sexta-feira, 27 de maio de 2016

Agenda

É sexta-feira à tardinha, deixo uma tarefa já agendada, segunda-feira entregarei a fatura ao senhor doutor do escritório. Hei-de subir três lanços de escada, a ver se conto os degraus, não quero esquecer. Dois lanços subidos, pararei no patamar e espreitarei o jardim com suas árvores de folhas roxas e bancos de jardim gastos e estátuas enferrujadas e quiosque que serve cafezinhos. Amalucarei aí, afirmo agora, fingindo que as minhas previsões são certeiras. É bom amalucar, ponto de interrogação perguntador, zero respostas. É muito bom. Sabes quando te alegras tanto que parece que o teu peito vai rebentar mas te apercebes que não te é permitido sentir nada, ponto de interrogação perguntador, zero respostas. Então é isso. Não é nada isso, ai, é assim: há a linha do equilíbrio, aquela que percorro, quer queira, quer não, pois por mais monótono que seja percorrê-la é aí que tenho que me manter e, por melhor que seja espreitar através duma janela de prédio, que ainda me surpreende, entreaberta por conta de arejar a escadaria e não para eu me surpreender e me deliciar quando em bicos de pés olho de lá o jardim. Pois é, por mais que seja um manifesto feliz, não me posso deter muito tempo aí, sob pena de amalucar.

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