidor de amabilidade. Fez-lhe saber dos croissants, que ainda estão no ponto, deseja um... Milena apontou para um pão de deus pequeno e com boa cor.
– Será que já está seco? A esta hora, com este calor...
– Manda-se amornar.
Disse ele, ainda não refeito com a estranha forma de comunicar desta senhora, tão depressa se mostra intransigente como compreensiva. (...)
Milena pediu também uma água natural.
- Água natural, por favor, não água fresca. - Frisa. E senta-se à espera. O pedido é aviado e o homem ordenou a uma outra funcionária:
– Dê este pão e esta água àquela senhora, se faz favor.
Milena foi servida por uma mulher com ar de cozinheira, tinha uma touca encardida e um avental nodoso, e apresentou-se séria e muda. Pousou o pedido em cima da mesa e ao afastar-se comentou com o colega acerca das camionetas que ainda não passaram.
(Ainda não passaram, ainda não passaram, ainda não passaram.)
Havia um grande frenesim em volta desta passagem, o que espicaçou a curiosidade de Milena que se pôs a escutar, sem medos, a conversa dos dois. Ali ninguém a conhece, podia fazer figura de maluca à vontadinha. Ainda que estivesse com a atenção toda virada para eles não conseguia perceber nada que valesse o tempo despendido. Foi então que se lembrou do bloquinho rudimentar, escreveria outras casualidades, pouco importa o que escrever, tem de escrever e pronto. (...)
|3 agosto 2012|
|3 agosto 2012|
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