Sou uma má pessoa. Não tenho sequer bondade quanto mais aquela coisa filantrópica, ou lá que é, pronto, aquela coisa de espalhar o bem, aquela coisa benévola, branda. E alegre, muito alegre. Feliz. Quase me envergonho de ser assim se me comparo a quem faz voluntariado, a quem não pode ver um pedinte que logo lhe paga uma sopa, a quem não se importa de despejar a carteira no meio da rua e ficar sem ela, apresentando o discurso – benévolo, brando, lá está – 'ora, ao menos fiz o bem'. Quase me envergonho de ser assim, ruim, dura, incapaz de praticar o bem social. Sou o oposto. Vejo a mulher pequena e franzina junto à estação do Metro, pedindo esmola, e não comisero. A mulher aborrece-me, sinto-me intranquila por lhe passar rente, acho-a uma fraude. Como ela, há muitas, e muitos, são todos uma cambada de parasitas. Os pedintes, os que pedem, não me refiro aos pobres, refiro-me aos que estendem a mão a quem por eles passa, mais não são que parasitas.
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