terça-feira, 24 de maio de 2016

Lugar (que também pode ser) da musa

As cadeiras transparentes são mesmo transparentes. Mesmo, mesmo. Por entre elas pude ver um beijo fogoso e sôfrego dum par composto por gente jovem. Há algum tempo que a transparência daquelas cadeiras não deixava transparecer nada.

Entretanto vou mas é enumerar o estandarte que tenho em cima da mesa aquando da hora de abalar dali.

:::: O livro do momento - Estranha Ternura, Miriam Toews. Ainda não referi isto: comprei este livro em 10 de outubro de 2012, na estação de Metro da Alameda. De há uns anos para cá anoto a data e o local da compra do livro e também rubrico, fica tudo escarrapachado logo na primeira página, aquela que eu chamo de morta, porque acho que está, mas que não sei se toda a gente chama assim ou então não, e já agora preencho-a, quem sabe venha morta para o dono do livro lhe dar vida. Se é, então olha, eu dou.
:::: A carteira grande. Guardo aí tantas mas tantas coisas que guardo também a caneta que anda a uso, bem como a caneta que não anda a uso e que tenho de colocar junto ao caderno de memórias que habitualmente levo quando vou de férias mas ainda não coloquei a caneta e já tinha dito isso, não é. É.
:::: A caneta. Esta caneta é a caneta a que me refiro primeiramente no item anterior e acontece que no item anterior já eu debitei o que tinha a debitar acerca de.
:::: O bloquinho rudimentar. Ao momento o meu bloquinho rudimentar deixou os rudimentos do seu ser, que agora sou fina, uso umas folhas bonitas e recortadas com guilhotina. Um dia voltarei às minhas origens, e aqui a origem é ter um bloquinho de folhinhas rasgadas por mim, advindas de folhas A4 inutilizadas.
:::: A caixa dos óculos. Vazia. Ou por outra, com o paninho de limpar as dedadas e o pó e as lágrimas. As dedadas e as lágrimas são desta que escreve, o pó é que não.
:::: A chávena de café. Vazia. O pires. Sujo. A colher. Limpa. O pacote de açúcar. Intacto.

2 comentários:

  1. Também costumo fazer isso, escrever na 1ª página ou numa das 1ªs páginas a data e o local onde arranjei o livro (comecei a fazê-lo porque o meu pai o fazia e depois encontrava nessas 1ªs páginas a data e o nome do sítio e ficava a pensar no que estaria o meu pai a fazer ali, como seria o meu pai nessa altura)

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  2. É isso mesmo, Redonda. Dalguns livros recordo as circunstâncias em que os adquiri, mas são pouquíssimos. Acho até que as aquisições que registo no blogue são as únicas de que recordo pormenores. Isto porque escrevendo, memorizo.
    Seja lá como for tenho uma tendência enorme para datar, daí o costume.

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